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Os Evangelhos - A questão do Jejum (23)

 


Leia Mateus 9:14-17; Marcos 2:18-22; Lucas 5:33-39 

Temos aqui três textos nos evangelhos sinóticos quase iguais, apenas em Lucas, na terceira metáfora que Jesus utiliza, há um pequeno acréscimo, no mais o texto é quase que repetido integralmente entre eles. 

Como dito, Jesus usa algumas analogias para responder a um questionamento sobre a diferença de comportamento entre os religiosos da época, fariseus e até discípulos de João Barista, e os seguidores de Jesus. 

A pergunta é bem direta, porque aqueles jejuavam, deviam ser orientados a isso, e os discípulos de Jesus não. 

Primeiro vamos tentar entender o sentido do Jejum. 

No Antigo Testamento temos muita ênfase na prática do Jejum.  ( Lv 16.29, 32; 23.27-32; Nm 29.7 com Sl 35.13; Is 58.3, 5, 10). As epístolas do Novo Testamento comentam muito pouco a respeito (2 Co 6.5, 11.27; 1 Co 7.5).  

Nos evangelhos temos mais menções a respeito do jejum que orienta e auxilia a nossa atitude para com esta prática. O Jejum conforme apresentado está sempre acompanhado de oração (Jz 20.26-28; 2 Sm 12.16-17; Ne 1.4; Sl 35.13; Dn 9.3).  

Olhando Mateus 6.16-18: 

  1. Espera-se que os discípulos de Cristo cultivem a prática do jejum – vv. 16, 17 (cf. vv. 2-3, 5-6). 
  2. O jejum deve ter o propósito piedoso de agradar a Deus no lugar de buscar a admiração dos homens – vv. 16-18 
  3. Há uma recompensa divina para aqueles que cultivam tal prática – v. 18  

O segundo episódio narrado pelos evangelhos que nos fornece, também, princípios acerca do jejum se encontra em Mateus 9.14-17; Marcos 2.18-22 e Lucas 5.33-39. Os três trechos narram a mesma história e podemos perceber as seguintes orientações: 

  1. O jejum é praticado pelos discípulos na ausência física de Cristo, trazendo a ideia de dependência espiritual – Mt 9.15; Mc 2.20; 5.35  
  2. O jejum praticado pelo discípulo de Cristo não está preso a um ritualismo legalista, mas é fruto de uma atitude natural – vv. 36-39 (cf. Lc 18.12)  

Por fim, o livro de Atos ilustra para nós situações onde o jejum encontra espaço na comunidade cristã. Atos nos mostra que: 

  1. O jejum tem espaço no serviço cristão como atitude de devoção – At 13.2  
  2. O jejum tem espaço na definição de pessoas para o serviço de liderança cristã, como uma atitude de busca dependente pela orientação divina – At 13.2, 3; 14.23 

O Antigo Testamento nos orienta às situações em que o jejum pode ser praticado na vida de seu povo. Nunca o jejum foi visto e guardado em dia de festa, sempre estava relacionado com:  

  1. Confissão de pecado – 1 Sm 7.3-6; 1 Rs 21.27-29; Ne 9.1-3; Jl 2.12-13  
  2. Situações de profunda tristeza – Ne 1.1-4; Sl 35.13, 14  
  3. Busca pela orientação e ajuda divinas – Ed 8.21-23; 2 Cr 20.1-4  

Algumas atitudes erradas do povo de Israel para com o jejum foram criticadas pelos profetas, tais como:  

  1. O jejum como um modo automático de obter resposta de Deus – Is 58.3, 4  
  2. Um ritual sem vida – Jr 14.11, 12 

Portanto vemos que o Jejum faz parte da vida cristã, mas não pode ser encarado como um ritual apenas, e sim como um posicionamento sincero e profundo de dependência de Jesus e sempre acompanhado de orações. 

Sobre as analogias que Jesus faz não nos parece que haja nelas um ensinamento específico, apenas ele associa o Jejum com sua ausência, o que criaria uma maior necessidade de seus seguidores em buscar esse sentimento de proximidade com ele através da oração e do jejum, e as duas metáforas apresentadas reforçariam apenas a relação de causalidade já que eram duas coisas bem conhecidas e fáceis de entender para o público. 

O importante mesmo aqui é que Jejum não deve ser encarado como um ato de obrigação ou místico, mas assim como a oração deve fazer parte da vida do Cristão de forma constant

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