Leia Mateus 5: 13 - 16; Marcos 4: 21, 9:50; Lucas 8: 16, 14:34-35.
Esse trecho bem curto, apenas 4 versículos compreendem uma grande lição para nós. Se as bem-aventuranças denotam o caráter do cristão essas metáforas usadas por Jesus nos mostram como o cristão deve influenciar o mundo. Ao mesmo tempo enquanto em Mateus ele está todo contido dentro do conhecido Sermão do Monte em Marcos e Lucas as mesmas afirmações estão em locais e momentos diferentes. Muito provavelmente isso ocorre por uma repetição do mesmo ensino em circunstâncias distintas e não por uma desarmonia.
Tanto a analogia com o sal quanto como a luz podem nos trazer lições importantes.
Vamos começar pelo sal. É de conhecimento que o sal ainda hoje é fundamental na culinária, mas era ainda muito mais importante nos tempos antigos com utilizações que iam bem além de dar sabor ao nosso churrasco de fim de semana. O valor do sal pode ser melhor entendido por duas situações, a primeira mais conhecida, vem de uma afirmação de Plínio[1], o velho, “Sal era uma das honrarias que os soldados recebiam após batalhas bem-sucedidas. Daí vem nossa palavra salarium”, a outra era a expressão “comer sal com alguém” que tinha como significado ter comunhão e compartilhar hospitalidade. Mas temos ainda duas outras funções para o sal bastante comuns à época, o sal era usado para conservação dos alimentos numa época na qual não tínhamos geladeiras e ainda era usado em procedimentos terapêuticos contra proliferação de bactérias.
Mas o que esse uso pode nos trazer como ensinamento para hoje?
O papel do cristão está intimamente ligado a influenciar positivamente o ambiente sócio, econômico e político onde ele estiver inserido, tanto por suas boas práticas como pela forma como impacta as demais pessoas. Bem como outro papel fundamental do cristão como sal está ligado a participar ativamente na cura de enfermos espirituais.
Timothy Keller procura trazer essa enfatiza que um cristão pode conferir sentido ao sofrimento, trazer um contentamento que não é baseado nas circunstâncias, uma liberdade que não fere, mas que traz amor, uma identidade que não esmaga o indivíduo e nem exclui outros, traz uma bússola moral que não converte o cristão em opressor e uma esperança que torna capaz de enfrentar qualquer coisa, até a morte.
“ ... os discípulos não pensam somente no reino dos céus, mas são constantemente lembrados de sua tarefa no mundo. (…). Jesus, ao chamar seus discípulos em vez de designar a si mesmo sal da terra, transfere a eles seu poder de ação. Ele os inclui em sua tarefa no mundo (…) A terra só poderá ser conservada pelo sal se o sal nunca deixar de ser sal e preservar sua força purificadora e temperante.”[2]
˜O mundo manifesta também uma tendência constante à deterioração. A ideia não é que o mundo seja insípido e que os cristãos o tornem menos insípido (“a ideia de que se possa tornar o mundo mais agradável a Deus é totalmente absurda”), mas que o mundo está apodrecendo. Ele não pode impedir a sua própria deterioração. Apenas o sal, quando introduzido de fora, pode fazê-lo. A Igreja, por outro lado, foi colocada no mundo com duplo papel: como sal, para interromper, ou pelo menos retardar, o processo da corrupção social.˜[3]
Para cumprir esse papel, no entanto o cristão tem que manter sua salinidade, ou seja, sua integridade, sem a qual se torna insípido e imprestável.
A Luz do mundo
Sem causar confusão, por óbvio que a declaração de Jesus, “Eu sou a luz do mundo”, não se choca nem se contradiz com esta afirmação que trazemos aqui. Jesus é A LUZ que dissipa as trevas, os cristãos são, como pequenos cristos, luzeiros para iluminar a sociedade onde estão inseridos. Tem que entender que para povos que não tem as nossas facilidades de iluminação artificial, a escuridão da noite eram sempre algo assustador e que geravam muita dificuldade. Não por acaso a Bíblia usa essa metáfora entre Deus, a Luz Suprema, e a Sua ausência, como escuridão total atemorizante.
O profeta Isaías descreve Cristo e seu ministério como uma grande luz brilhando sobre os habitantes da Galileia: “O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz” (Is 9.2). Por causa de Jesus e o seu evangelho, uma grande luz apareceu àqueles que andavam nas trevas. “No lugar das trevas da calamidade as pessoas viram a luz da paz e bem-aventurança; no lugar das trevas da morte, a luz da vida; no lugar das trevas da ignorância, a luz do conhecimento; no lugar das trevas do pecado, a luz da salvação. A salvação em seu sentido mais amplo brilhou sobre essas pessoas; ocorreu uma completa reversão de sua condição.”
O termo luz é também usado para descrever a revelação escrita de Deus, pois é por meio da sagrada Escritura que aprendemos o que devemos crer para sermos salvos e levar vidas que agradam a Deus. Como Davi disse, “Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos a luz” (Sl 36.9). “Porque o mandamento é lâmpada, e a instrução, luz…” (Pv 6.23). “Envia a tua luz e a tua verdade, para que me guiem” (Sl 43.3). “A revelação das tuas palavras esclarece e dá entendimento aos simples” (Sl 119.130). Deus, sem dúvida, precisa nos iluminar pelo seu Espírito para que sua Palavra seja eficaz. “Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama luz nas minhas trevas” (Sl 18.28).
Paula usa o termo luz para descrever o evangelho de Jesus Cristo e representar Deus brilhando no coração do homem para causar regeneração e conversão. “Nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos, por amor de Jesus. Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (2Co 4.4-6). Deus nos dá a luz do evangelho e a luz do entendimento espiritual quando remove o véu que reside em nosso coração e nos mostra a glória de Cristo. Para o eleito, a verdade salvadora é sempre acompanhada por um entendimento espiritual dela.
Portanto a luz dos cristãos cumpre duas funções igualmente ao sal. Primeiramente a função da luz é clarear o ambiente, dissipando as trevas, traz segurança nas atividades que tem que ser desenvolvidas, andar é muito mais fácil com luz do que no escuro.
Um outro efeito da luz, e esse bem mais incomodo, é mostrar onde está a sujeira. Notem que animais peçonhentos quase sempre se escondem pelos cantos escuros dos ambientes. As ações honestas e morais dos cristãos íntegros tornam ainda mais feias e detestáveis as ações das trevas, e por isso são odiados, as obras do mal detestam a luz. Não a toa que as sete igrejas da Ásia, em Apocalipse, são descritas como “candeeiros”.
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