Leia 1ª Timóteo 1:1-17
Em sua primeira carta a Timóteo a quem Paulo considerava como
um filho traz dois assuntos afeitos ao dia a dia da Igreja de Éfeso onde Timóteo
seria pastor e que nos serve de aprendizado para todas as igrejas na verdade,
Provavelmente escrita durante uma quarta viagem missionária
da qual se tem quase nenhum registro, Paulo buscava orientar a Timóteo, um
jovem pastor, como enfrentar desafios que se apresentariam em seu ministério.
Então nessa carta Paulo trata de questões ligadas a doutrina
e o combate a falsos ensinos, bem como questões de organização institucional da
igreja para seu bom funcionamento.
Já no ínicio da carta Paulo introduz um assunto que parece ter
sido sempre um ponto de preocupação na igreja que nascia na era dos apóstolos.
Uma disputa entre o judaísmo apegado aos ritos e cumprimentos da lei e a ideia
da graça que alcançava os gentios. Nos diversos relatos bíblicos vemos como era
comum esse debate entre cristãos que acreditavam ser necessário o cumprimento
dos ritos da lei para salvação e os que entendiam que a lei não detinha mais
poder sobre os homens.
Não confundir essa a minha afirmação com a ideia de
antinomismo implicando na revogação da Lei. Esse argumento para mim, e pelo que
entendo também para Paulo nada mais é do que um espantalho. Ao se afirmar que a
Lei não tem mais poder sobre o destino eterno do homem não se está afirmando
que ela foi revogada. Mais uma vez reitero não há qualquer dicotomia entre os
pensamentos de Paulo e de Tiago em suas cartas. Na verdade são visões
complementares. Essa certamente é uma questão mais profunda, mas tentando
simplificar, Deus não poderia revogar a Lei moral, em revogando-a estaria
justificando toda a humanidade e não apenas os escolhidos e o sacrifício nem
seria necessário, mas pelo contrário o sacrifício de Jesus acarretou o cumprimento
da Lei, reafirmando o Seu Pacto estabelecido na eternidade. E mais fica claro
que os salvos no Antigo Testamento o foram não pelo cumprimento da Lei e sim
pela Fé justificadora.[1]
Paulo se preocupa em estabelecer o ensino doutrinário[2] na
verdadeira fé como algo essencial para o combate ao que ele chama de falácias[3] e
genealogias[4].
Notem que na afirmação de Paulo que “... promovem discussões do que o
serviço de Deus, na fé.” Paulo não está condenando ou diminuindo o
ensino doutrinário, mesmo porque seria muito incoerente para ele mesmo, visto
como defendia de forma veemente algumas questões. Se me. Permitem mal
comparando, ele condenava a eterna discussão se o nome é bolacha ou biscoito,
mas se preocupava sim com o recheio que era ofertado. E por óbvio, Paulo
entendia que qualquer doutrina e ensino trazia em si um aspecto prático de
aplicação na vida dos cristãos e condenava o mero debate acadêmico o qual muitas
vezes vemos nos dias atuais.
Paulo faz mais uma defesa da Lei como boa[5] e útil,
desde que usada para seu fim. A Lei não foi revogada, ela deixou de atuar sobre
os salvos mas continua firmemente sendo usada para condenação dos ímpios. Paulo
faz uma longa lista, não exaustiva, onde inclui “... transgressores e
rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas,
homicidas, impuros, sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros e para
tudo quanto se opõe à sã doutrina ...”, interessante notar a contraposição
ao que ele chama de são doutrina[6],
que nada mais é do que o verdadeiro e fiel ensino da Palavra.
Em seguida, como é comum em Paulo, faz um contraponto com a doutrina
da graça. É interessante que ele não trata a Graça Salvífica como algo etéreo,
pelo contrário sempre traz os efeitos práticos dela.
Paulo se considera fortalecido, fiel, pela graça
de Deus, e por ela vê eliminada da sua história o tempo em que era “... blasfemo,
e perseguidor, e insolente ...”. Essa graça que em suas palavras transbordou[7]
o remete a misericórdia de Deus em não se importar mais com que ele fez e o
designa para um sublime ministério na fé e no amor em Cristo Jesus.
Paulo então faz a declaração da essência do Evangelho, "...
Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores ... “concedendo
misericórdia evidenciando a completa longanimidade de Cristo para todos que
crerão nele para a vida eterna[8].
Paulo conclui com uma pequena doxologia: “Assim, ao Rei
eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos
séculos. Amém!”
[1] Hb
11 e 12
[2] Cf.
v. 10; 4.1-2; 6.3; 2ª Tm 2:18
[3] É
provável que Paulo estivesse se referindo a histórias e lendas contadas sobre o
Antigo Testamento que os judeus usavam como argumento para o respeito e
cumprimento de determinados atos. - 4.7; 2ª T m 4.4; Tt 1.14
[4]
Existem diversos escritos apócrifos do AT que tratam de um simbolismo e
misticismo em questões que supostamente seriam chaves para o entendimento de
tudo. O gnosticismo bebia muito desse tipo de fonte. – Tt 3:9
[5] Rm
7.7-12; GI 3.19-25
[6] 3.9;
4.6; 6.3; 2ª Tm 1.13-14; 2.2; 4.3; Tt 1.9, 13; 2.1-2
[7] Rm
5:20
[8] cf.
4.8; 6.12, 19; 2ª Tm 1.1,10; Tt 1.2; 37
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