Vamos falar de Dark?
Pode conter spoilers,
então se isso o incomoda termine de assistir e depois volte aqui.
As séries mais badaladas nos últimos três
anos certamente foram Dark, produção alemã da NetFlix e West
World da HBO.
Ambas trazem temas filosóficos e
religiosos no seus enredos. Dark usa uma apresentação mais sombria nas suas três
temporadas. Não haverá outra, já West World se perdeu completamente na terceira
e promete uma quarta, e está cada vez mais longe do aspecto filosófico /
religioso e se tornando mais uma série de ação. Mas nosso objetivo aqui não é
fazer crítica cinematográfica.
O que quero trazer são algumas condições
colocadas ao longo das três temporadas de Dark que tratam do que acontece em
nossas vidas. Até metade da última temporada o que vemos é quase uma certeza do
fatalismo de nossos destinos por mais que lutemos para muda-lo. Como se a nossa
história estivesse escrita de forma inexorável.
Sei que o tema é espinhoso, e como crente
reformado defendo a absoluta soberania de Deus sobre tudo, e que nada foge aos
seus planos, porém o fatalismo de ações de quase autômatos propalados pelo hipercalvinismo
de Cheung, não faz parte daquilo que creio. Nossas ações presentes serão a causa
das consequências que enfrentaremos a frente. Ontem ouvi uma palestra sobre
marketing multinível, coisa que corro dela, mas num determinado momento o
palestrante falou algo interessante. Hoje eu colho resultados de decisões que
tomei a cinco anos atrás.
Mas voltando a Dark o que move os
dois personagens principais, no final podemos afirmar que Jonas e Martha são de
fato os causadores e o fim de tudo agem primariamente por egoísmo, um quer
destruir tudo para terminar com o seu próprio sofrimento, enquanto ela quer preservar
tudo para que seu mundo sobreviva.[1] O paraíso de cada um nunca alcançado por seus esforços se transforma em amargura. No
fim ambos compreendem que para evitar tudo será necessário um ato de altruísmo
de ambos, de anulação e esvaziamento. Na série isso ocorre de maneira literal.
É bastante interessante como a
analogia das várias versões de Jonas e Martha nos mostram a complexidade do ser
humano e como agimos ao nos entregarmos a uma dessas vertentes totalmente, mas
quase sempre eivada de um certo egoísmo, gerado no amor e no ódio.
Existem outras tramas e outros
personagens com características bem peculiares também, mas nos concentrando nos
principais, antes que nos acusem de dar mais ênfase ao aspecto das decisões
humanas e suas consequências, mas sim elas de fato existem, o homem é plenamente
responsável por suas decisões, vamos a uma frase de Arthur Schopenhaeur,[2] que
apesar de o faze-lo por crenças distintas das bíblicas, representa bem uma
verdade das Escrituras: “O Homem é livre para fazer o que quer, mas não
para querer o que quer.”[3]
Schopenhauer acreditava que isso
ocorria em função de uma metafísica universal, porém a Bíblia nos ensina que
isso decorre da natureza decaída do homem.
O homem desde Adão[4] e
Eva está fadado a agir sob a influência maligna da carne putrefata pelo pecado.[5]
Claro que como ateu que era, Schopenhauer
não atribuía o condicionamento da vontade humana ao pecado, e claro que a série
também não, mas o que vemos é um desenrolar de eventos causados por ações absolutamente
humanas em minorar seu próprio sofrimento em tentar encontrar em sua própria
história a razão de ser da existência de tudo[6].
Tudo se resolve ao final como a anulação do eu de Jonas e Martha. Uma terceira
personagem, Claudia Tiedemann que também na busca de preservar sua filha os
mostra como resolver a questão do caos dimensional / temporal criado.
Um tanto confuso? Sim, mas o que
queremos destacar aqui são as seguintes verdades a luz da Palavra:
1. O homem é sim responsável por seus
atos;
2. Esses atos podem ter desdobramentos e
consequências por toda vida;
3. Apesar de não termos como voltar e
rever nossos atos, podemos sim tomar ações de correção e ou atenuação de seus
efeitos;
4. Nossa vontade estará sempre
condicionada a nossa natureza humana até que sejamos libertos pela Verdade;[7]
[1]
Para quem não está entendendo nada, a história em Dark viaja entre três mundos
em épocas diferentes, e Jonas e Martha são os personagens que conseguem
transitar entre as dimensões / tempo.
[2]
Filósofo alemão do século XVIII.
[3] SCHOPENHAEUR,
A., O Mundo como Vontade e Representação, 1819.
[4] Não
por acaso em determinados momentos do espaço / tempo da série Jonas e Martha são
chamados de Adam e Eva. Inclusive o pecado maior de Adam é o seu amor por Eva
que o faz agir incorretamente e o maior pecado de Eva é a busca por sua proeminência
e preservação.
[5]
Sugerimos a leitura desses posts mais antigos:
[6]
Antropocentrismo
[7]
Aqui é onde Dark diverge totalmente do ensino bíblico atribuindo a própria vontade
humana refazer a história.
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