O livro Romanos é uma fonte
riquíssima para entendermos de forma sistemática a história da relação de Deus
com os homens e suas implicações e desdobramentos. Mesmo trechos que parecem
pequenos trazem muita riqueza para nosso entendimento.
Vamos trabalhar três artigos num
desses “pequenos” trechos, não de forma exaustiva, mas vamos tentar trazer
alguns ensinamentos.
No crescente do ensinamento que é
carta de Paulo a igreja em Roma, o capítulo 5 introduz o conceito da
justificação pela fé e trata da pacificação entre Deus e o homem.
No primeiro artigo tratamos da
PAZ que temos como consequência
da justificação pela fé. (Veja aqui).
Neste segundo artigo vamos tratar
da GRAÇA ante o rei concedida.
“Pelo
qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos
gloriamos na esperança da glória de Deus.“ Romanos 5:2
De tanto ser abordado nas igrejas
cremos que o conceito de GRAÇA é por demais conhecido, pelo menos
academicamente. Mas vamos abordar mais uma vez mesmo que de forma resumida e
simplificada.
A palavra Káris ou Charis,
traduzida quase sempre por GRAÇA no NT corresponde ao hebraico HESED. Pode ser
traduzido ainda como “favor”, “misericórdia”, “bondade amorosa”, ou “graça que
procede de Deus”.[i]
GRAÇA é favor imerecido de Deus, mediante o qual os homens são salvos por meio
de Cristo.[ii]
Quando falamos de GRAÇA
inevitavelmente estamos falando da regeneração, de arrependimento, de perdão,
de salvação e óbvio do amor divino. Mas a GRAÇA de Deus não somente salva, mas
vivifica, capacitando-os a viver em santidade.
Como no artigo anterior vamos
abordar três aspectos associados concessão dessa GRAÇA.
GRAÇA CONCEDIDA MEDIANTE CRISTO.
Não há como dissociar Graça e
Justificação. Enquanto a segunda nos garante o acesso como inocentes ante o
Pai, a primeira nos promove a concessão da segunda.[iii]. A
graça de Deus garante gratuitamente a justificação em Cristo Jesus.
Através da morte expiatória de
Cristo, a graça manifestou-se aos homens, garantindo-lhes a justificação e a
vida eterna.[iv]
Cristo trouxe-nos completa redenção: comprou a todos com o seu sangue[v];
redimiu-nos da maldição da lei e de nossos pecados[vi];
e, por meio do Espírito, selou-nos para o dia da redenção, segundo as riquezas
da graça.
A despeito de concedida da graça
ser concedida sem cobrança para o homem, importante é ressaltar que ela não tem
custo zero. Pelo contrário, sem o sacrifício de Cristo, um custo
incomensurável, não poderia ser concedida. O preço precisava ser pago e foi
através do processo expiatório.
GRAÇA ABUNDANTE, SUFICIENTE E PERMANENTE.
No mesmo capítulo, mais a frente,
Paulo trata com detalhe da abundância dessa GRAÇA. No inglês existe uma
expressão forte quando se quer encerrar um assunto: - ENOUGH. Uma única palavra
que poderia ser traduzida como BASTA ao encerrar uma discussão, e que trazida
ao nosso contexto significa BASTANTE.
Além de ser graciosa (perdão pelo
trocadilho), a GRAÇA é BASTANTE para tudo a que se propõe. Talvez seja esse um
dos conhecimentos acadêmicos dos mais difundidos nos arraiais evangélicos, porém
tampouco vivenciados na prática.
O entendimento profundo e real
que precisamos enxergar e vivenciar é que não há nada que precisemos, muito
menos que possamos fazer, para entrarmos na amplitude abençoadora dessa GRAÇA.
Ela nos cobre e envolve de uma forma total, completa, suficiente e mais ainda
de forma permanente. Somos justificados por ela.[ix]
A GRAÇA ainda nos promove como
demonstra Paulo a suportar tudo[x]. Paulo tem uma grande lista de aflições
físicas, aprisionamentos, espancamentos, apedrejamentos, naufrágios, rios
perigosos, assaltantes, perseguição de gentios e judeus, noites mal dormidas,
frio e calor, fome e sede. Mas, de forma maravilhosa, certamente a maior
preocupação de Paulo no dia a dia era o bem-estar das igrejas.[xi]
Por outro lado, não há nada que
possa nos fazer perder a GRAÇA. Como presente concedido é nos impossível
recusa-lo, nem antes, tampouco depois de recebe-lo.
GRAÇA PARA ENTRAR NA PRESENÇA DO REI
O terceiro
aspecto que queremos abordar aqui é que a GRAÇA é concedida para entrarmos na
presença do Rei. Ela é que nos concede comparecermos confiadamente diante de
Deus.
Privilégio
maravilhoso, mas que nos trás conjuntamente grandes responsabilidades. Como
Paulo trata mais a frente quando contrapões abundância da GRAÇA contra
abundância do pecado,[xii]
precisamos ter em mente que GRAÇA necessariamente, enfatizamos, consequente,
produz santificação.[xiii]
A graça salvadora não apenas leva os homens a renunciarem a impiedade e a rebeldia
contra Deus, capacita a viver de forma sóbria, justa e pia.
a) Evitar
a impiedade. A impiedade é uma categoria de pecado
que se opõe à piedade (Jd v4). Logo, inclui tudo o que a pessoa faz sem
considerar a Deus a as suas leis morais (Rm1.18). O ímpio não reconhece nem
admite sua dependência de Deus. Os pecados de impiedade incluem: a blasfêmia
contra Deus(Sl 10.13); a malícia (Sl 34.21); a violência (Sl 140.4) e as
iniquidades (Pv 5.22). O cristão deve rejeitar a impiedade, pois os que
negligenciam a piedade serão condenados (Jd vv. 14,16).
b) Evitar
as paixões mundanas. Ser ímpio constitui não apenas uma maneira de
pensar, mas um estilo de vida específico. Os ímpios são materialistas e
sensuais (2 Pe 2.12-14) e buscam as coisas que conduzem aos apetites carnais.
Em lugar do Reino e da justiça de Deus, procuram tudo o que satisfaça seus
desejos pecaminosos desregrados.
c) Viver
vida sensata. A palavra sensato, no original (sophronco), quer
dizer “de mente sã”, “mente sóbria” ou “temperante”. Este termo se refere à
prudência e ao autocontrole proveniente de uma reflexão criteriosa. O
temperante é alguém que não se deixa dominar pela ansiedade; é alguém que
pondera seus atos e suas respectivas consequências de acordo com a Palavra de
Deus (1 Tm 3,2;).
d) Viver
justa e piedosamente. A graça de Deus possibilita ao crente uma vida
justa e piedosa diante de Deus e dos homens. O termo “piedoso” refere-se ao
cristão que é reverente a Deus e pratica o bem em todos os seus
relacionamentos. Uma pessoa piedosa tem como centro a vontade de Deus em todos
os seus caminhos (Pv 3. 5,6; 1 Co 10.31).
CONCLUSÃO
Vemos nesse segundo
verso do Romanos 5, Paulo no mostrando a segunda consequência da justificação,
a entrada pela GRAÇA na presença do Rei, com todos as suas benesses e consequências.
A despeito da
consequente santificação requerida, podemos entrar confiadamente na presença de
Deus, porque a mesma GRAÇA que nos dá acesso e exige essa santificação, é a
GRAÇA que nos capacita a alcançar essa santificação para agradar a DEUS.
Pensemos
nisso. No próximo artigo vamos abordar a ESPERANÇA.
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