Pensamos que no artigo anterior conseguimos deixar claro a relevância do estudo doutrinário. Agora vamos pensar um pouco mais sobre a EBD nos dias atuais. Antes de mais nada nos compete dizer que a EBD sofre uma concorrência desleal em nossas vidas. Nós temos:
a) Um total de 8.760 horas no ano;
b) Mesmo descontando horas de sono e refeição ainda teremos 4.380 horas;
c) Quando muito gastamos 52 horas por ano numa classe de Escola dominical ou pouco mais de 1% de nosso tempo.
De cara já estranhamos porque as igrejas tão facilmente suspendem as aulas. Dias comemorativos, assembleias, dia de Ceia, férias dos professores, aniversário da igreja etc. Tudo parece ser motivo para que diversas igrejas suspendam o exercício da Escola Dominical. Se algo é tão relevante assim porque tão facilmente a tiramos da nossa rotina? Existem igrejas que já aboliram de vez, algumas não chegam a ter 40 aulas num ano. Isso mesmo, certamente isso não é tempo suficiente para que haja um aprendizado que faça diferença.
ALERTA: Para não gerar qualquer tipo de constrangimento avisamos que não estamos falando de nenhuma igreja especificamente, tampouco o que vamos expor é fruto de algo necessariamente recente, e sim de pelo menos 25 anos de observação e envolvimento com o ensino em igrejas.
Mas ainda para além do pouquíssimo tempo reservado temos outros fatores que tem tornado as Escolas Bíblicas Dominicais se não menos relevantes mas muito menos impactantes da vida da igreja. Vamos trabalhar um pouco nesses fatores.:
Administração e coordenação
Alguns fatores na administração e coordenação tem sido muito deixados de lado e atrapalham bastante:
a) Não cumprimento dos horários de início e término;
b) Constante ausência de professores sem substitutos preparados;
c) Incoerência na sequencia das temáticas abordadas e falta de consistência entre elas.
d) Falta de avaliação de resultados de professores e alunos.
e) Indisponibilidade de material para estudo.
f) Falta de continuidade dos projetos. Com a troca constante de coordenadores a cada troca ideias e projetos são revistos.
Essas questões acima desestimulam o engajamento dos alunos.
Professores
Infelizmente temos visto com alguma frequência que os professores não tem sido bem preparados para a tarefa. Falta de conhecimento ou de preparação dos mesmos. Todos lembramos como eram chatas aquelas aulas onde o professor no colégio ou faculdade se limitava a ler textos em ficha, ou em slides projetados. Sem contar com a própria falta de capacitação na apresentação do conteúdo. No meu tempo da minha primeira graduação os dois departamentos da UFAL que mais tinham professores “titulados” eram os de Física e Matemática, por alguma coincidência eram os dois onde os professores doutores simplesmente não sabiam conduzir suas aulas.
Quase inexiste a formação de professores. O surgimento é orgânico e espontâneo muito mais pelo voluntarismo do que por um desenvolvimento metódico de capacitação.
Várias características são necessárias além da empatia entre professor e alunos. O irmão gente boa nem sempre será um bom professor.
É ideal que o professor seja pré-qualificado para o exercício de suas funções.
- Saúde e equilíbrio mental;
- Boa apresentação;
- Órgãos de fonação, visão e audição em boas condições;
- Boa voz: firme, agradável, convincente;
- Linguagem fluente, clara e simples;
- Confiança em si mesmo e presença de espírito, com perfeito controle emocional;
- Naturalidade e desembaraço;
- Firmeza e perseverança;
- Imaginação, iniciativa e liderança;
- Habilidade de criar e manter boas relações humanas com seus alunos.
E claro, ser chamado por Deus para o ministério do ensino.[1]
Principais problemas de comunicação entre professores e alunos.
- professor está mais preocupado em expor a matéria (transmitir conhecimento).
- professor utiliza conceitos ou termos que ainda não existem na experiência dos alunos novos convertidos.
- professor não se preocupa em aumentar o vocabulário de seus alunos.
- professor coloca tantas ideias em cada exposição que somente algumas delas são compreendidas e retidas.
- Alguns professores falam rápido demais ou articulam mal as palavras. Outros, em voz baixa e tom monótono.
- professor não utiliza meios visuais para comunicar conceitos ou relações que exigem apresentação gráfica.
Currículos
As vezes repito uma frase sobre EBD onde digo que elas não sabem bem o que querem ensinar nem o que precisam ensinar. A divisão de classes em geral é feita por faixa etária, mas isso faz sentido para crianças e adolescentes, mas não para adultos. Outras questões como afinidade e principalmente nível de conhecimento poderiam ser levados em consideração. A tendência que vemos é de os currículos serem desconexos, não há um trabalho continuo de aprendizado de forma a conduzir os alunos a um maior nível cada vez maior de aprofundamento. Não existem projetos de maior prazo tipo cinco anos, onde após detectadas as carências da comunidade sejam definidos os currículos para suprimento dessas carências. A aplicação de avaliações, longe de ser algo constrangedor se bem aplicadas podem nortear os ajustes necessários na metodologia de ensino.
Metodologia
Como qualquer área a pedagogia pode fornecer alguns bons elementos. A forma de expor, uso e recursos de apresentação. Já citamos isso, que coisa chata é professor projetando slide e lendo o que está escrito para os alunos, se não for aula para deficientes visuais não faz nenhum sentido. Como esperar que seus alunos participem das aulas se:
a) Não há qualquer material de apoio ao ensino acessível; ou
b) O professor fala sem parar sem dar espaço para questionamentos e ainda mais se sente incomodado com qualquer confrontação ou questionamento do que disse.
O estímulo ao debate deve ser sempre favorecido, notando-se no entanto que existem verdades e valores absolutos que não podem de nenhuma forma serem relevados, e se preciso mesmo que gerem algum incomodo ideias fora da doutrina devem ser tratados de forma a não restarem dúvidas. Não, na igreja não existe conhecimento construído e nenhuma verdade fluida.
Na medida do possível trabalhos em casa, individuais ou em grupos devem ser estimulados. Normalmente nas classes de escola dominical o que vemos é um professor se perder em comentários e ilustrações não essenciais, correr no final da aula mesmo quando o assunto requer aprofundamento. Talvez pelo tempo e dias reduzidos oferecidos para estudo, mas o estudo em casa e apresentação de conclusões pode sim ser uma boa forma de produzir engajamento da turma, inclusive para adultos.
Conclusão
Alguns questionamentos que pensamos podemos fazer todos nós que de alguma forma nos envolvemos como ensino nas igrejas:
1) Avaliamos periodicamente métodos, recursos e resultados?
2) Estabelecemos objetivos e metas e definimos nossos planos como recurso para alcança-los?
3) Quais são as causas de sua Escola Dominical não atingir índices de excelência? O que pode ser feito?
4) Por que os alunos faltam tanto a EBD?
5) Os recursos disponíveis estão adequados?
6) O currículo é ao mesmo. Tempo desafiador e relevante para a turma?
7) O tempo é adequado?
Nosso artigo foi um pouco longo, mas esperamos contribuir pelo menos para que sintamos vontade de debatermos o assunto.
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