Por esses dias me deparei com uma
reportagem sobre a cantora Claudia Leitte, a quem muitos acusam de não ser mais
que um genérico de Ivete Sangalo. Mas não é sobre música que quero escrever
hoje aqui.
O meu tema aqui é a autodeclaração
de SER CRISTÃ, aliás ambas se declaram cristãs, muito embora
Ivete se demonstre bem sincrética, mas voltando a Claudia Leitte algumas
afirmações na reportagem me chamaram bastante atenção.
A artista está ligada a igreja
Família da Graça, em Salvador, não quero fazer nenhum comentário a respeito
porque simplesmente desconhecia até ontem que existia.
Mas voltando as afirmações dela.
Ela afirmou que “por muito tempo optou por viver esse processo de maneira
reservada.”
“— Vocês são a luz do mundo. Não
se pode esconder uma cidade situada no alto de um monte. Nem se acende uma
lamparina para colocá-la debaixo de um cesto, mas num lugar adequado onde
ilumina bem todos os que estão na casa.
Assim brilhe também a luz de
vocês diante dos outros, para que vejam as boas obras que vocês fazem e
glorifiquem o Pai de vocês, que está nos céus. “ - Mateus 5:14-16 NAA
Não existe
essa situação de FÉ reservada, escondida, vivida apenas internamente. A cantora
conta que depois de 12 anos resolveu expor ao mundo sua fé.
Outra
afirmação da cantora é essa aqui “Eu sou cristã, sou crente mesmo. A
escolha de seguir a Cristo foi de dentro pra fora. Eu queria muito Jesus”,
afirmou. Para ela, não se trata de seguir uma religião, mas de manter um
relacionamento com Deus baseado em amor e verdade.” Aparentemente não há
nada demais, mas notem, e não vou tratar aqui de sinergismo x monergismo, o
enfoque genérico em amor e verdade.
Somos salvos
a viver e pregar o EVANGELHO, que envolver amor e verdade, mas envolve igualmente
compromisso, sacrifício, mudança de comportamento.
Esse trecho
da música Beijar na boca te parece uma mensagem condizente?
“Eu ando muito a
fim de experimentar
Meter o pé na
jaca sem ter que me preocupar
Eu quero mais,
mais, mais, mais
Eu quero mais é
beijar na boca
Eu quero mais é
beijar na boca, eu quero mais
Eu quero mais é
beijar na boca
E ser feliz
daqui pra frente, pra sempre”
Por último temos a
frase tão comum: “Eu não tenho religião! Eu creio em Jesus como meu
único Senhor e Salvador.”
Aqui vamos nos
estender um tanto mais.
Jesus não deixou uma
denominação nem uma instituição como Igreja, é fato, porém temos vários
indicativos de que sim a igreja instituição é um dos instrumentos de
congregação da Igreja espiritual.
1) Jesus
disse aos discípulos que sua igreja seria edificada sobre a declaração de
Pedro, que ele era o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16.15-19). A igreja foi
fundada sobre esta pedra, que é a verdade sobre a pessoa de Jesus (cf. 1Pd
2.4-8). O que se desviar desta verdade – a divindade e exclusividade da pessoa
de Cristo – não é igreja cristã.
2) As igrejas foram instruídas pelos apóstolos a
rejeitar os livre-pensadores como os gnósticos e judaizantes, e libertinos
desobedientes, como os seguidores de Balaão e os nicolaítas (cf. 2Jo 10; Rm
16.17; 1Co 5.11; 2Ts 3.6; 3.14; Tt 3.10; Jd 4; Ap 2.14; 2.6,15).
3) Jesus
em outra parte ilustra a igreja com a figura da videira e seus galhos (João
15). Esta união foi muito bem compreendida pelos seus discípulos, que a
compararam à relação entre a cabeça e o corpo (Ef 1.22-23), a relação marido e
mulher (Ef 5.22-33) e entre o edifício e a pedra sobre o qual ele se assenta
(1Pd 2.4-8). Os desigrejados querem Cristo, mas não querem sua igreja. Querem o
noivo, mas rejeitam sua noiva. Não podemos ter um sem o outro.
4) Jesus
instituiu também o que chamamos de processo disciplinar, quando ensinou aos
seus discípulos de que maneira deveriam proceder no caso de um irmão que caiu
em pecado (Mt 18.15-20). Após repetidas advertências em particular, o irmão
faltoso, porém endurecido, deveria ser excluído da “igreja” – pois é, Jesus
usou o termo – e não deveria mais ser tratado como parte dela (Mt 18.17).
5) Jesus
determinou que seus seguidores fizessem discípulos em todo o mundo, e que os
batizassem e ensinassem a eles tudo o que ele havia mandado (Mt 28.19-20). Eles
organizaram os convertidos em igrejas, os quais eram batizados e instruídos no
ensino apostólico. Estabeleceram líderes espirituais sobre estas igrejas (At
6.1-6; At 14.23). Definiram o perfil destes líderes e suas funções, que iam
desde o governo espiritual das comunidades até a oração pelos enfermos (1Tm
31-13; Tt 1.5-9; Tg 5.14).
6) Os
cristãos apostólicos elaboraram as primeiras declarações ou confissões de fé
que encontramos (cf. Rm 10.9; 1Jo 4.15; At 8.36-37; Fp 2.5-11; etc.), que
serviam de base para a catequese e instrução dos novos convertidos, e para
examinarem e rejeitarem os falsos mestres. Veja, por exemplo, João usando uma
destas declarações para repelir livre-pensadores gnósticos das igrejas da Ásia
(2Jo 7-10; 1Jo 4.1-3).
7) Ainda
no período apostólico já encontramos sinais de que as igrejas haviam se
organizado e estruturado, tendo presbíteros, diáconos, mestres e guias, uma
ordem de viúvas e ainda presbitérios (1Tm 3.1; 5.17,19; Tt 1.5; Fp 1.1; 1Tm
3.8,12; 1Tm 5.9; 1Tm 4.14). Temos uma reunião dos apóstolos e presbíteros em
Jerusalém para tratar de um caso de doutrina – a inclusão dos gentios na igreja
e as condições para que houvesse comunhão com os judeus convertidos (At
15.1-6). A decisão deste que ficou conhecido como o “concílio de Jerusalém” foi
levada para ser obedecida nas demais igrejas (At 16.4), mostrando que havia
desde cedo uma rede hierárquica entre as igrejas apostólicas, poucos anos
depois de Pentecostes.
8) Jesus
mandou que seus discípulos se reunissem regularmente para comer o pão e beber o
vinho em memória dele (Lc 22.14-20). Os apóstolos seguiram a ordem, e
reuniam-se regularmente para celebrar a Ceia (At 2.42; 20.7; 1Co 10.16).
Todavia, dada à natureza da Ceia, cedo introduziram normas para a participação
nela, como fica evidente no caso da igreja de Corinto (1Co 11.23-34).
9) A
passagem predileta dos desigrejados – “onde estiverem dois ou três reunidos em
meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.20) – foi proferida por Jesus no
contexto da igreja organizada. Estes dois ou três que ele menciona são os dois
ou três que vão tentar ganhar o irmão faltoso e reconduzi-lo à comunhão da
igreja (Mt 18.16). Ou seja, são os dois ou três que estão agindo para preservar
a pureza da igreja como corpo.
10) Muito
antes do período pós-apostólico, da intrusão da filosofia grega na teologia da
Igreja e do decreto de Constantino – os três marcos que segundo os desigrejados
são responsáveis pela corrupção da igreja institucional – a igreja de Cristo já
estava organizada, com seus ofícios, hierarquia, sistema disciplinar,
funcionamento regular, credos e confissões. Paulo se refere a ela como “coluna
e baluarte da verdade” (1Tm 3.15) e o autor de Hebreus repreender os que
deixavam de se congregar com os demais cristãos (Hb 10.25). O livro de Atos faz
diversas menções das “igrejas”, referindo-se a elas como corpos definidos e
organizados nas cidades (cf. At 15.41; 16.5; veja também Rm 16.4,16; 1Co 7.17;
11.16; 14.33; 16.1; etc. – a relação é muito grande).
Cristianismo sem
igreja é apenas uma outra religião, a religião individualista dos
livre-pensadores, eternamente em dúvida, incapazes de levar cativos seus
pensamentos à obediência de Cristo.
Não tive a intenção
de discutir se a fé de Claudia Leitte é verdadeira ou não, se produzida pelo
Espírito Santo ou por algum engano. Aqui tratei única e exclusivamente das
afirmações e como estas estão incoerentes com as Escrituras.
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