Pular para o conteúdo principal

Um mal do presente século.






Em poucos dias tivemos notícia de dois eventos tristes de pessoas conhecidas, mais dois casos do que parece ter se tornado uma epidemia global, o suicídio. Estatísticas comprovam números alarmantes e crescentes de pessoas que decidem em um ato desesperado tirar a própria vida.

São mais de 800 mil mortes por ano ao redor do mundo. Uma revisão de casos conduzida pela OMS com dados de 15.629 suicídios ilustra a situação: 35,8% das vítimas tinham transtorno de humor; 22,4% eram dependentes químicas; 10,6% tinham esquizofrenia; 11,6%, transtorno de personalidade; 6,1%, transtorno de ansiedade; 1%, transtorno mental orgânico (disfunção cerebral permanente ou temporária que tem múltiplas causas não psiquiátricas, incluindo concussões, coágulos e lesões); 3,6%, transtorno de ajustamento (depressão/ansiedade deflagradas por mudanças ou traumas); 0,3%, outros distúrbios psicóticos, e 5,1%, outros diagnósticos psiquiátricos. Os 3,1% restantes não significam ausência de doença mental, mas a falta de um diagnóstico adequado.

Estatísticas sobre suicídio.

1- Aproximadamente 11 mil pessoas morrem anualmente no Brasil por suicídio, sendo que entre 2011 e 2016, foram registrados mais de 60 mil casos.

2- O índice é mais comum entre os homens. A estimativa é de que 79% dos casos de suicídio envolvam homens e 21% mulheres.

3- As tentativas de suicídio, no entanto, são maiores entre as mulheres, que representam 69% dos casos de lesões autoprovocadas.

4- No mundo inteiro os idosos apresentam as maiores taxas. As pessoas com mais de 70 anos costumam sofrer com abandono familiar, problemas de saúde, perdas de pessoas queridas e depressão com mais frequência, por isso o índice é alto na faixa etária.

5- O enforcamento é o método mais utilizado no Brasil. Cerca de 60% das pessoas tiram suas próprias vidas dessa forma. Nos Estados Unidos são registrados mais casos com armas de fogo, pois o acesso é mais fácil do que em nosso país.

6- Nos últimos 25 anos houve um aumento de 30% na taxa de suicídios cometidos por jovens. Especialistas dizem que isso tem acontecido pois os jovens estão mais solitários e desiludidos.

7- O suicídio também acontece entre os indígenas do Brasil. Curiosamente, 44% desses casos são registrados entre os jovens indígenas (dos 10 aos 14 anos).

8- O número de tentativas também impressiona. Anualmente são registradas mais de 170 mil lesões autoprovocadas, sendo que quase 50 mil foram em tentativas de suicídio.

9- A existência de um Centro de Atenção Psicossocial Municipal (Caps) reduz em até 14% os riscos de suicídio da população.

10- Mais de 800 mil pessoas tiram, anualmente, as próprias vidas no mundo.

11- O Brasil já chegou a ocupar o oitavo lugar no ranking de países que mais sofrem com esse problema. Atualmente o país não está na lista dos 10 primeiros, que é liderada pela Guiana.

12- A maioria dos casos acontece em regiões mais desenvolvidas do país. Em São Paulo, por exemplo, os bairros mais ricos têm praticamente o dobro de suicídios em relação às periferias. O estado com maior índice é o Rio Grande do Sul, um dos mais ricos do Brasil, mas também são registrados casos em todos os outros estados. No entanto, 70% dos casos do mundo são registrados em países com rendas baixas e médias.

13- As pessoas que não têm um relacionamento conjugal são mais propícias a cometerem o suicídio, pelo menos de acordo com as estatísticas. Mais de 60% das pessoas que se suicidam são viúvas, divorciadas ou solteiras, enquanto apenas 30% são casadas ou possuem uma união estável.

Debate

Em muito grupos e redes sociais cristãs o assunto tem sido tratado. Porém quase sempre o debate se desenvolve no sentido de entender, ou se descobrir se o suicida era de fato um salvo ou não, sempre com teorias e testes elaboradas de ambos os lados, e sendo apresentadas com autoridade. Cansativo esse debate que não leva a nenhuma conclusão tampouco a uma práxis que ajude a combater o problema.

Há muito desisti de tentar descobrir quem é verdadeiramente crente ou não, depois de quase 40 anos de conversão, muitas vezes olho para mim e me pergunto se sou de fato um eleito, vejo em mim com uma constância irritante ações e comportamentos ímpios, ainda bem que sempre sou lembrado pela misericórdia de Deus da Sua própria graça onde me sinto abraçado, confortado e liberto. Como eu que me conheço tão a fundo, mais do que qualquer outro, ainda sou pego em dúvida às vezes, vou me arvorar em conhecedor da espiritualidade de outros?

Para mim a questão vai muito, mas muito mais além do que tentar descobrir se encontrarei ou não aquele amigo, irmão na fé até onde sabemos, no céu, depois que ele cometeu suicídio. Outra questão a ser abordada é que a própria medicina do alto de sua conhecida prepotência e arrogância pouco sabe dos fatores que levam ao desencadeamento de problemas que vão se agravando e terminam por atingir o íntimo de uma pessoa de tal forma que leva a esse ato extremo.

Mais uma coisa inegável é o sentimento de abandono e solidão presente em quase todos os casos, sejam eles reais ou não, por parte dos depressivos. Não! Não é frescura ou afetação, tampouco podemos desprezar as questões de relacionamentos sociais envolvidas nos casos de depressão.

O que podemos fazer como igreja.

Em mundo que se quer globalizado, onde as distâncias não existam, o que de fato vemos são relacionamentos envernizados, não diria hipócritas, mas superficiais. Relacionamentos de Alô[a], onde pouco se conhece e pouco se dar a conhecer. Aqui trago o assunto muito para dentro dos arraiais cristãos, não que as questões que apresento não sejam aplicáveis em qualquer ambiente, mas porquê para nós está ligado a própria essência do viver o Evangelho que é a comunhão.

A Bíblia nos ensina a vivenciar as dores e vitórias dos que convivem conosco, alegrar-se com os que se alegram e chorar com os que choram é para nós um imperativo.[b] Sabemos da existência e da vida pública, ou publicada, de cada vez mais pessoas, e cada vez menos conhecemos a intimidade daquelas pessoas que estão ao nosso lado. Não falamos aqui de intromissão na privacidade, mas de se abrir e estar aberto a conhecer de fato o SER daqueles que estão ao nosso lado.

Como pessoas se abrirão para nós se nós mesmos, sob grande risco, não nos abrirmos para os outros. É arriscado sim mostrar seu EU sem as máscaras, falar de nossas dores, conflitos e aflições não é fácil, mas precisamos fazer isso, precisamos nos dar a conhecer, e assim abrirmos espaço para que o outro também se abra, se dê a conhecer, nos mostre suas aflições e dores, e podemos nos apoiar mutuamente e quem sabe identificar sinais que nos alarmem para a necessidade de um abraço, não protocolar, mas sim compromissado, um abraço envolvente que de alguma forma possa ajudar a dar sentido para aquele que não vê mais sentido em viver, não vê sentido na própria existência. 

Vá na casa de seus irmãos, receba-os na sua casa, conversem sobre tudo, sejam íntimos nas alegrias e nas tristezas. Gastemos tempo com a comunhão, nunca serão aqueles 20, 30 minutos pós culto que gerarão intimidade. E se você está se sentindo isolado, fale, grite se necessário para que seja ouvido, mas tente com todas as forças que ainda tiver se envolver, não se isole, junto com os que te abraçam, ore a Deus por força e consolo.

Termino esse texto com algum suor saindo pelos meu olhos, mas quero ainda dizer com toda convicção que não espere um minuto que seja para dizer aqueles que lhe são próximos, Eu te amo e você é importante para mim. Abrace de fato tantos quanto puder e em todos os momentos, se abra e gaste tempo deixando outros se abrirem para você. Orem juntos, e demonstrem como cada um pode se envolver com uma vida cheia de propósitos, uma vida com sentido, para a glória de Deus.



[a] Liberdade para Amar – Música de Sérgio Pimenta.
[b] Romanos 12:15

Comentários

  1. Verdade. Corremos tanto, somos tão superficiais, que estamos levando isso para dentro das igrejas. Que Deus tenha misericórdia de nós.
    Eu te amo!!!

    ResponderExcluir
  2. Extremamente oportuno esse texto. Repleto de sabedoria, sensibilidade e discernimento para esse momento escuro no qual vivemos (e às vezes não percebemos). Deus o abençoe, irmão Alexandre. Vou divulgar, para a glória de Deus e o bem da igreja.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Conhecendo o Presbiterianismo I - Quem Somos e de Onde Viemos

¡   O que Somos §   A IPB é uma federação de igrejas que tem em comum: ▪       História; ▪       Forma de Governo; ▪       Teologia ▪       Padrão de Culto, Liturgia e Vida Comunitária ¡   De onde viemos §   A IPB pertence ao grupo das igrejas REFORMADAS . ▪       Fundada em 1859 a partir do trabalho missionário da PCUSA (Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos); ▪       A origem do Presbiterianismo remonta ao século XVI nas igrejas protestantes reformadas da Suiça, com Ulrich Zwinglio e Jean Calvin, e da Escócia com John Knox.   ¡   Porque Presbiteriana §   O nome vem a partir da forma de administração. ▪       A IPB é administrada por PRESBÍTEROS eleitos pelas comunidades locais; ▪       Sendo ...

Cristão: Esquerda x Direita. Uma falsa questão.

Não é de hoje brotam essas discussões em redes sociais, "um cristão pode ser de esquerda?" "e de direita?" Geralmente são discussões acaloradas nas quais é muito comum sobrarem clichês, interpretações enviesadas de textos bíblicos e infelizmente também sendo comum agressões verbais. Antes de mais nada deixemos claro que na nossa forma de ver não existe Cristão com adjetivo, ou se é Cristão ou não se é. O uso de adjetivos à palavra cristão talvez só faça sentido para designar origem e quiçá grupos por afinidade em pontos doutrinários.  Mas voltemos ao dilema cristão x esquerda ou direita.  Acho que muitas das discussões se perdem por não definirem inicialmente seus conceitos, o que termina por gerar batalhas quixotescas onde o que se combate são meramente espantalhos. Muita energia é disperdiçada debatendo o que não foi dito e o que não foi pensado. Então de uma forma bem simples e direta vamos inicialmente estabelecer o que estamos considerando aqui como cristão, co...