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Romanos 5:1-4 - Parte I - A PAZ



O livro Romanos é uma fonte riquíssima para entendermos de forma sistemática a história da relação de Deus com os homens e suas implicações e desdobramentos. Mesmo trechos que parecem pequenos trazem muita riqueza para nosso entendimento.

Vamos trabalhar três artigos num desses “pequenos” trechos, não de forma exaustiva, mas vamos tentar trazer alguns ensinamentos.

No crescente do ensinamento que é carta de Paulo a igreja em Roma, o capítulo 5 introduz o conceito da justificação pela fé e trata da pacificação entre Deus e o homem.

“Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo;” Romanos 5:1

Existem algumas discussões sobre o tempo verbal mais correto para o verbo ter usado nesse verso. Alguns defendem o tenhamos enquanto outra corrente defende o uso do temos mesmo, como está grafado acima.

Parece uma pequena diferença, mas pensemos que enquanto o tempo conjuntivo (tenhamos) denota algo em construção condicionado há determinadas condições, o tempo no presente do indicativo (temos) denota uma ação presente e definitiva.

A luz da obra redentora ensinada em toda a Bíblia, a ideia do tempo presente do indicativo, com a ideia de algo imediato e definitivo nos parece a forma correta de uso. Ainda mais se tivermos em mente que a PAZ aqui referida não é uma paz conquistada e sim uma PAZ concedida.

Pensemos três aspectos importantes em relação a essa PAZ estabelecida por total iniciativa do próprio Deus e através da obra redentora levada a efeito através de Cristo pelo próprio Deus.

PAZ MUITO ALÉM DA AUSÊNCIA DE CONFLITO.

No nosso mundo que vive pelo menos um conflito entre povos desde que a história registra algo, a nossa tendência é entender paz como o antônimo de guerra, mas quando tratamos da paz com Deus vai muito além disso. Não traçamos um armistício com um oponente. Não damos um passo de boa vontade atrás de tranquilidade. Não abrimos mão de algo ou ofertamos algo em troca de uma bandeira branca.

Começando pelo fato de que a iniciativa e mais, a completude do ato, está em Deus, a Paz tratada por Paulo traz a ideia de um reestabelecimento completo e total de relação. Não estamos falando de tolerância mas de envolvimento. Essa paz envolve reconciliação, convivência e não apenas coexistência. Integridade e não parcialidade.

PAZ RECONCILIATÓRIA E CONCEDIDA

Um outro aspecto importante, já citado acima, é a ideia da reconciliação e da concessão. A PAZ concedida por Deus não é aquilo que o homem pensa como paz.

“Deixo-vos a paz; a minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não permitais que vosso coração se preocupe, nem vos deixeis amedrontar” João 14:27

Quando trabalhamos uma Paz humana sempre pensamos nas condições imposta para mantê-la. Aqui não há condições, Deus pensou, Deus planejou, Deus decretou, Deus executou e Deus concedeu PAZ aos seus escolhidos. A adoção como filhos nos leva a situação de participantes de forma completa do SER de Deus.

O Breve Catecismo da Assembleia de Westminster nos diz na sua primeira pergunta que o fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre.[i] Essa Paz reconciliatória e concedida por Deus nos dá acesso ao coração do Pai.

PAZ PRESENTE, FUTURA E ETERNA

Um terceiro e último aspecto que queremos abordar nesse primeiro artigo é perenidade dessa PAZ. Enquanto nos conceitos e convívios humanos os tratados de paz estabelecidos vivem sob a égide da desconfiança sobre seu tempo de duração, quando tratamos da PAZ concedida por Deus, temos claramente que ela não é algo a ser alcançado futuramente, mas é presente, real, sentida aqui e agora.

A pacificação na nossa relação com Deus nos permite já no presente gozar as bênçãos da plenitude do gozar de Deus. O fruto do Espírito Santo é consequência dessa Paz concedida pelo próprio. Mas a despeito de sua presença clara no hoje, essa paz também nos traz a garantia da sua eternidade, ela perdurará por toda nossa existência aqui e mais ainda pela nova existência depois que passarmos por essa breve experiência aqui na Terra. E isso é que nos traz a convicção da perseverança, ou preservação como preferem alguns, dos santos no caminho.

CONCLUSÃO

Vemos nesse primeiro verso do Romanos Paulo transmitindo algo fantástico para nós, Deus nos concedendo de forma graciosa pelo seu Espírito Santo uma PAZ que excede todo o entendimento[ii] posto que ela vai muito além do que o conceito de que tudo está bem, mas porque sabemos que tudo irá bem no final. Paz essa concedida já no hoje, e em nada precária, pelo contrário, garantida e preservada por toda a eternidade.

O sentir dessa paz faz toda diferença em nossas vidas aqui, como preocupar-se com migalhas de nossos conflitos comezinhos se temos como foco uma relação perfeita, garantida e totalmente estabelecida por quem detém todo o poder.

Pensemos nisso. No próximo artigo vamos abordar a GRAÇA.





[i] Rm 11.36; 1Co 10.31; Sl 73.25-26; Is 43.7; Rm 14.7-8; Ef 1.5-6; Is 60.21; 61.3.
[ii] Fp 4:7

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