Isaias 5.8-25
É comum vermos nos filmes e peças de teatro hoje em dia, cada
vez mais estereótipos onde pessoas conservadoras, com firmes valores são
retratadas como pessoas chatas, amarguradas e déspotas. Por outro lado, o grupo
dos descolados é sempre retratado com pessoas ditas tolerantes com tudo e
alegres e desenvoltas. Mas será mesmo assim a vida real? Será mesmo assim
aquilo que Deus requer de nós?
Introdução - Os Dilemas, as Escolhas da Vida
Os cristãos devem sempre ser levados ao exame das Escrituras,
que nos ensina, de forma objetiva e direta, o que Deus requer de suas
criaturas. Sua Lei Moral, resumida nos Dez Mandamentos (Ex 20) e,
posteriormente, por Jesus em Mt 22.37-40 e Jo 14.15, constitui nosso único padrão
de julgamento e de base para as nossas ações. Sob a iluminação do Espírito
Santo devemos procurar aplicar os padrões de Deus às situações específicas do
dia a dia. Em nossas atividades diárias somos chamados a exercer decisões
e a definir nossos caminhos. Nessas decisões enfrentamos alguns dilemas e eles
ocorrem por duas razões:
(1) Ausência de padrões - Vivemos em um mundo
submerso em pecado que despreza os padrões de justiça de Deus. A sociedade, de
uma forma geral, encontra-se envolvida em uma forma de vida que contraria, em
vários pontos, os princípios da lei de Deus. Os padrões parecem não existir, a
forma de se medir felicidade e sucesso difere daquela encontrada na Palavra de
Deus. O objetivo de vida não é a glorificação de Deus e a busca desenfreada da
felicidade pessoal, a qualquer preço e fora de quaisquer princípios, passa a
determinar as ações das pessoas. O comportamento da sociedade em que vivemos
termina por influenciar o nosso pensar e o nosso agir. É uma força negativa que
nos afasta dos preceitos de Deus. Temos que ser vigilantes e termos a
compreensão que as nossas convicções têm que ser derivadas dos preceitos de
Deus e não da forma de vida do mundo.
(2) Padrões enganosos - Uma segunda razão provém
não da ausência de padrões, mas exatamente porque o mundo procura racionalizar
o comportamento injusto e ilegal invertendo posições - chamando o errado de
certo, propagando a inversão de valores. Inversão de valores? O que é mesmo
isso? É quando desrespeitamos abertamente o entendimento natural das
determinações de Deus e passamos a caluniar essas mesmas determinações, que
representam os seus princípios de justiça, as suas leis. É quando passamos a
divulgar que todas elas não passam de fábulas, mitos, idéias ultrapassadas,
coisas que não deveriam fazer parte da mente moderna das pessoas, nesse novo
século em que adentramos.
Por acaso achamos que isso não nos afeta? Estamos enganados.
Exemplo do ministro de nossa denominação que tem artigo publicado na Internet,
sob o título o "Mito do Dragão Adormecido", tratando da
"sexualidade dos solteiros". Nele apresenta a igreja e o seu ensino
como, retrógrado, ultrapassado, repressor. A visão do mundo é apresentada como
se fosse aceitável aos cristãos...
Possivelmente a passagem bíblica que se refere com maior
clareza a essa situação é Isaías 5.8-25. Nela Deus condena veementemente a
forma de vida do mundo retratada não somente no abandono dos padrões e da Lei
divina, como também ao inverterem os valores, estabelecendo para si padrões que
são totalmente antagônicos e contrários àqueles que Deus revelou em Sua
Palavra.
Em Isaías 5.8 a 25, temos seis avisos solenes contra a
impiedade, contra práticas que contrariam os princípios de justiça de Deus, que
vão contrário á ética do povo de Deus. São lertas contra a inversão de valores.
No trecho temos seis condenações explícitas. Cada uma delas é precedida pela expressão
"Ai dos que". A palavra traduzida por "ai" (hebr.: hoi)
ocorre 51 vezes em outras passagens do Antigo Testamento (46 vezes com o
sentido de condenação, 4 vezes conclamando a um lamento, 1 vez como uma chamada
- Is 55.1). Ela significa, portanto, mais do que uma constatação prática do
estado lamentável das pessoas que se colocam contra Deus. Ela representa um
pronunciamento de uma sentença judicial, uma condenação, uma maldição que
sobrevem em função das situações e questões descritas e que caracterizam o
indiciado. Ela indica, portanto, ao mesmo tempo, um lamento e uma
condenação.
Um lamento, pela constatação de que os princípios
de Deus estão sendo desrespeitados e negligenciados, bem como pela condição
daqueles que se envolvem nesses pecados - não somente serão infelizes, no
final, mas são alvo da ira do Deus soberano ("Horrível coisa é cair nas
mãos do Deus vivo" - Heb 10.31).
Uma condenação para a forma dissoluta de
vida, mostrando a perfeita execução de justiça da parte de Deus, que não fica impassível
perante a quebra de seus mandamentos. Trata-se de um pronunciamento formal, da
parte de Deus, perante o desrespeito aberto aos seus padrões, representando um
intenso aviso, ao seu povo, de que ele é Santo e Justo e espera, como
conseqüência, que os seus sejam igualmente santos e justos.
As Condenações
Examinemos essas seis condenações explícitas:
1. Contra a Avareza: O primeiro dos avisos (Ais) é contra a avareza (vs
8-10). A natureza humana pecadora procura o máximo de bens e satisfação para si
própria, indiferente às necessidades alheias. Na busca pela posse do
máximo possível, ultrapassa os limites da iniciativa legítima e quebra a lei de
Deus e os direitos dos semelhantes. Nesses versos lemos: Ai dos que
ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até que não haja mais lugar, e ficam
como únicos moradores no meio da terra! Uma condenação semelhante é
encontrada em Mi 2.2 e em Nem 5.1-8. Na época
do Antigo Testamento, dentro do Povo de Deus, isso ocorria com a procura por
grandes propriedades e latifúndios. Deus havia colocado na lei civil de Israel
limites ao direito de propriedade de tal forma que a posse da terra era
assegurada ao maior número de pessoas possível. Existiam aqueles, entretanto,
cuja cobiça falava mais alto do que o respeito a Deus e aos homens. O verso 8
indica que o propósito final desses corações avarentos era ficar "como os
únicos moradores da terra", ajuntando para si uma propriedade após outra.
Mas, em Lev 25 Deus havia estabelecido leis rígidas para a compra e
venda de propriedades e de terras, no sentido de evitar o acúmulo de riquezas
em poucas mãos. Tudo era regulado pelo ano de jubileu e as terras eram vendidas
levando em consideração a sua proximidade ao ano de jubileu. Se estivesse
próximo - custavam menos. Se o ano de jubileu estava distante, custavam mais.
Isso porque nesse ano (50 º) ela retornava aos donos e às famílias originais. O
povo havia desprezado essas diretrizes. Tanto a ganância dos compradores, como
a dos vendedores gerou injustiça social e carências na terra. Deus,
metaforicamente, diz que tal situação chegou aos seus ouvidos e passa a dar o
teor específico da condenação: A meus ouvidos disse o SENHOR dos
Exércitos: Em verdade, muitas casas ficarão desertas, até as grandes e belas,
sem moradores. E dez jeiras (40 mil m2 - 4 hectares) de vinha não darão mais do
que um bato (medida de líquidos: 22-28 litros), e um ômer (medida
de sólidos: 220-280 litros) cheio de semente não dará mais do que um
efa (medida de sólidos: 22-28 litros). O resultado dessa riqueza
amealhada de forma indevida, dessa inversão de valores, será: O abandono das
propriedades - tanto as vastas terras ficarão desertas, como as belas
construções nelas edificadas. Esse abandono parece ser causado pela
improdutividade da terra, pela inabilidade no cultivo agrícola produtivo.
Planta-se na terra, mas as vastas plantações não produzem os frutos desejados.
A avareza, que almejava riqueza, passa a gerar apenas pobreza.
2. Diversão Indiscriminada, Frivolidade: O segundo aviso é contra a procura
indiscriminada do divertimento (v. 11 - 17). Ai dos que se levantam
pela manhã e seguem a bebedice e continuam até alta noite, até que o vinho os
esquenta! As pessoas estão ávidas para preencherem suas vidas com
diversão, com as falsas alegrias dessa vida. Notem que há diligência e extremo
interesse em seguir os passos da auto-indulgência. Levantam-se cedo para
procurar a bebida e continuam bebendo até as altas horas da noite. Liras
e harpas, tamboris e flautas e vinho há nos seus banquetes; porém não consideram
os feitos do SENHOR, nem olham para as obras das suas mãos. A música e
os instrumentos musicais estão sempre presentes e tudo isso serve para
anestesiar os sentidos, para sufocar a voz de Deus, presente nas obras e
maravilhas que tem realizado. Prestam atenção à diversão, as festas aos
banquetes, à bebedice, mas não olham os feitos de Deus. O resultado da
"geração MTV" é um povo de mente narcotizada, no qual impera a falta
de entendimento. Portanto, o meu povo será levado cativo, por falta de
entendimento; os seus nobres terão fome, e a sua multidão se secará de
sede. A busca desenfreada pela diversão, diz o Senhor, provocará não
somente a escravidão pela falta de entendimento, mas terão carências as físicas
essenciais - fome e sede, que atinge tanto as elites como a multidão. Nessa
situação as pessoas perecem. "Por isso, a cova aumentou o seu apetite,
abriu a sua boca desmesuradamente; para lá desce a glória de Jerusalém, e o seu
tumulto, e o seu ruído, e quem nesse meio folgava. Então, a gente se abate, e o
homem se avilta; e os olhos dos altivos são humilhados". A Cova (sheol -
o inferno) suga, juntamente com o povo, toda a glória e beleza da terra. Para
essa cova caminha a aparente alegria, o tumulto os ruídos, a bebedeira. Em vez
de se alegrarem no Senhor, procuram os prazeres enganosos. Por causa dessa
inversão de valores as pessoas estarão abatidas e aviltadas. Mas o
SENHOR dos Exércitos é exaltado em juízo; e Deus, o Santo, é santificado em
justiça. Então, os cordeiros pastarão lá como se no seu pasto; e os nômades se
nutrirão dos campos dos ricos lá abandonados. A justiça e a santidade
de Deus será exaltada e o seu povo verdadeiro (os cordeiros) serão alimentados
e herdarão a terra.
3. Corrupção Aberta: O terceiro aviso é contra aqueles que lideram a
impiedade e corrução (vs. 18 - 19). Ai dos que puxam para si a
iniqüidade com cordas de injustiça e o pecado, como com tirantes de carro! Isaías
compara esses pecados a uma carruagem, puxados por tirantes fortes, pelos
praticantes. Tais pessoas mergulham em arrogância e desafiam a Deus. E
dizem: Apresse-se Deus, leve a cabo a sua obra, para que a vejamos;
aproxime-se, manifeste-se o conselho do Santo de Israel, para que o
conheçamos. Caminham por esse mundo como se Ele não existisse. Como se
os seus princípios de justiça estivessem abolidos. Demonstrando incredulidade
nos tempos e na providência de Deus, zombam dele e de sua paciência, clamando
para que ele se apresse e termine a sua obra, mas não com sinceridade de
coração.
4. Inversão de Valores: O quarto aviso é contra os que mudam os rótulos
e confundem a injustiça com a justiça (v. 20). Ai dos que ao mal chamam
bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o
amargo por doce e o doce, por amargo! Representa a atitude de inversão
de valores mais presente em nossos dias. Os que passam a chamar o mal de bem.
Os que defendem as coisas más e vis desse mundo, dizendo "o que tem isso
demais"? "Isso não tem nada a ver"! Chamam a escuridão de
luz. Atacam a luz e dizem que ela representa as trevas, o atraso, o pensamento
retrógrado. Dizem que as coisas amargas do pecado são, na realidade, doces;
enquanto que rejeitam as coisas doces e boas contidas na lei santa de Deus,
dizendo que elas são remédio amargo e ineficaz.
5. Orgulho, desprezo aos conselhos: O quinto aviso é contra os
orgulhosos. Contra aqueles que recusam os conselhos (v. 21). Ai dos que
são sábios a seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito! Contra
os que persistem em resistir ao chamado ao arrependimento. Contra aqueles que
desprezam a sabedoria e a prudência dos justos e da justiça de Deus, porque são
"sábios aos seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito".
Esses, com uma opinião mais alta de si do que deveriam ter, recusam o caminho
da humildade e não verificam que a salvação começa com a constatação de que
nada somos e de que dependemos única e exclusivamente de Deus.
6. Arrogantes espoliadores: O sexto aviso é contra os arrogantes (vs. 22 -
25). Ele fala de que esses se dão à bebida forte e ao vinho, mas trata-se de um
grupo de pessoas diferente dos que se entregam à bebida descritos no segundo
aviso. Enquanto que a preocupação daqueles era a busca do divertimento, esses
aqui estão deliberadamente envolvidos na subversão da justiça. Ai dos
que são heróis para beber vinho e valentes para misturar bebida forte, os quais
por suborno justificam o perverso e ao justo negam justiça! Eles são
arrogantes e valentes e isso tanto os leva, como provem da ingestão continuada
das bebidas. Concretamente, eles têm o seu interesse no ganho indevido que a
posição de autoridade que ocupam lhes confere. O suborno é o seu ganha pão. Por
suborno, não temem em desrespeitar a justiça de Deus. Livram o perverso e negam
justiça ao justo.
Deus abomina a essa inversão de valores. Sua condenação virá
inevitavelmente em seu devido tempo. Pelo que, como a língua de fogo
consome o restolho, e a erva seca se desfaz pela chama, assim será a sua raiz
como podridão, e a sua flor se esvaecerá como pó; porquanto rejeitaram a lei do
SENHOR dos Exércitos e desprezaram a palavra do Santo de Israel. Por isso, se
acende a ira do SENHOR contra o seu povo, povo contra o qual estende a mão e o
fere, de modo que tremem os montes e os seus cadáveres são como monturo no meio
das ruas. Com tudo isto não se aplaca a sua ira, mas ainda está estendida a sua
mão. Tais pessoas sumirão como um monte de galhos secos ou de mato
seco é engolido por uma língua de fogo. Com suas raízes podres, serão mais
rapidamente consumidos e virarão pó. Tudo isso porque rejeitam a lei do
Senhor e desprezam a palavra do Deus todo poderoso. A ira de Deus se manifesta.
Isso até mesmo para com aqueles que integrando o seu povo, se entregam à forma
dissoluta de vida condenada por esses seis avisos. Deus não os deixará impunes,
como se fossem vítimas de um terremoto, os cadáveres serão amontoados nas ruas
e a ira de Deus não será desviada.
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