Confesso que meu estômago já
embrulhou logo de início ao pensar em escrever sobre isso, e quase paro no
termo pastora. Mas o artigo nem é sobre isso. Vamos tentar analisar vários
pontos das defesas que a tal denominada Pastora Luzmarina Campos, da igreja
Luterana, fez a favor do aborto diante do STF em nome do ISER – Instituto de
Estudos da Religião.
O vídeo pode ser visto aqui: https://www.youtube.com/watch?v=RblN7f6Kg8o
A sessão da audiência pública do
STF para discussão do assunto, descriminalização do aborto, foi realizada há
quase um mês atrás.
Vamos analisar algumas afirmações
feitas por ela.
I – A visão teológica do assunto que ela fará será feita a luz da
perspectiva da ideologia de gênero.
De cara temos aqui uma situação
onde a lente usada para a interpretação bíblica é própria e capciosa. Se uso
lentes coloridas todo o mundo se parecerá colorido conforme a lente que
escolhi. A chave hermenêutica para interpretação bíblica aceita no meio
reformado sempre foi e será a própria Bíblia. O próprio Cristo quando
confrontado por Satanás usando de forma tendenciosa o texto bíblico o rebate
usando a própria Palavra.
II – Ela faz uma confrontação colocando os chamados direitos humanos
acima da própria Bíblia.
Essa tem sido uma tendência muito
comum entre interpretes liberais da Bíblia, encara-la sempre dentro de uma óptica
humanista.
III – Ela trata registros bíblicos como registros submetidos
absolutamente a uma cultura patriarcal e machista.
Invocando um conceito fundamental
ao estudo da Palavra, como inerrante, e sendo a revelação de Deus, nos é impossível
considerar que qualquer parte dela seja desprezível no contexto atual, quem
costuma usar isso são exatamente os liberais teológicos tais como a própria
Luzmarina, Kivitz, Gondim e mesmo Caio Fábio, entre os mais conhecidos no
Brasil.
Não podemos selecionar textos bíblicos
ao nosso bel prazer, como também nos parece que dizer que Deus se submeteu a
caprichos e idiossincrasias humanas é reduzir a divindade a um tamanho
insignificante.
Claro que o uso de rótulos como machista
e misógino nada mais são do que os famosos straw dogs onde tento impingir um
preconceito sobre o meu oponente e daí derivar todos os argumentos, muitas
vezes nem apresentados, a partir daí.
IV – Ela deturpa o sentido do Laicismo
Primeiramente tenho dito bastante
que o conceito de laicismo surgiu exatamente no sentido inverso do que é usado
hoje. A ideia inicial era separar o estado da Igreja para que o primeiro não
tivesse influência na segunda, e não o contrário, embora todos os reformados
atualmente concordem que o tempo dos governos teocráticos no mundo foram
restritos a Israel. No entanto essa ideia de que os cidadão de um país tendo
sua formação cristã não devam usar seus valores éticos e morais nas suas
escolhas e ações diárias é querer impedir a livre manifestação das pessoas em
nome de minorias quaisquer que sejam. Essa ideia está intimamente ligada a
estratégia do marxismo cultural.
V – Criminalização é ruim em si.
Essa é uma ideia recorrente na
esquerda de que o combate ao crime condenando os criminosos é danoso. É óbvio
que a forma de punição deve ser sempre ajustada ao tamanho do crime. No entanto
a impunidade nunca será a melhor forma de tratar qualquer erro que seja. A
associação de que o número de abortos aumenta enquanto proibido pela lei não
faz o menor sentido.
VI – Os argumentos contra o aborto são religiosos.
De fato, um cristão em consonância
com a Palavra será sempre contra o aborto, e favor da vida, mas isso é uma falácia,
existem diversos depoimentos contra o aborto de médicos e cientistas não cristãos
que se posicionam dessa forma usando os argumentos do direito do nascituro a
vida e não apenas condicionados aos desejos da mãe.
VII – Um feto com doze semanas não é ainda um ser vivo.
Aqui encontramos uma incoerência
sem tamanho, enquanto os próprios defensores do aborto nos dizem que não
podemos considerar um feto recém gerado como vida porque não teríamos como
estabelecer o momento exato da compreensão do ser como indivíduo, eles tentam
estabelecer um critério de 12 a 14 semanas. É muito fácil vislumbrar que isso nada
mais é do que um cavalo de troia, primeiro admitamos o ato com 14 semanas,
posteriormente lutaremos pela extensão desse prazo até mesmo a 38ª semana, ou
quem sabe ainda às primeiras horas de vida.
Apesar de defender a ideia de que
a questão deve ser desvinculada do aspecto religioso ela traz uma série de argumentos
baseados na Bíblia, mesmo que com uma interpretação bem distorcida, para
defender a prática do aborto, e são essas que vamos tratar a partir de agora.
1.
Segundo
ela Êxodo 21:22 dá base para dizer que o feto não é uma vida, posto que numa
morte acidental dele não seria cobrado uma pena capital, mas uma indenização.
Primeiramente
a palavra usada no hebraico, traduzida equivocadamente por aborto, se refere a
um parto prematuro. A palavra yatsa é a mesma usada em outros
locais para ser referir ao nascimento normal de uma criança conforme Genesis
25:25,26.
Na versão King
James onde o texto está melhor traduzido trata da briga entre dois homens e que
em consequência a mulher seria atingida e então daria à luz prematuramente.
Outro ponto a
observar é que a pena capital por retirada de uma vida era sempre condicionada
a intenção de matar, ou seja um crime doloso. Os crimes culposos não eram
punidos com a pena capital, para isso Deus estabeleceu cidades de refúgio para
assassinos de crimes culposos.
Portanto não há
nada nesse texto de êxodo que dê margem a um entendimento que o feto não seria
considerado uma vida.
Aliás pelo
contrário vemos no episódio entre Maria e Isabel que o feto João Batista se
manifesta ante a proximidade do feto Jesus, esse segundo com apenas três meses
de gestação, justo o tempo em que abortistas tentam delimitar como vida.
2.
Em Números
5 há a prática autorizada do aborto por um sacerdote.
O texto de Números
5 trata da desconfiança sem provas de adultério por parte da esposa.
Primeiramente não há nada no texto que corrobore a ideia de que o objetivo
seria abortar o feto, mesmo porque o que se fazia era um teste para ver a
fidelidade da mãe, segundo não há qualquer relato que em caso de adultério o
bebê sairia naquele momento da barriga da mãe.
Convém lembrar
que naquele momento quase não existia revelação escrita e muitos atos em Israel
eram feitos e submetidos a condições místicas que era a forma como Deus
revelava a cada momento sua vontade.
O texto nos
leva a ideia de uma reação física da mãe provocada pelo próprio Deus num ato
simbólico envolvendo o beber de um certo líquido, alguns defendem que era usada
a própria terra do tabernáculo para misturar na água, e assim comprovar ou não
o ato de adultério.
Mas não se
fala em simplesmente abortar a criança.
3.
Na Bíblia
não há condenação ao aborto.
De fato, não
se encontrará na Bíblia um texto direto como Não abortarás, mas não
será a única situação na qual encontramos na Palavra condenação a atos a partir
de princípios bíblicos. Tratando-se de uma vida, claro que o Não
matarás se estende sobre o ato. Acreditar que Deus não dá importância
ao feto é desconhecer maldições como a dada aos efraimitas que incluía inclusive
ventres
que abortem, e a benção que garante as demais tribos mulheres que
geraram sem abortar.
O aborto de um
feto sempre foi um assunto sério diante de Deus.
4.
Só
existe um texto bíblico que faz referência a um embrião, no Salmo 139.
Aqui o
argumento é de mau caratismo mesmo, intencionalmente ela deixa de citar
diversos textos bíblicos que tratam o feto como um ser vivo.
Os textos
falam por si só, vejam.
· “Os
filhos lutavam no ventre dela; então, disse: Se é assim, por que vivo eu? E
consultou ao Senhor.” Gênesis 25.22
·
“Respondeu-lhe o Senhor: Duas nações há no
teu ventre, dois povos, nascidos de ti, se dividirão...” Gênesis 25.23
·
“... porquanto o menino será nazireu
consagrado a Deus desde o ventre de sua mãe; e ele começará a livrar a Israel
do poder dos filisteus” Juízes 13.5
·
“... porque o menino será nazireu consagrado
a Deus, desde o ventre materno até ao dia de sua morte” Juízes 13.7
·
“Nunca subiu navalha à minha cabeça, porque
sou nazireu de Deus, desde o ventre de minha mãe...” Juízes 16.17
·
“As tuas mãos me plasmaram e me
aperfeiçoaram, porém, agora, queres devorar-me. Lembra-te de que me formaste
como em barro; e queres, agora, reduzir-me a pó? Porventura, não me derramaste
como leite e não me coalhaste como queijo? De pele e carne me vestiste e de
ossos e tendões me entreteceste. Vida me concedeste na tua benevolência, e o
teu cuidado a mim me guardou.” Jó 10.8-12
·
“Aquele que me formou no ventre materno não
os fez também a eles? Ou não é o mesmo que nos formou na madre?” Jó 31.15
·
“A ti me entreguei desde o meu nascimento;
desde o ventre de minha mãe, tu és meu Deus” Salmo 22.10
·
“Pois tu formaste o meu interior, tu me
teceste no seio de minha mãe. Graças te dou, visto que por modo assombrosamente
maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe
muito bem; os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado,
e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos me viram a
substância ainda informe” Salmo 139.13-16.
·
“... porque eu sabia que procederias mui
perfidamente e eras chamado de transgressor desde o ventre materno.” Isaías
48.8
·
“Ouvi-me, terras do mar, e vós, povos de
longe, escutai! O Senhor me chamou desde o meu nascimento, desde o ventre de
minha mãe fez menção do meu nome.” Isaías 49.1
·
“Mas agora diz o Senhor, que me formou desde
o ventre para ser seu servo...” Isaías 49.5
·
“Antes que eu te formasse no ventre materno,
eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí
profeta às nações.” Jeremias 1.5
·
“Pois ele será grande diante do Senhor, não
beberá vinho nem bebida forte e será cheio do Espírito Santo, já do ventre
materno.” Lucas 1.15
“Ouvindo esta a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre; então, Isabel ficou possuída do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre! E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor? Pois, logo que me chegou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criança estremeceu de alegria dentro de mim.” Lucas 1.41-44
“Ouvindo esta a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre; então, Isabel ficou possuída do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre! E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor? Pois, logo que me chegou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criança estremeceu de alegria dentro de mim.” Lucas 1.41-44
5.
Segundo
ela o "Não Matarás" não tinha caráter universal.
De fato, em
muitos momentos Deus deu ordem para que pessoas, povos inteiros fossem mortos.
Desconsidera ela que Deus tem o poder de tirar a vida conforme 1º Samuel 2:6, e
em nenhum momento é dado ao homem o direito de fazer isso por sua própria
vontade.
Já em Gênesis 9:6
Deus declara a pena de morte para um homem que tirar a vida de outro homem. O
próprio Jesus traz em Mateus 5 uma ampliação da compreensão do princípio.
6.
Como
forma de empoderamento ela cita a participação de mulheres no ministério de
Jesus.
De fato, no
Novo testamento é citado algumas vezes que mulheres seguiam a Jesus, mas não há
um só texto dando margem a participação feminina na liderança da Igreja. Apesar
que mesmo que isso fosse verdade nada mudaria em relação ao aborto.
7.
Ninguém
pode julgar nem condenar, a não ser Deus, enquanto o próprio Jesus não condenou
a adúltera.
Bem, primeiro
ela tinha que se resolver se abortar é errado ou não visto que se entendermos
que não há erro nem deveríamos tratar dessa questão do julgamento e condenação.
O Novo
Testamento está repleto de casos de apóstolos proferindo condenações sobre atos
errados à luz da Palavra.
·
“Ou não sabeis que os santos hão de julgar o
mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de
julgar as coisas mínimas? Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos?
Quanto mais as coisas desta vida!” (1Co 6.2,3)
·
“E, se ele não os atender, dize-o à igreja;
e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano.”(Mt
18:7)
Os textos acima
já derrubam completamente por terra a argumentação dela.
Sobre Jesus não
condenar a mulher adúltera é comum os usuários deste texto esquecerem o
restante dele “vá e não peques mais.” Fora que o contexto dele sempre é
desprezado, o que estava ali em discussão nem de longe era vontade fazer justiça
pelo pecado, mesmo porque a Lei implicava no apedrejamento dos dois, a mulher e
o homem adúltero. Fica claro que queriam induzir Jesus a um erro e com isso o
colocarem em uma posição complicada.
Por fim, ela traz mais uma vez o
argumento do Patriarcado, já estou meio cansado de debater essa questão de que
alguns argumentos e princípios bíblicos são apenas resultantes de vontade
humana. O Deus que adoro não se submeteria a caprichos humanos, não
condicionaria suas decisões as idiossincrasias dos homens. Por mais recorrente
que esse argumento carregado do Teísmo Aberto da Teologia Liberal venha se
infiltrando mesmo em igrejas reformadas não há como conciliar o Deus revelado
em Sua Palavra com esses conceitos. Atentar contra a vida do feto é
assassinato, fomos criados a imagem e semelhança de Deus, logo tirar uma vida inocente
deliberadamente é atentar contra o próprio Deus.
Mais teríamos para falar contra o
aborto, mas o objetivo aqui foi apenas de desconstruir os argumentos dessa que,
conforme o Pastor Yago Martins, foi canal da voz do diabo.
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