Leia Lucas 4:1-13; Mateus 4:1-13; Marcos 1:12-13
Essa passagem da vida de Jesus não é abordada em João mas está relatada quase com os mesmos detalhes em Mateus e Lucas, e em Marcos é citada só de passagem sem se ater aos detalhes.
Após o batismo de Jesus foi levado pelo Espírito Santo a deserto. Jesus precisava passar pela tentação e resistir como homem e assim confirmar o seu papel e valor como cordeiro imaculado. Ele ficou 40 dias em jejum conforme nos relatam as escrituras. A Bíblia nos diz que ao fim desse período ele teve fome, uma característica de sua natureza humana.
“Tentar é testar o que de bom e de mau, de fraqueza e de força”.[1]
A tentação de Jesus tem paralelo com a provação de Israel no deserto. Os quarenta dias correspondem aos quarenta anos de caminhada do povo[2]. A experiência de Israel no deserto foi o tipo ou a sombra da tentação de Jesus no "deserto", após o batismo.
O deserto da Judéia está localizado na parte ocidental de Jerusalém até o Vale do Jordão. Ela consiste em uma região montanhosa e árida. Essa região é desprovida de chuva na maior parte do ano devido sua localização. Ela está na parte cortada pelo cume central das montanhas, impedida de receber umidade dos ventos oeste, que depositam a maior parte das chuvas sobre a planície de Sarom e pelo lado ocidental do platô. No período do verão não se vê nenhum tipo de planta ao longo da estrada que leva de Jerusalém e Jericó. Esta é uma região muito inóspita, formada por penhascos rochosos e solo totalmente seco.[3]
A ordem das tentações estão trocadas entre Mateus e Lucas
Mateus |
Lucas |
1. Aspecto físico – Fome 2. Aspecto emocional – Vaidade 3. Aspecto egoístico - Cobiça |
1. Aspecto físico – Fome 2. Aspecto egoístico - Cobiça 3. Aspecto emocional – Vaidade |
Não temos como saber porque dessa inversão entre a segunda e terceira tentações. Mas de pronto podemos perceber que isso implica que não há hierarquia nem causalidade entre elas.
Antes de prosseguirmos precisamos ter em mente o que a Bíblia nos fala sore o diabo. Satanás não é uma mera tendência ou influência moral, ele é um ente pessoal, racional. A palavra “diabo” em grego significa “acusador”, e em hebraico a palavra “Satanás” tem o mesmo sentido. Satanás é um arcanjo caído e não um símbolo, e luta contra aqueles que seguem e obedecem a Deus.[4]
Jesus foi tentado pelo diabo em três esferas de nossa natureza, desejos físicos, vaidade e cobiça, origem das tentações as quais estamos sujeitos[5] e assim precisava ter sido, tentado em tudo e aprovado sem pecar[6]. E assim poder se tornar nosso sumo sacerdote.[7] Vamos abordar cada uma delas conforme Jesus subjugou, mas o ponto mais importante é focar nas respostas de Jesus.
“Pelo que convinha que em tudo fosse feito semelhante a seus irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e fiel nas coisas concernentes a Deus, a fim de fazer propiciação pelos pecados do povo. Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados”. Hebreus 2:17-18
Um contraponto nem sempre abordado é o paralelo entre a tentação de Cristo e a peregrinação de Israel no deserto. Em ambos temos o número 40, com o povoo 40 anos, com Jesus 40 dias, Fome e sede em ambos os casos[8].
Jesus cumpre o mandato do homem como segundo Adão sem cair como o primeiro[9] e também personifica os libertos do Egito (símbolo do mundo da escravidão dos pecados), porem, sem ter o pecado da desconfiança da provisão e promessas de Deus.
A) Subjugando os desejos físicos
A primeira investida teve a ver com as necessidades físicas de Jesus, se alimentar. Satanás apela para tentar Jesus a usar seus poderes divinos para resolver a questão humana da fome que sentia. Muitas vezes somos tentados da mesma forma a atender os desejos da carne. No caso de Jesus foi a fome, mas podem ser de qualquer natureza física conosco.
“Chegando, então, o tentador, disse-lhe: Se tu és Filho de Deus manda que estas pedras se tornem em pães.” - Mateus 4:3.
“Disse-lhe então o Diabo: Se tu és Filho de Deus, manda a esta pedra que se torne em pão.” - Lucas 4:3.
Satanás não estava duvidando da divindade de Jesus, na verdade ele estava desafiando a Cristo, ele queria despertar em Jesus o desejo da satisfação pessoal adequada a sua natureza divina ou ainda que Jesus duvidasse das promessas divinas e agisse por conta própria usurpando o papel de Deus Pai.
Jesus responde usando as Escrituras: “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”[10] Mas por que Jesus não atendeu a sugestão de satanás? Vemos duas razões muito claras, primeiro Jesus não seguia a agenda própria tampouco a do diabo, e sim a de Deus, e segundo Jesus confiava na providência divina em lhe sustentar mesmo naquele momento crítico. Ele tinha poder para isso mas decidiu cumprir sua missão e mostrar que podemos vencer as tentações.
Jesus não estava condenando o atendimento das necessidades físicas em si, mas recusando a se submeter as suas próprias necessidades como prioridade frete a vocação divina. Jesus para cumprir sua missão, precisava ser humilhado. Se tivesse transformado as pedras em pães, Ele teria usado de seus poderes para benefício próprio, e não se identificaria com a raça humana. Jesus ao se recusar, mostra ao inimigo que o usaria seus poderes somente em submissão ao plano de Deus.[11]
B) Subjugando a vaidade.
A segunda tentação na sequencia de Mateus e a terceira na sequencia de Lucas.
“Então o Diabo o levou à cidade santa, colocou-o sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito; e: eles te susterão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra.” - -Mateus 4:5-6
“Então o levou a Jerusalém e o colocou sobre o pináculo do templo e lhe disse: Se tu és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito, que te guardem; e: eles te susterão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra.”- Lucas 4:9-11
O templo era num dos locais mais altos de Jerusalém. Satanás leva Jesus ao pináculo do templo, que era topo de uma cúpula que era o ponto mais alto do templo, estima-se que pelo menos 60 metros de altura, ou um prédio de 20 andares. Alguns comentaristas citam uma ideia a qual não conseguimos achar nenhum respaldo que Jesus não teria sido transportado fisicamente e sim fosse apenas uma ilusão. Não conseguimos encontrar nenhuma justificativa plausível para essa visão, por outro lado, admitir que estivesse sido assim implicaria em alegorizar esse relato bíblico.
Se na primeira tentação o apelo era físico aqui satanás apela para a vaidade de se declarar poderoso como Deus, se cedesse a tentação o ego e a glória carnal suplantariam a missão sacrificial pelo qual Jesus tinha consciência que deveria passar, seria uma confiança presunçosa de que Deus o protegeria. Satanás usou as próprias escrituras de forma astuciosa para tentar Jesus.[12] Jesus estaria desafiando o próprio Deus ao buscar uma demonstração que iria de encontro a uma lei natural estabelecida pelo próprio Deus, a lei da gravidade, e por um motivo fútil, sua própria auto afirmação. Vemos isso ocorrendo às vezes com homens que pensam ser necessário autenticar seu poder impondo a Deus obrigações.
Jesus mais uma vez usou as escrituras para responder.[13]
“Replicou-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus” Mateus 4:7.
“Respondeu-lhe Jesus: Dito está: Não tentarás o Senhor teu Deus”. Lucas 4:12.
Moises se referia ao que ocorrera na passagem de Israel pelo deserto,[14] onde o povo prestes a se rebelar, manifestara seu desejo de voltar ao Egito se Moisés não lhe fornecesse água. Nesta ocasião o povo havia testado a Deus dizendo. “Está o Senhor no meio de nós, ou não? O propósito a que Jesus se destinava era o cumprimento da missão dada por seu Pai, mesmo que isso lhe compelisse o sofrimento e morte.
Jesus não ansiava por brilho próprio que poderia ser alcançado com uma exibição pública de seu poder.
C) Subjugando a cobiça.
A terceira tentação segundo o Evangelho de Mateus, e segunda tentação segundo o Evangelho de Lucas envolve o transporte de Jesus para o topo de um monte.
“Novamente o Diabo o levou a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles; e disse-lhe: Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares. Então ordenou-lhe Jesus: Vai-te, Satanás; porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás.” Mateus 4:8-10
“Então o Diabo, levando-o a um lugar elevado, mostrou-lhe num relance todos os reinos do mundo. E disse-lhe: Dar-te-ei toda a autoridade e glória destes reinos, porque me foi entregue, e a dou a quem eu quiser; se tu, me adorares, será toda tua. Respondeu-lhe Jesus: Está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás.” Lucas 4:5-8
Satanás mentiu nessa tentação nos parece claramente já que ele ofereceu o que não poderia conceder de forma perene, A Deus pertence o universo[15]. O inimigo, satanás não é por acaso denominado como pai da mentira,[16] desde o princípio mostrou seu caráter traiçoeiro quando enganou o primeiro homem, que por cobiça, cedeu a tentação e jogou a sua descendência na escravidão do pecado, lá no paraíso era a falsa promessa de ser igual a Deus.[17]
“Satanás, como príncipe do sistema econômico, político e social do nosso planeta (em grego, Kosmos, que significa: mundo), estava em seu direito ao ofertar a Jesus as glorias de todos os reinos da terra, pois de fato estes lhe foram entregues por algum tempo ( João 12.31; 1 João 2.15; 5.19; João 3.19; Tiago 1.27;4.4). Jesus manteve-se, porém, integro e fiel, resistindo e vencendo a tentação e o tentador.”
“Por meio do batismo Ele cumpriu toda a justiça, e pela tentação sua Justiça foi provada. Antes de iniciar seu ministério de destruir o poder de Satanás nas vidas dos seres humanos, foi necessário que Ele vencesse o Inimigo no campo de batalha da sua própria vida na terra (Hebreus 2.18; 4.15). A magnitude de toda essa batalha se observa no fato de que anjos vieram servi-lo (Mat. 4.11, Lc 22.43). Em menos grau, cada discípulo que é chamado a uma missão desafiadora no Reino e impactante no mundo deve estar preparado para semelhante conflito e vitória”.
Comentários da Bíblia King James das tentações de Cristo no deserto.
O desejo de Satanás de ser Deus constitui o ápice de sua blasfêmia, “se prostrado me adorares”. Jesus novamente usa as Escrituras, e diante de tamanha blasfêmia, expulsa Satanás de sua presença, mas Jesus nos mostrou que podemos resistir a cobiça.
Algumas aplicações.
Na primeira tentação, Jesus dá o om grande exemplo de como os homens devem agir diante das provações do inimigo. Ao fazer uso das Escrituras, Jesus como em muitas outras passagens que ainda haveriam de acontecer, incluído o sacrifício da crucificação, dá o exemplo primeiro. A mensagem de que a resposta para vitória da luta dos cristãos contra Satanás é encontrada somente nas Escrituras se encontra nas entrelinhas desta passagem da tentação de Cristo.
Na segunda tentação de Mateus e terceira de Lucas, Satanás inflige a Jesus algo muito comum entre os humanos, à posição de confiança presunçosa de que Deus o protegeria. Essa questão que parece ser inocente aos olhos de muitos crentes, por não parecer um mal que fere diretamente o próximo, em verdade, abafa o sentimento que aproxima o crente de Deus, a humildade. Esta abre caminho para comunhão pessoal e verdadeira com Deus, juntamente com a obediência e o temor.
O cristão pode ser tentado a querer “ser”, e usar o nome de Deus para esse propósito, em palavras e ações, porem o único “Eu sou” é Deus, e o pecado de querer “ser” foi o pecado de Satanás quando era um arcanjo do Senhor, assim como, o pecado de Adão, quando obedeceu a Satanás em querer ser igual a Deus. Quão Grande é o Senhor, que apesar do homem cometer o erro de querer ser Deus, perdoa-o, e ainda se fazer carne, e se colocar no lugar dele para morrer em seu lugar.
Na terceira e última tentação, a cobiça pelos bens materiais que anto traem a alma humana, atiçando o desejo de possuí-las e desfruta-las, é usada pelo Diabo. As três propostas utilizadas por Satanás para seduzir, com espírito infernal, Jesus a pecar, são como uma semente de todas as outras. A concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida.[18]
As provações sempre serão uma parte ativa para vida do cristão, pois é através delas é que o cristão tem a possibilidade de crescer espiritualmente mas a própria Palavra apresenta uma preciosa promessa em relação a elas todas podem ser superadas em Deus[19].
Jesus deu exemplo em todas as coisas, inclusive no enfrentamento às tentações.
[1] RIBAS, D. Comentário do Novo Testamento–Um guia de aplicação da Bíblia para a vida diária. Rio de Janeiro, CPAD, 2009.
[2] Números 14:34; Deuteronômio 8:1-5
[3] TENNEY, M. C. Tempos do Novo Testamento –Entendendo o mundo do Primeiro Século
[4] João 8:44; Apocalipse 12:9; Efésios 2:2, 6:12.; 2a Pedro 2:4; Judas 1, 5-7.
[5] 1o João 2:16
[6] Hebreus 4:15
[7] Hebreus 2:17
[8] Números 11:5
[9] Romanos 5
[10] Mateus 4:4; Lucas 4:4; Deuteronômio 8:3
[11] RIBAS, D. Comentário do Novo Testamento–Um guia de aplicação da Bíblia para a vida diária. Rio de Janeiro, CPAD, 2009
[12] Salmo 91:11
[13] Deuteronômio 6:16.
[14] Deuteronômio 6:16; Êxodo 17:1-7
[15] Salmo 24:1
[16] João 8:44
[17] Genesis 3:5
[18] FILLION L-C. Enciclopédia da Vida de Jesus.
[19] 1 Coríntios 10:13
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