Leia 2ª Pedro 2
O apóstolo Pedro passa a exortar seus leitores a terem cuidado com o caráter, obras e consequências se derem espaço no ouvir a falsos profetas. O termo grego “αἵρεσις”pode ser traduzido por opção ou escolha, no contexto bíblico implica em se contrapor as doutrinas bíblicas, podia se referir a um grupo, seita, ou um conjunto de ideias e valores que causam disputas e dissensões no meio da Igreja.[1] Sem especificar qual exatamente era a contestação apresentada o apóstolo Pedro diz que eles estão renegando o “Soberano Senhor”. Aparentemente o ensino envolvia o incentivo a prática da imoralidade, tais práticas desonravam a Cristo e seu sacrifício pelo pecado.
Pedro porém alerta sobre a malícia desses falsos mestres ao mesmo tempo que a mão de Deus pesará sobre eles trazendo grande juízo. Cita a pena pesada sobre os anjos[2] que se rebelaram e lista os casos do dilúvio e de Sodoma e Gomorra, demonstrando o juízo sobre os ímpios e a preservação dos justos, Noé e Lot. Ele usa uma citação conhecida dos gregos o tártaro[3] como fim daqueles, um lugar de sofrimento eterno. Ao mesmo tempo usa duas expressões bem interessantes sobre os dois personagens que foram poupados Noé como pregador da justiça e a justiça de Lot, embora seja um personagem mais controverso, mas Pedro pode ter inferido isso de duas fontes, da tradução judaica como também pelo livramento concedido por Deus.[4]
A referencia de Pedro as autoridades superiores não é de fácil interpretação igualmente. Nos parece aqui que Pedro está expondo que esses falsos mestres zombam do poder de satanás pelo que diz a seguir “... como brutos irracionais, naturalmente feitos para presa e destruição, falando mal daquilo em que são ignorantes ...” e se referindo que na destruição dessa autoridade “... também hão de ser destruídos.” Há muito tempo atrás li um livro, não me recordo mais o autor nem o título, que dizia que a principal estratégia do diabo era que as pessoas não considerassem a sua existência. Esqueçam monstros com chifres, tridente e rabo, satanás é muito mais sagaz e sutil nas suas ações.[5] Pedro admoesta os crentes que lhe ouviam a se afastarem da injustiça e luxúria pregada e vivida por esses falsos mestres, e diz que para eles está reservada as trevas. Até dar ouvidos a esses insensatos é perigoso porque os mais fracos podem ser enganados por esses falsos ensinos.
Pedro conclui citando que os que voltam a imundície voltam num estado ainda pior do que o anterior. Antes de prosseguirmos enfatizamos que Pedro não trata aqui de perda de salvação e sim de rejeição consciente do Evangelho mesmo que depois de experimentado.[6] O que Pedro está dizendo aqui é quem conhece a verdade mais responsabilidade tem sobre a sua rejeição[7] mas ele trata de uma conversão ilusória.[8] Termina esse capítulo com duas figuras bem nojentas e asquerosas: o cão que come o próprio vômito e a porca que após lavada procura chafurdar na lama. Notem que ambos os animais não eram queridos pelos judeus, a palavra cão era usada como um xingamento[9] e porcos eram animais impuros.[10]
Apenas uma simples profissão religiosa ou uma mudança externa de comportamento não garante a transformação do coração de uma pessoa. Ao longo de minha caminhada conheci algumas pessoas que traziam quase todos os sinais de uma vida santificada porém elas foram se perdendo no caminho de forma tão chocante e definitiva que demonstraram que não havia conversão verdadeira nelas e a apostasia dos falsos mestres revelou-se verdadeira na suas naturezas.
Cuidemos em não cairmos e em rogarmos a Deus que a transformação de nosso interior seja sim confirmada até a nossa morte.[11]
[1] Atos 24:5; 1ª Coríntios 11.19; GáIatas 5.20
[2] Não há um consenso claro sobre a que ocasião Pedro está se referindo. Ver Genesis 6:1-4 e Genesis 3. Mas pode igualmente ser uma referencia a alguma citação fora do cânon do Antigo Testamento como por exemplo o livro de Enoque.
[3] Atos 17 .28; Tito 1.12
[4] Lembrando que na oração de Abraão sobre as cidades ele arguiu Deus para ter misericórdia caso houvesse uma certa quantidade de justos nas cidades.
[5] Tenho insistido bastante no combate ao universalismo porque entendo que é uma forma de negar a existência do mal e do diabo como uma pessoa. Tem sido cada vez mais comum as pessoas identificarem o diabo e o mal apenas como um conceito e não como objetos e pessoas concretas e assim essas pessoas mesmo que de forma não declarada tornam insignificante o sacrifício de Cristo, e passam a considerar a vida de Jesus como algo superior a sua morte e ressureição, transformando-a num way of life a ser seguido por sua humanidade.
[6] Hebreus 6:6. Nosso artigo sobre esse texto pode ser visto clicando nesse link
http://penso-e-creio.blogspot.com/2021/03/devocional-hebreus-6-os-outrora.html
[7] Lucas 12.47-48. A frase "conhecido o caminho da justiça" refere-se a um conhecimento meramente intelectual do ensino ético e do modo de vida característicos dos cristãos.
[8] João 10.26-30; 1ª João 2.19
[9] Êxodo 22.31; Provérbios 26.11; Apocalipse 22.15
[10] Levítico 11.7; Isaías 65.4
[11] Apocalipse 2:10
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