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Dois pesos tem que dar duas medidas diferentes






A falácia de igualar o que não é igual.

Uma vertente cada vez mais comum na sociedade contemporânea  é a de igualar e tratar nos argumentos coisas como iguais quando na essência até são similares porém nas consequências são absurdamente distintas.

Essa prática tem se revelado comum tanto nas questões sociais quanto criminais. Vamos trazer a discussão algumas delas e mostrar como isso é pernicioso. Tanto por eventualmente punir com a mesma medida ações que trouxeram consequências e que não trouxeram, quanto, e aqui está talvez o dano pior e mais comum, relativizar crimes com graves consequências.

Claro que definir penalizações e tratamentos diferentes não implica em liberalizar o erro, pelo contrário, todo ele deve ser punido, a questão é a severidade.

Todo tráfico de drogas, por exemplo, deve ser punido, desde o grande traficante até o menor teco-teco[1] do tráfico. Mas é inegável que as punições devem ser diferenciadas entre um e outro, e também considerando a reincidência.

Outro aspecto é igualar ações, erradas ou criminosas, porém mais leves com outras maiores. Um bom exemplo é igualar uma cantada de mau gosto com um estupro real. Ao fazer esse tipo de coisa a tendência é que o grande crime do ato violento em si seja relativizado no final.

As coisas precisam se tratadas pelo que são. Sim, colar na prova é uma infração, condenável sem dúvida, mas falsificar documentos com vista a fraudar alguém e ter ganhos financeiros não é a mesma coisa. E nem pode ser.

É comum querer transferir uma culpa para a sociedade de erros cometidos pelas elites do país. Expressões como “Todo brasileiro se puder vai roubar”, na verdade exalam uma forte essência de querer minimizar o erro de políticos de estimação. E não, pular a roleta no metrô, apesar de errado, não é a mesma coisa que sonegar milhões em impostos de forma consciente. As consequências do erro são diferentes. Assim como dizer que quero matar alguém é diferente de faze-lo. Assim como assediar é diferente de estuprar. Assim como xingar é diferente de agredir. O cara que não devolve um troco a mais, está errado, está sendo desonesto, no entanto isso não faz dele um Marcelo Odebrecht, até mesmo admitindo a hipótese que ele faria o mesmo se os papéis fossem trocados. Um bêbado ao volante a 20 km/h é menos perigoso do que um sóbrio a 100 km/h nas ruas de uma cidade.

Tratar com rigor todos os erros, não implica que todos devem ter o mesmo tratamento. Sou favorável a ideia da tolerância zero[2] com o crime. Mas isso não implica nessa balela que é tudo a mesma coisa. Não é.

Querer jogar a culpa da corrupção nas costas do povo brasileiro é desconhecer de forma desonesta que a maioria do povo brasileiro se deixarem se levantará diariamente e cumprirá suas obrigações a fim de ganhar seu sustento de forma digna.

Não podemos inverter o ditado. Nem um peso e duas medidas, tampouco dois pesos e uma medida.








[1] Avião no tráfico é aquele entregador que fica com pouco produto para caso seja pego não gere grande punição ou perda de produto.
[2] Política implementada pelo Prefeito de New York, Rudolph Giuliani , que reduziu drasticamente os números de crimes cometidos na cidade.

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