Colossenses 2:8-23
Vamos começar a abordar nessa carta de Paulo o
tema principal com mais profundidade, a pessoa de Cristo e a suficiência
do mesmo na salvação. A explanação de Paulo se divide em três afirmações: A
plenitude está em Cristo, a renovação e vitória estão em Cristo, a liberdade
vem por Cristo.
A plenitude em Cristo (8-10)
Paulo incia esse trecho de sua carta com uma exortação
para que os colossenses tivessem cuidado, não com as grandes heresias, mas
exatamente com as sutilezas e filosofias.[1]
E logo em seguida faz referência a “... tradição dos homens ... rudimentos
do mundo.” Em seguida Paulo faz três afirmações contundentes sobre
Cristo:
1.
Ele é plenamente Deus;
2.
Ele é a perfeição;
3.
Ele é Senhor sobre tudo;
Paulo refuta na pessoa de Cristo a falsa
doutrina que ora vinha sendo pregada, falso ensino esse que ensinava a
necessidade do cumprimento de ritos comportamentais como forma de garantir a
salvação, atos espiritualistas que os levariam supostamente a um novo nível de consagração
que os garantiriam como salvos “especiais”. Ele diz não demonstrando claramente
que a plenitude[2]
reside exclusivamente na pessoa de Cristo Jesus. O que esses falsos mestres presumiam
oferecer a mais já estava totalmente e completamente em Cristo.
Esse ensinamento hoje em dia reside em algumas
vertentes pentecostais que trabalham a ideia da segunda benção, demonstrada por
êxtases espirituais com manifestações extemporâneas de dons místicos. Mas a
verdade das escrituras é que não são necessários mais nenhum outros atos para
completar a obra de Jesus.
A renovação e a vitória estão em Cristo
(11-15)
Paulo faz logo de cara nesse trecho uma
comparação com a circuncisão[3]
do Antigo Testamento, demonstrando que a morte de Cristo efetuou esse ato de
demonstração de pertencimento a aliança de forma cabal, e em outros textos
veremos a substituição da forma visual desse ato pelo batismo. Ele afirma que a
circuncisão dos novos crentes e sua entrada no povo de Deus não se dá mais por
mãos mas no selo do Espírito.[4]
A circuncisão implicava em:[5]
1.
Remoção do pecado;
2.
Mudança de mente e coração;
3.
Entrada na Igreja como corpo
espiritual de Cristo.
O batismo dos gentios em Cristo e em seu
corpo, significava que os mesmos já tinham sido circuncidados. Batismo é
"a circuncisão de Cristo" e significa o lavar que remove o pecado, a
renovação pessoal pelo Espírito de Deus e a participação como membro no corpo
de Cristo.[6]
Não se requer portanto um cumprimento dos ritos determinados no Antigo
Testamento para os membros da Nova Aliança.[7]
A figura de perdão pleno usada costumeiramente
por Paulo se reproduz a partir do brado de Cristo na Cruz – “Tetelestai“[8].
Vejam que é comum Paulo se referir a perdão do pecado no singular, não vamos
discorrer muito sobre esse tema aqui, mas nos dá a ideia de perdão único e
suficiente não sobre cada pecado específico, isso é decorrência, e sim sobre a
condição de pecador.
A consumação plena que vem a partir da obra de
Cristo é o pagamento da dívida da Lei.[9]
“Na execução da sentença de morte sobre Jesus, enquanto ele esteve
pregado no madeiro, Paulo vê o cancelamento da sanção de morte que havia contra
transgressores da lei. O crente não está mais sujeito à ameaça da condenação da
lei.”[10]
O termos “... publicamente os expôs
...” remete a imagem de um general romano trazendo o seus adversário
vencido e humilhado, expondo-o a verginha como derrotado. Essa vitória dessa
guerra travada no mundo espiritual ocorreu na cruz, onde o Filho de Deus
derrotou e venceu o príncipe desse mundo, atirando-o ao chão, amarrando-o.[11]
Qualquer poder que Satanás tivesse sobre os eleitos foi retirado.[12]
“Ein Wörtlein kann ihn fällen” – Destruído
por uma só palavra, numa tradução livre, segundo Lutero no hino de sua autoria
- Ein feste Burg ist unser Gott – Traduzido no Brasil como Castelo
Forte.
A liberdade vem por Cristo (16-23)
Algumas práticas que existiam na igreja de Colossos
eram:
1.
A guarda do sábado. E aqui não estamos
debatendo o dia que seria correto para ser considerado o dia do Senhor, mas as imposições
de cumprimento de rituais referentes a esse dia, que podem ocorrer da mesma
forma num domingo, aliás prática bem comum nas igrejas evangélicas, mesmo nas
mais bem fundamentadas, mas isso é assunto para outras postagens.
2.
Observância das festas judaicas como
algo essencial. Mais uma vez não estamos debatendo a utilidade e conveniência
de comemorações e memoriais, mas a ideia que tais rituais eram libertadores. Não
é difícil encontrar nos arraiás evangélicos quem idolatre o culto, a ceia, e
outros eventos, dando a eles um valor e sentido diferente dos que de fatos eles
tem.
3.
A ideia de que posição dos astros
podiam de alguma forma guiar o destino humano.
4.
Cultos aos anjos. É mais provável aqui
que Paulo estivesse tratando de uma prática que permitiria, supostamente, aos
homens tomar lugar junto com uma adoração mais perfeita que seria proferida
pelos anjos a Deus. Qualquer semelhança com línguas estranhas e êxtases na hora
dos cânticos não será mera coincidência. Aliás por que será tão comum crentes
fazerem cara de dor durante os cânticos nas igrejas?
5.
Busca de intermediários na relação com
Deus. Mais uma vez qualquer semelhança com oração a Santos e a Maria não será
mera coincidência. Porém no meio evangélico é bastante comum, não como santos
mortos, mas com santos vivos atribuirmos certo do poder a oração de algumas
pessoas, tais como pastores – “Ore por mim”, subentendendo que Deus atende mais
ao pastor do que aos crentes de “segundo” escalão.
Paulo encerra esse capítulo de Colossenses dizendo
que tais práticas não tem qualquer valor diante de Deus, pelo contrário causam
o afastamento do crente da verdadeira doutrina libertadora. Sugerimos ler outro
post nosso que trata da postura do Cristão
no mundo.
Encerramos lembrando que a luta dos
reformadores estava diretamente ligada ao combate a incorporação feita aos
longo dos anos de rituais extra bíblicos que haviam surgido.
[1] Notemos
que no Novo Testamento o uso do termo filosofia geralmente estava associado a
todo um palavreado rebuscado que levava a modificação das verdades do Evangelho
pregado pelos apóstolos, normalmente “referia-se não a uma investigação
racional, mas a especulações ocultas e práticas baseadas num conjunto de
tradições”.
[2]
Plenitude - estado do que é inteiro, completo; totalidade, integridade.
[3] É
provável que Paulo aqui não estivesse combatendo de fato a pregação da
necessidade de os crentes serem circundados como faz em Gálatas, mas trazendo a
lume a demonstração que o Espírito já dava aos crentes poder sobre a carne já
que esse era um dos supostos objetivos alcançáveis pela prática das falsas
doutrinas que eram pregadas.
[4] O
termo “despojamento da carne”.
[5] Dt
10.16; 30.6; Jr 4.4, 9.25-26; Ez 44.7,9
[6] cf
v.13; At 2.38; Rm 6.4; 1 Co 12.13; Tt 3.5; 1 Pe 3.21;
[7]
Uso esse termo “Nova” apenas didaticamente, creio que existe uma única aliança,
um único pacto, renovado, mas não modificado, posto que ele sempre foi iniciativa
exclusiva de Deus e portanto perfeito e completo desde a eternidade.
[8] O significado
do termo grego é de liquidação, consumação, encerramento de uma dívida sem que
reste nenhuma pendência.
[9]
Gl. 3:13, 4:4; 2 Co 5:21.
[10] Bíblia
de Estudo de Genebra
[11]
Jo 12;31; Ap. 12:9; Mt 12:29; Lc 10:18
[12] Ez
18; Rm 5.12; 6.23; Hb 2. 14-15; 2Co 4.4; Ef 6.10-18; 1 Pe 5.8
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