Não é de hoje brotam essas discussões em redes sociais, "um cristão pode ser de esquerda?" "e de direita?" Geralmente são discussões acaloradas nas quais é muito comum sobrarem clichês, interpretações enviesadas de textos bíblicos e infelizmente também sendo comum agressões verbais.
Antes de mais nada deixemos claro que na nossa forma de ver não existe Cristão com adjetivo, ou se é Cristão ou não se é. O uso de adjetivos à palavra cristão talvez só faça sentido para designar origem e quiçá grupos por afinidade em pontos doutrinários.
Mas voltemos ao dilema cristão x esquerda ou direita.
Acho que muitas das discussões se perdem por não definirem inicialmente seus conceitos, o que termina por gerar batalhas quixotescas onde o que se combate são meramente espantalhos. Muita energia é disperdiçada debatendo o que não foi dito e o que não foi pensado.
Então de uma forma bem simples e direta vamos inicialmente estabelecer o que estamos considerando aqui como cristão, como esquerda e como direita.
O que seria um cristão? Como faz parte de nossa proposta de vida, toda nossa visão é submetida a alguns pilares, e entre estes está a afirmação e certeza que a Bíblia é a única revelação do Deus único e soberano, fora dela não encontraremos nada que a contradiga e mude nossa cosmovisão cristã. Dito isso, podemos encontrar claramente em Atos 2 que os cristãos eram identificados principalmente por viverem uma vida conforme os preceitos ensinados por Jesus Cristo, os quais eram em essência o que Deus planejou para o homem quando o criou e exatamente o que está contido na Sua Palavra. Ou simplificando, cristão segue a Bíblia, e vive conforme seus preceitos e valores. Não há porque nenhum cristão seguir qualquer ideologia humana, embora conforme vivemos no mundo, e nos relacionamos com ele, precisamos submeter a cultura, a política, o entretenimento, a economia, e o que mais houver a esses valores.
O que é esquerda nos dias de hoje? Não vamos nós buscar essa definição na história de jacobinos e girondinos, vamos tentar pautar o conceito por algo mais presente e pertinente aos dias atuais. Quais são então as principais pautas do que se convenciona chamar esquerda nos dias atuais?
Por mais que alguns tergiversem, e assumamos aqui que esquerda é um grupo não necessariamente homogêneo, e não vamos esgotar todas as questões, questões que são abraçadas como ideologia de gênero, direito ao aborto de forma irrestrita, fim da propriedade privada, educação das crianças direcionada pelo estado e não pelos pais, um modelo de sociedade com fins de atingir o bem estar social pleno onde nenhum governo seja mais necessário, incluindo o teológico, aliás para a esquerda é essencial negar a Deus porque assim se negam igualmente os direitos e valores morais absolutos.
Para Karl Marx, um dos principais expoentes do socialismo, conforme esquerda, a necessidade de uma revolução, inclusive armada, para destruir tudo e reconstruir uma nova sociedade era necessária. E isso envolve:
Materialismo: Tudo é material, não havendo o sobrenatural. Por consequência, somente a vida econômica importa no socialismo.
Coletivismo social: A coletividade possui mais importância do que a vida de cada um considerada individualmente. A vida deixa de ser um direito natural inviolável.
Finalidade da sociedade política: A finalidade é alcançar uma sociedade sem classes, sem hierarquia, considerada uma injustiça em si mesma.
Numa abordagem mais delineada por Antonio Gramsci, a forma de atingir essa quebra da estrutura é opor: empregados contra patrões, homens contra mulheres, ricos contra pobres, negros contra brancos e homossexuais contra heterossexuais. Ou seja qualquer “briga” que seja útil a causa. A intenção é levar a sociedade ao caos, dividindo-a e causando o máximo de antagonismos. Enquanto Marx concentrou muito mais seus discursos nas questões econômicas, os ideólogos posteriores da esquerda perceberam que seria mais interessante deslocar o discurso para o identitarismo.
Quanto ao Estado, precisaria de mais poder político para forçar a sociedade em um molde ideológico, com normas arbitrárias. Tudo isso pode ser conferido nas afirmações de célebres socialistas e estão no Livro Negro do Comunismo.
Por mais que pesquisemos não encontraremos um nome de referência na esquerda que contradiga lutas como as citadas, pelo direito ao aborto, feminismo, transgenderismo, fim da propriedade privada ou a mesma submetida ao dirigismo estatal, ou fim da família como núcleo social.
Podem pesquisar um expoente da esquerda mundial que negue essas premissas, em contra partida desde antes ainda de Marx, existem documentos em profusão com a defesa das questões acima, talvez salvo a ideologia de gênero e o identitarismo de raças que são coisas mais recentes, aliás a esquerda mais raiz não tem muitos amores por homossexualidade e algumas etnias.
Então o que seria direita nos dias de hoje? Aqui temos algo bem mais difuso, já que pode ser desde um mero sentimento anti ideologia de esquerda, ou algumas delas, até ditaduras, em geral fascistas, o que as aproxima da esquerda.
Na verdade a direita em si nem existe como um bloco ideológico. Talvez a única coisa que una de certa forma uma direita mais consciente sejam a defesa aos direitos naturas, segundo John Locke, Vida, Liberdade e Propriedade, e todos devem ser plenos. Capitalismo e socialismo, ou como prefiro, dirigismo ou intervencionismo estatal, são questões bem mais difusas com linhas mais tênues para serem delimitadas. Pode incluir em alguns momentos algum intervencionismo estatal, e o incorporar algumas mudanças sociais, porém sempre de uma maneira orgânica e natural, nunca por uma revolução, e imposição aos demais grupos. A palavra LIBERDADE é uma questão muito cara aos que abraçam as ideias de direita que vão igualmente muito além das questões apenas econômicas.
É importante notar que para Marx a economia não era o ideal a atingir e sim uma das ferramentas para atingi-lo.
Passados esses conceito voltamos a tema desse post. Existe portanto uma falsa questão, ou seja, será que dizer que um cristão não pode ser de esquerda implica em dizer que ele será automaticamente de direita?
Ou ainda, a quem interessa vender a ideia que no espectro político existem diversos tons de esquerda, contra apenas um tom de direita, a extrema-direita. Aliás para quem estuda a coisa com mais afinco, a extrema-direita seria um anarco capitalismo, sem nenhum governo, o que também não se insere nos valores cristãos. Portanto o cristão irá encontrar seu lugar olhando, e vendo quais valores comungam com seus princípios a partir de uma cosmovisão bíblica. Um dos lados está totalmente certo? Existem apenas dois lados?
Respondo que não, mas o que podemos afirmar com toda a certeza é que um cristão deve ser um cristão, e que não há a menor possibilidade de coadunar os princípios bíblicos com aspectos básicos da esquerda que não permitem o direito a vida, o direito a liberdade e o direito a propriedade, todos eles estão colocados nas Escrituras e foram concedidos pelo próprio Deus a sua criação. Sim o pecado distorce isso, mas eles não deixam de existirem e terem sido dados aos homens pelo criador.
Não pretendia esgotar o tema, apenas fazer uma abordagem simples e objetiva, mas concluímos afirmando sem medo de errar, alguns valores de direita podem perfeitamente ser abraçados por um cristão, não todos, porém não conseguimos encontrar um valor do ideário de esquerda que possa ser abraçado por um cristão.
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