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Os Evangelhos – Sermão do Monte – A Lei. (23)



 

Leia Mateus 5: 17 - 20

 

Esse trecho não se reproduz nos demais evangelhos. Como dito na introdução o Evangelho de Mateus foi principalmente direcionado aos Judeus e provavelmente por isso essa ênfase nesse tema tenha sido escolhido pelo autor inspirado para constar no texto.

 

Não pretendemos messe artigo esmiuçar no detalhe a Lei de Deus, precisaríamos de muito mais espaço, mas vamos tentar resumir algumas questões cruciais.

 

1.    Cristo não revoga a Lei

 

Muitos se apegam ao texto de Romanos 8:30 para decretar que a Lei terminou sua importância e função em Cristo, trata-se de uma leitura equivocada.

 

O termo “fim” pode ter dois sentidos na língua grega:

 

a) A ideia de conclusão ou término;

b) Perfeição ou cumprimento.

 

Ligado ao sentido de “perfeição ou cumprimento” o termo “fim” traz a ideia de “fim de intenção, ou seja, a intenção que Deus tinha em dar a Lei. Ligado ao sentido de “término ou conclusão”, o termo “fim” pode muito bem se referir à Lei cerimonial, mas não pode ser restrita a este conceito, pelo fato de Paulo estar falando de uma Lei que produz justificação. No sentido de cumprimento ou perfeição, podemos fundamentar esta verdade em outro texto como Gálatas 3:24. Cristo é a perfeição e o cumprimento da exigência da Lei de Deus.

 

A Lei conduz pecadores a Cristo. Um dos grandes problemas dos israelitas foi não entender essa verdade.[1] Cristo sempre foi o fim glorioso da aplicação da Lei, mas o véu da ignorância os impediam de enxergar isso. Não é somente a Lei moral que está sendo referida, mas todo o Pacto Mosaico do Sinaítico era comparado à direção e à disciplina de um pedagogo. Nesse sentido, a Lei não somente aponta o pecado do homem, não somente o condena, mas apresenta-lhe o caminho da sua salvação: Cristo.

 

A lei demonstra a aceitação de pecadores que a satisfaçam. Alguns podem se incomodar com essa frase, mas a lei realmente aponta para a necessidade de seu cumprimento para justificação diante de Deus. Claro que devido a queda em Adão é impossível ao homem atingir esse objetivo. Ora o objetivo das lei sempre é tornar as ações daqueles que são submetidos a ela aprováveis. A Lei de Deus era totalmente boa como tudo que Deus produz, e abençoadora, o que tornou ela em um peso para os homens foi o pecado.[2] Então para que a Lei atingisse seu objetivo Cristo tomou a natureza humana sobre si, de maneira que a justiça da lei fosse cumprida naqueles aos quais ele redimiu.

 

 

2.    Cristo endossa e cumpre a Lei

 

A obediência de Cristo à Lei é reconhecida como sendo a do pecador, e que em Cristo temos a segurança de que a Lei foi cumprida.[3] Este ensino deve nos levar a entender que por causa do cumprimento da Lei por Cristo como segurança para o pecador, o homem verdadeiramente obtém vida eterna de acordo com a lei “faça isto e viverás”. Não há nenhuma razão para se inferir que a justiça para a vida eterna venha através de cooperação pelo fato dela ser obtida por fé e não por obras.[4]

 

A palavra “cumprir” que Jesus usa não implica em  viver, completar e dar um fim. A ab-rogação da Lei é a própria coisa que Cristo nega: “Cumprir” aqui pode significar uma de duas coisas.

 

(1) Pode significar “confirmar, estabelecer”. Romanos 3:31 (que usa um verbo diferente) diz: “Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei”. Confirmação da Lei é certamente um conceito do Novo Testamento, de acordo com Paulo.

 

(2) Ou pode significar “encher até a medida completa”. Isso indicaria restaurá-la ao seu verdadeiro significado, em oposição às distorções farisaicas.[5]

 

Jesus afirma taxativamente que não passará “um jota ou um til”. O que foi traduzido com um “jota” é a menor letra hebraica (o yoadh ) e til é o sinal ornamental sobre as letras. Cristo está preocupado em mostrar que a Lei de Deus é em sua totalidade protegida pela autoridade de Deus. A repetição de “um” antes de “jota”, bem como antes de “til”, no pensamento hebraico, a repetição é usada para fortalecer a ênfase.

 

Na sequencia Jesus afirma  que:

 

(a)  A Lei se mantém até que todo o plano de Deus se cumpra.

(b) A violação de qualquer item da Lei implica no seu descumprimento total.

(c)  Os escribas e fariseus distorciam o que de fato a Lei determinava trocando-a por suas tradições orais.

(d) Os religiosos hipocritamente selecionavam o que queriam “cumprir”.

 

Bem interessante que mais a frente Jesus dá uma chave do cumprimento da Lei “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas”[6]

 

Ou ainda, “Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?” Respondeu-lhe Jesus: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.” Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.’ Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.”[7]  Amor não é sentimento ou ação indescritível. É ação obediente definida pelas restrições da Lei ordenada por Deus.

 

3.    Nós cumprimos a Lei em Cristo

 

A Escritura ensina que Jesus veio para guardar a lei. “Então, eu disse: eis aqui estou, no rolo do livro está escrito a meu respeito; agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei”[8]  De fato, Ele nasceu sob a Lei[9] Assim, Ele guardou a Lei em detalhe na Sua vida pessoal.[10]

 

Por causa da natureza do pecado como transgressão da Lei, Cristo não tinha pecado porque guardou a Lei completamente. Assim, ele pôde dizer: “Quem dentre vós me convence de pecado?”[11] Esse sendo o caso, Ele é o nosso perfeito exemplo de guardar a Lei.

 

O Senhor morreu em termos da Lei por nós. Ele veio “para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos”.[12] De fato, Sua morte enfatizou eternamente a necessidade e a validade da Lei. A Lei não poderia ser posta de lado, nem mesmo para poupar a Cristo. “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?”[13] A fé, então, confirma a validade da Lei[14]. Se a Lei não poderia ser desprezada nem mesmo para poupar ao Filho de Deus, como podemos supor que ela será posta de lado para a era do Novo Pacto? Ela é o padrão da justiça de Deus, sendo que a sua infração traz condenação. A Cruz é um testemunho eterno à justiça e contínua validade da Lei de Deus.

 

 



[1] 2 Coríntios 3:7-16; Gálatas 3:23,24

[2] Romanos 7

[3] Romaos 5:12-21; 2 Coríntios 5:19,20; Romaos 8:1-4

[4] Romanos 4:4-5; 4:14

[5] Dr. Kenneth L. Gentry Jr

[6] Mateus 7:12

[7] Mateus 22:36-40

[8] Salmo 40:7-8

[9] Gálatas 4:4

[10] Mateus 8:4; 17:24; Marcos 11:16-17

[11] João 8:46; cp. 1 João 3:4; João 15:10

[12] Gálatas 4:5; cp. Colossenses 2:14; Hebreus. 9:22

[13] Romanos. 8:32; cp. Hebreus. 9:22-26

[14] Romanos 3>31

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