Leia Lucas 1:5-25; 39-45; 57-80
Apesar da diferença de poucos meses entre o nascimento de João Batista e de Jesus que eram primos por suas mães, Isabel e Maria, o ministério de João Batista começou um pouco mais de tempo antes do que o de Jesus, e isso estava previsto nas profecias do Antigo Testamento.
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Antigo Testamento |
Novo Testamento |
Voz que clama no deserto |
Isaías 40:3 |
Mateus 3:3 |
O que prepara o caminho |
Isaías 35:8-10 |
Marcos 1:2,3 |
João, filho de Zacarias e Isabel, foi marcado como o homem que precederia o prometido Salvador. Depois do ministério de João, sucederia o ministério do próprio Messias.
Quando da anunciação do nascimento de João, o anjo Gabriel disse ao sacerdote Zacarias que o filho que lhes fora dado iria adiante do Senhor “para habilitar para o Senhor um povo preparado” (Lc 1.16,17). Depois do nascimento de João, Zacarias profetizou pelo Espírito Santo: “Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor, preparando-lhe os caminhos” (Lc 1.76).
João viveu no deserto, longe das pessoas, até que chegou o dia em que ele seria apresentado a Israel como um profeta (Lc 1.80). A apresentação oficial veio da parte de Deus no décimo quinto ano do reinado de Tibério, quando a palavra de Deus veio a João no deserto (Lc 3.1,2).
João Batista tinha a incumbência de denunciar a corrupção nacional e repreender os pecados dominantes. Ele dirigia suas advertências contra os líderes religiosos de Israel, notadamente contra os fariseus e saduceus (Mateus 3:7). Declarava ele que seu orgulho, egoísmo e crueldade demonstravam serem eles uma raça de víboras, uma terrível maldição para o povo. De acordo com as palavras do profeta Isaías, ele seria a voz que clamaria no deserto:
1. “Eis a voz do que clama: Preparai no deserto o caminho do Senhor; endireitai no ermo uma estrada para o nosso Deus.” Isaías 40:3.
2. “Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.” Mateus 3:3.
3. “Conforme está escrito no profeta Isaías: Eis que envio ante a tua face o Meu mensageiro, que há de preparar o teu caminho; voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.” Marcos 1:2 e 3.
4. “E ele percorreu toda a circunvizinhança do Jordão, pregando o batismo de arrependimento para remissão de pecados; como está escrito no livro das palavras do profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai as suas veredas.” Lucas 3:3 e 4.
5. “Respondeu ele: Eu sou a voz do que clama no deserto. Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.” João 1:23.
Ele não foi educado nas escolas dos rabis e nem foi enviado às escolas de teologia para aprender a interpretar as Escrituras. Deus chamou-o ao deserto, para ali aprender acerca da natureza e foi ali que ele se preparou para exercer a sua missão de “converter muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus e ir adiante dEle no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, a fim de preparar para o Senhor um povo apercebido.” Lucas 1:16 e 17. Ele foi comparado ao destemido profeta Elias, que em seu ministério confrontou governantes ímpios e líderes religiosos pagãos. Inclusive nas maneiras e no vestuário, assemelhava-se ao profeta Elias: “Ora, João usava uma veste de pelos de camelo, e um cinto de couro em torno de seus lombos; e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre.” Mateus 3:4. (Comparar com II Reis 1:8).
A partir desse momento, ele falou a toda Israel — um verdadeiro profeta do deserto, com a aparência e a mensagem de um mensageiro do arrependimento: Arrependam-se, convertam-se! O motivo para o seu apelo era que o reino de Deus estava próximo. O Rei estava para chegar. Para todos está claro que a esperança ansiosa se concentrava numa pessoa: João falava sobre alguém que viria depois dele. A grandeza da esperança do futuro tinha tudo a ver com a majestade daquele que estava vindo. João não se considerava digno de ser nem mesmo o mais humilde servo dessa pessoa nem de desatar as correias das suas sandálias. A estatura dela era sobre-humana. Tratava-se do próprio Deus, pois enquanto João batizava com água, ele batizaria com o Espírito Santo. E somente o próprio Deus poderia derramar o Espírito sobre seu povo, como já tinha sido prometido pelos profetas quando falavam da era messiânica que viria. A enorme afluência do povo para o batismo de arrependimento, no Jordão, com a expectativa da anistia geral para pecadores, levou a reações críticas de Jerusalém. Uma comissão foi enviada para investigar. Eles perguntaram a João quem ele era, mas João recusava qualquer título para si mesmo. Nem mesmo se colocou no mesmo nível de Elias, embora de fato ele fosse o prometido Elias, o precursor do Senhor. O seu testemunho apontava para fora de si. Com ajuda de Isaías 40, ele se caracterizava como a voz do que clama no deserto: “Preparai o caminho do Senhor!” Mais uma vez, João anuncia a vinda do próprio Senhor (Jo 1 .19-28). Essa conversa aconteceu em Betânia, do outro lado do Jordão, o primeiro lugar onde João batizou.
João Batista exerceu grande parte do seu ministério no território leste do rio Jordão, região que se achava sob o domínio do rei Herodes Antipas, o qual era edomita (descendente de Esaú). O rei Herodes Antipas, embora obedecesse a algumas doutrinas do judaísmo, recebeu de Roma vários benefícios, entre os quais a cidadania romana, isenção de tributos e o cargo de tetrarca, sendo a sua parte a Galiléia e Peréia. Ele provocou escândalo ao divorciar-se de sua primeira esposa, a filha do rei nabateu Aretas IV, e casar-se com Herodíades, a esposa de seu meio irmão Herodes Filipe. Isto lhe custou uma represália por parte do rei nabateu Aretas IV, que, para vingar a filha, atacou-o e derrotou-o anos mais tarde.
Em suas exortações, João Batista repreendeu o tetrarca Herodes Antipas por
todas as maldades que havia feito e por causa do seu novo casamento com
Herodíades, denunciando esta união como ilegítima. Ele disse ao tetrarca: “Não
te é lícito ter a mulher de teu irmão.” Marcos 6:18. Como prosélito, o tetrarca
Herodes Antipas estava sujeito à lei judaica, que estabelecia claramente: “Se
um homem tomar a mulher de seu irmão, é imundícia; ...” Levítico 20:21. A
acusação de João Batista irritou especialmente a Herodíades, que influenciou
Antipas a colocar o mensageiro de Deus na prisão. Diz o relato bíblico que
“Herodíades lhe guardava rancor e queria matá-lo, mas não podia; porque Herodes
temia a João, sabendo que era varão justo e santo, e o guardava em segurança; e
ao ouvi-lo, ficava muito perplexo, contudo de boa mente o escutava.” Marcos
6:19 e 20.
Quando João Batista esteve preso, soube das obras poderosas realizadas por Jesus. Desejando a comprovação disso do próprio Jesus, mandou dois de seus discípulos para perguntar a Jesus: “És tu aquele que havia de vir, ou havemos de esperar outro?” Lucas 7:20. Os discípulos de João encontraram Jesus no exato momento em que Ele estava curando muitas pessoas de diversas doenças, inclusive devolvendo a vista aos cegos. Quando eles fizeram a pergunta, Jesus lhes respondeu: “Ide, e contai a João o que tendes visto e ouvido; os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho.” Lucas 7:22. Depois que os discípulos de João foram embora, Jesus dirigiu-se à multidão e disse: “Dentre os nascidos de mulher, não há maior do que João; ...” Lucas 7:28.
Algum tempo depois, Herodíades deu vazão ao seu rancor contra João. Durante a celebração do aniversário natalício de Herodes, a filha de Herodíades agradou a Herodes com sua dança, no que ele jurou dar-lhe tudo o que pedisse. Instigada pela mãe, que odiava João pelas acusações feitas a ela, a moça pediu a cabeça de João Batista. Herodes, em consideração a seu juramento e às pessoas presentes, concedeu-lhe este pedido. João foi decapitado na prisão e a cabeça dele foi entregue numa travessa à moça, que a levou à sua mãe (Mateus 14:6-11; Marcos 6:21-28).
Os discípulos de João Batista vieram e removeram o seu corpo e o sepultaram, relatando este assunto a Jesus (Mateus 14:12)
Algumas considerações
“Muito mais que profeta” (v.9). O testemunho público de Jesus confirma o que o Espírito Santo havia falado por boca de Zacarias: João seria “profeta do Altíssimo” (Lc 1.76). Cristo foi além; afirmou que João era “muito mais do que profeta”. Ele declarou ser o Batista um mensageiro enviado por Deus como o precursor do Messias (v. 10), cumprindo assim a profecia de Malaquias (Ml 3.1). Jesus acrescentou que dentre os mortais, não houve ninguém maior do que João (v.11). E isso, por algumas razões:
a) Porque os profetas falaram a respeito de João (Is 40.3; Ml 3.1);
b) Porque João teve o privilégio de ver o cumprimento principal dos oráculos proféticos do Antigo Testamento: O Senhor Jesus;
c) Por ter sido o precursor do Messias;
d) Porque batizou o Senhor Jesus nas águas;
e) Porque pode participar da salvação que os profetas apenas predisseram; e finalmente
f) Porque chegou ao clímax do ministério profético, tal como havia no Antigo Testamento (Lc 16.16).
João é o mais excelente de todos os profetas; com ele se encerra a Antiga Aliança. João Batista é o único personagem do Novo Testamento com quem Deus se comunicava da mesma maneira que Ele falava aos profetas do Antigo Testamento: “[…] veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias” (Lc 3.2 — ARA; cf. Jr 1.2).
Ele era o “O Elias que havia de vir” (v.14). Ao comparar o ministério de João Batista ao de Elias, Jesus confirma o oráculo de Malaquias (4.5,6). Em outras palavras, João veio na virtude e no espírito de Elias (Lc 1.17), ou seja: exercendo um ministério igual ao de Elias. E o Senhor Jesus o reafirma em outra ocasião (Mt 17.12,13). Isso, porém, não deve levar ninguém a pensar que João era Elias reencarnado por duas razões básicas: Elias foi arrebatado vivo para o céu, portanto, não morreu (2 Rs 2.11). Além disso, reencarnação é algo que não existe e nem é permitido por Deus (2 Sm 12.23; Sl 78.39; Hb 9.27).
Elias e João Batista tinham as mesmas características:
a) Ambos vestiam-se de pelos e usavam cinto de couro (2 Rs 1.8; Mt 3.4);
b) Ministravam no deserto (1 Rs 19.9,10,15; Lc 1.80), e
c) Eram incisivos ao pregarem contra reis ímpios (1 Rs 21.20-27; Mt 14.1-4).
A preparação do Caminho
1. O preparo para a vinda do reino foi feito por meio da proclamação de advertência e da necessidade de arrependimento.
João advertiu os fariseus e os saduceus: "Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo" (Mateus 3:10). Multidões escutavam o apelo de João: "Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus" (Mateus 3:2). Os que atendiam ao chamado e se arrependiam se tornavam um povo preparado produzindo "frutos dignos de arrependimento" (Mateus 3:8). Muitos foram batizados por João no rio Jordão. Uma geração de víboras rejeitou a mensagem, ao passo que outros permitiram que o mensageiro de Deus os preparasse.
João Batista veio com a disposição e o poder de Elias (Lucas 1:17). Em
nenhum lugar isso é mais claro do que na descrição de Lucas 3:18-19:
"Assim, pois, com muitas outras exortações anunciava o evangelho ao
povo; mas Herodes, o tetrarca, sendo repreendido por ele, por causa de
Herodias, mulher de seu irmão, e por todas as maldades que o mesmo Herodes
havia feito". O preparo para o reino espiritual que estava por vir exigia
uma obra de escavação. Os vales tinham de ser preenchidos, e os montes
tinham de ser rebaixados. Assim como Elias fez o que pôde para tirar a
idolatria, o assassínio e a desonestidade (1 Reis 18, 19), também João opôs-se
aos pecados da nação e os desmascarou. Entre esses pecados estavam "todas
as maldades que o mesmo Herodes havia feito".
2. O caminho do rei foi preparado por João, mostrando especificamente a mudança que deve ocorrer na vida dos homens.
João não só condenava o mal, mas salientava a mudança que Deus espera das pessoas perdoadas. Os publicanos, os soldados e o povo em geral perguntavam: "Que havemos, pois, de fazer?". A Voz exigia generosidade (Lucas 3:11), honestidade (Lucas 3:13) não-violência e contentamento (Lucas 3:14). A preparação feita por João foi para um caminho de santidade, e o povo de Deus deve andar nesse caminho (Isaías 35:8-10).
3. João preparava para o reino vindouro referindo-se ao rei do reino.
Não bastava advertir a nação judaica para que fugissem da ira de Deus (Mateus 3), nem instruí-los com respeito ao procedimento esperado por Deus (Lucas 3), mas era essencial que o rei que estava por vir fosse identificado. João tinha estado batizando em Betânia e, no dia seguinte, quando viu Jesus se aproximar dele, exclamou: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (João 1:29). Jesus era visto por João como aquele tipificado no cordeiro pascal, e como aquele cordeiro que "foi levado ao matadouro" pelo pecado do homem (Isaías 53).
Alguns destaques
A humildade na vida João Batista
O significado de humildade tem a ver com conhecermos a nós mesmos. Sabermos quem realmente somos de forma equilibrada. Paulo fala na carta aos Romanos, capítulo 12 verso 3: Ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu.
João sabia qual era a identidade d’Ele em Deus. Por mais que alguns pudessem pensar que ele era o Messias, ele sabia exatamente quem ele era. E que ele estava ali para preparar o caminho para o verdadeiro Messias. Ele se coloca na posição de alguém que não era digno nem mesmo de desatar as sandálias de Jesus.
Ele mesmo afirma em João 1:26-27 que “Eu batizo com água; mas, no meio de vós, já está quem vós não conheceis. Ele é aquele que vem depois de mim, cujas correias das sandálias não sou digno de desamarrar”.
O fato de João Batista agir com humildade de forma alguma retirou a importância de seu ministério. Ele foi alguém anunciado pelo profeta Isaías e que teve um papel fundamental no preparo do ministério de Jesus. O próprio Cristo afirmou que dos que nasceram de mulher, João era o maior. Inclusive João fazia uma pregação ousada e de confronto em relação ao pensamento religioso da época, justamente pelo entendimento que tinha a respeito de seu propósito. Ele sabia da importância de seu ministério por mais que houvesse alguém maior por vir. Humildade não tem a ver com uma falsa modéstia.
A centralidade Cristo no ministério de João Batista
Apesar de não realizar curas, de não escolher palavras amenas na condenação do pecado e da hipocrisia, de vestir-se e alimentar-se de modo estranho e de pregar no deserto da Judéia e não em cidades, João Batista atraía multidões “de Jerusalém, de toda a Judéia e de toda a região ao redor do Jordão” (Mt 3.5). O último dos profetas nunca tentou alargar a porta que Jesus chamaria de estreita, nem desapertou o caminho que Jesus chamaria de apertado. Ele exigia a reflexão do arrependimento e o “fruto” do arrependimento, a mudança de comportamento.
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