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Cristianismo e Eleições - Uma análise crítica de uma crítica não tão analítica assim.




Esse artigo é sobre um vídeo postado após a eleição pelo Pr. Antonio Costa ao qual faço minhas críticas.

Ele começa fazendo uma generalização, forma bem própria de quem quer se colocar como superior a tudo isso que está aí, onde a crítica vai à igreja da qual ele está fora e a apenas observa.

Em seguida faz uma chamada a igreja voltar a época apostólica, antes ainda, a Jesus Cristo, o que é um tanto complicado já que no sermão da montanha a igreja evangélica nem sequer havia ainda sido definida, o que só vem acontecer após a morte, ressureição e assunção de Cristo.

Não demora muito surge a razão essencial do vídeo, a questão política. Começa então ele a soltar alguns argumentos que vamos considerar.

- Você pode ter divergências com o PT.

Ora, o que existe entre a cosmovisão cristã e a cosmovisão sócio comunista não são divergências, e sim total incompatibilidade no seu nascedouro. Enquanto o cristianismo entende o paraíso futuro e a total dependência em Deus, o sócio comunismo entende e busca como meta o paraíso aqui na terra, e sempre entendeu a religião como algo que impede “o povo” de querer buscar essa satisfação das necessidades terrena.

- Conheço pessoas melhores do que eu que já fizeram o que eu jamais faria.

Essa frase denota algumas coisas. Primeiro ao associar obras à qualidade das pessoas já erra na essência ao ligar obras e o ser crente e portanto ser salvo. Em seguida demonstra uma arrogância monstruosa ao se auto atribuir um grau de virtude quase como a dizer “eu poderia condenar mas não o faço por ser melhor que os outros”. Isso fica muito claro quando em seguida ele de fato diz, mesmo que de forma transversal, que as pessoas erraram muito em não votar no candidato do PT, escolhendo a Bolsonaro.

- 5 pecados gravíssimos.

Um certo cinismo vem aqui, com uma voz embargada, afetando mais uma vez um ar de superioridade, apesar de não condenar(!?) ele vai apontar cinco pecados gravíssimos.

1.   Apoio acrítico e institucional a Jair Bolsonaro.

Embora algumas igrejas possam ter feito um apoio institucional, a esmagadora maioria não o fez de forma institucional, inclusive a IPB da qual ele faz parte.
O que tivemos foram líderes religiosos declarando seus votos individualmente. Não vamos ser ingênuos em achar que isso não influencia membros das respectivas igrejas, claro que influencia, da mesma forma que pastores progressistas também declararam seus votos tais como o próprio, Antônio Costa, e outros também influenciando de certa forma os que os admiram.

Talvez a dor seja por ter perdido a exclusividade do discurso. Sobre ser um apoio acrítico digo que mais uma vez denota a arrogância daqueles que se entendem como detentores da virtude e apesar de condenar o “ódio” alheio, sempre destilam seu ódio quando são contrariados, mesmo que com voz embargada afetando brandura. Como dizer que os crentes que apoiaram Bolsonaro o fizeram sem pensar e ponderar? Num universo de cerca de 40 milhões de declarados evangélicos certamente tivemos muitos que votaram em Haddad, muitos que nem votaram e outros tantos que optaram por votar em Bolsonaro quer seja por acreditar nas propostas dele quer seja por um antipetismo como ele cita. Não posso falar pelos outros, nem me atrevo, mas falo por mim, porque optei por Bolsonaro em um determinado momento, de fato por que parei e pensei e conclui que os riscos e o que não gosto nele para mim eram bem menores na minha avaliação do que as certezas do que não gosto na esquerda e sobretudo no petismo, fartamente provado como um partido corrupto, totalitário e com pautas que ferem diretamente os ensinamentos bíblicos. Em política em geral não há perfeição, mas sempre aquele que escolher aquele que interferirá menos na vida individual das pessoas.

Claro que como era de esperar ele mistura frases fora de contexto, frases sobre as quais o próprio candidato já se retratou e claro muitas frases que nunca foram ditas pelo candidato.

2.   Ataques pessoais entre cristãos.

Mesmo que correto de certa forma esse argumento, vemos mais uma vez considerações apenas para um lado, sem citar em qualquer momento atos como os de Ariovaldo Ramos em cima de palanques do PT por exemplo. Eu mesmo nessa eleição fui colocado como assessor do cão por uma irmã que sequer conheço, não me abalou, mas infelizmente esse tipo de comportamento teve de ambos os lados, sofri e vi umas tantas agressões verbais e condenações ao inferno declaradas a irmãos que optaram por votar em Bolsonaro vindas de irmãos que resolveram votar desde sempre em qualquer um que fosse da esquerda e do PT.

Porém na prática o que vi mais foram diversos líderes, pastores da IPB, de outras denominações e professores cristãos elencando não impropérios contra eleitores do PT crentes e sim as incoerências das doutrinas marxistas apoiadas e defendidas pela esquerda, o granscismo como coisa condenáveis e incompatíveis com os valores bíblicos.

Acho apenas complicado a generalização. Eu de minha parte tenho a convicção que não clauniei, nem ofendi ninguém.

3.   Diversidade de opinião.

É sútil, mas fica aqui claro que sua fala apenas aponta como crítica a um lado. Não vi até o momento nenhum pastor ou conselho excomungando crentes por terem votado no PT. O que vi em sua maioria como já afirmado acima, foram líderes orientando sobre o que é incompatível com o evangelho e isso sendo feito de forma amorosa.

4.   Preocupação com os nãos cristãos.

Aqui ele estabelece algumas falácias. A primeira que o evangelho é oferecer “flores” aos nãos cristãos. Claro que nosso relacionamento deve ser de paz para com todos, mas na medida do possível, no que depender de apenas de nós. Certamente a orientação de Paulo em Romanos 12:8 não se aplica a uma tentaiva de destruição da própria igreja.

Sobre a referida marcha penso a mesma coisa que penso sobre um conhecido meu, declaradamente ateu, e declaradamente de esquerda, que quis me ensinar que eu ser contra o estado cobrar impostos para dar parte do dinheiro aos necessitados é ensinamento bíblico sobre amor e caridade.

A igreja é xingada, e taxada de algo inapropriado não é de hoje pelos que defendem a ideologia marxista. A igreja não deve nunca buscar o confronto puro e simples, porém jamais pode negar os princípios bíblicos em nome de uma boa convivência.

É conhecido que frases do tipo “eu não estou querendo justificar mas ...” implicam exatamente em querer dar razão e portanto justificativa a atos. Não sei em que país esse pastor vive, eu vejo achincalhamento de crentes nas universidades desde a minha primeira graduação, na década de 1980, achincalhados por defender a ideia de que Jesus é a única solução, defender a virgindade até o casamento, defender não colar em provas, defender o não copiar o trabalho do colega. Deveria eu ter simplesmente me calado para posar de bom moço?

5.   Não preocupação a pureza do evangelho.

A única associação clara a Bíblia que Bolsonaro fez foi usar recorrentemente, de forma errada, um versículo em João 8:32, embora a conotação dada por ele não fira diretamente nenhum princípio bíblico. Mais uma vez fica claro que há pusilanimidade no argumento quando ele usa que a igreja teria votado em Bolsonaro para “sacar” o candidato Haddad, como se a candidatura de Haddad fosse algo sem qualquer conotação ética, moral que merecesse considerações. Também não há em qualquer momento uma crítica dele a atos como participar da eucaristia numa igreja católica por parte de ateus confessos. Nem de ter ido também a cultos evangélicos para logo em seguida irem a cerimônias de religiões ligadas ao afro espiritismo.

Conclusão.

Ele conclui usando o que tratei num outro artigo, uma mentira usando uma verdade, que pode ser visto clicando aqui, para em seguida proferir uma maldição sobre a igreja pelo seu pecado, conforme ele entende.

De forma sútil ele associa a eleição de Bolsonaro a um abandono do evangelho, quando nunca se manifestou, mais uma vez reitero, uma crítica sequer as candidaturas Lula/Haddad, ou ao que parece ele preferia que fosse eleito uma desgraça para que se mantivesse pura, no conceito dele, a igreja.

Sobre a qualidade do púlpito brasileiro até concordamos, mas isso não foi visto durante essa eleição em especial. É sofrível já há muito tempo pregando o antropocentrismo, o humanismo, o materialismo como objetivo, o hedonismo cristão, e o que é pior, isso sendo feito muitas vezes em nome de tornar a igreja simpática, e por pastores que entendem que sua vocação é para transformar vidas e não para glorificar a Deus proferindo o evangelho puro e com todos os seus princípios.

A afirmação final que usa Romanos 2:23,24 me parece ser feita com uma exegese forçada, ao querer atribuir a toda a igreja, durante todo o vídeo ele o faz, um comportamento farisaico. A crítica ali que Paulo faz, não vou desenvolver aqui um estudo sobre o assunto, se refere não a busca da moralidade em si, mas no uso e abuso da religiosidade judaica, lembremos que essa carta é escrita para judeus convertidos em Roma, do formalismo visível e da omissão prática na vida particular. Paulo em nenhum momento em suas cartas defende que a busca da santidade nas ações deve ser deixada de lado, mas que essas práticas devem permear toda a vida com integridade tanto no público (aparente) quanto no privado (escondido) e que mesmo isso não é para merecer a salvação, mas em consequência de termos sido agraciados por ela.

Concluo, eu, dizendo que não estou acusando o senhor desse vídeo de marxista, vendo um outro vídeo dele, o diria mais parecido com um misto entre keynesyano+socialismo fabiano+toques de granscismo, mesmo que assim não se declare.Minha crítica aqui não é econômica, mas de ser parcial numa análise.

Para entender melhor meu posicionamento sobre eleição sugiro que leia esse artigo Minha Declaração de Voto.

Para quem quiser assistir ao vídeo ele está abaixo.


Sugiro também assistir esse vídeo da IPB Boa Viagem em Recife sobre as eleições.





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