Leia João 3: 1-21
A segunda parte desse texto que estamos tratando começa com um dos versículos mais conhecidos da Bíblia: “... Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”
Muitos insistem em usar esse versículo, isolando-o do restante da Bíblia para firmar a ideia de que Deus enviou Jesus com o propósito de oferecer salvação a toda humanidade sem exceção bastando o condicionante da decisão pessoal de crer. Mas será que é isso mesmo que a Palavra ensina se a olharmos de forma geral? O próprio Jesus no evangelho de João usa expressões que demonstram o contrário. A expressão “mundo” tem a conotação no contexto não de todas as pessoas, e sim do universo de pessoas no espaço e tempo, já temos aí uma profecia da inclusão dos gentios na igreja.
Aqueles que “O Pai me dá” não são uma possibilidade mas uma certeza absoluta, "o que vem a mim" (6.37-40; 10.14-18; 17.19) "de modo nenhum o lançarei fora".
O mundo nesse verso indica que a obra salvífica de Cristo não é limitada a tempo e lugar pelo contrário se aplica a todos os eleitos de todas as partes do mundo.
Portanto com esse verso João passa a explanar a missão do Filho de Deus.
O amor expresso aqui nesse texto é repetido de alguma forma em vários momentos do livro de João. Em todos os casos listados a seguir são usados sempre ou o verbo ‘amar’ (agapaô) e o substantivo ‘amor’ (agapê).
O Pai ama o Filho - 3.35; 10.17; 15.9,10; 17.23,24, 26;
O Filho ama o Pai - 14.31;
Jesus ama os seus, seus verdadeiros discípulos - 11.5; 13.1, 33, 34; 14.21; 15.9,10; 12; 21.7, 20;
Os discípulos devem amá-lo - 14.15, 21, 23s., 28; 21.15-26
Os discípulos devem amar uns aos outros - 13.34,35; 15.12,13, 17; 17.26;
Deus ama os filhos. – Diretamente - 14.21, 23; 17.23;
Os seres humanos caídos e rebeldes de modo geral, não amam e não podem amar a Deus - 3.19; 5.42; 8.42.
João ao longo de seu evangelho e de suas cartas deixa claro que o amor de Deus não é a consequência de uma resposta da amabilidade dos seres humanos mas sim da sublime verdade que ‘Deus é amor’ (1ª João 4.16).
O verso 17 mais uma vez requer uma explicação a luz da Palavra como um todo, o próprio Jesus em outros momentos cita que voltará para julgar como na passagem em que há separação entre os benditos do meu Pai e os malditos. Muitas outras passagens nas Escrituras tratam do julgamento quando da segunda vinda. Aqui a ênfase podemos concluir está no fato de que o momento da separação do joio do trigo ainda não era chegado. Olhando para João 9:39 podemos enxergar alguma incoerência quando Jesus declara que “Eu vim a este mundo para julgamento (krisis)...”; de fato, João insiste que Deus deu a Jesus “autoridade para julgar (krinô), porque é o Filho do homem”[1]
Não é apenas no Novo Testamento que o Filho do Homem está investido do poder de julgar, vide Daniel[2]. E a explicação vem no verso 18 quando João afirma taxativamente que os salvos não serão julgados e os demais já estão condenados por um julgamento eterno. O Filho do homem veio a um mundo já perdido e condenado. Ele não veio a um mundo neutro para salvar alguns e condenar outros; ele veio a um mundo perdido para salvar alguns. Fica perfeitamente claro nos próximos versículos que nem todo o mundo será salvo embora o propósito de Deus na missão de Jesus era trazer salvação a ele. É por isso que Jesus mais tarde é chamado de ‘o Salvador do mundo.[3]
Os versos 19 e 20 trazem o veredicto (krisis) o qual é negativo. A luz veio ao mundo, com a encarnação da Palavra, e a luz brilhou nas trevas de forma mais brilhante ainda que na criação. Jesus, a luz do mundo[4] mas os homens amaram as trevas, e não a luz: eles preferiram viver sem o conhecimento era moral, as suas obras era más e fogem da luz para que suas obras não sejam expostas elengchthè os envergonhando. O oposto dessa posição é amar e praticar a verdade, agindo na luz com honra buscando estar sempre próximo a luz. Dois pontos de destaque:
“Primeiro, a pessoa que ama as trevas pratica o mal, uma sucessão indeterminada de atos indignos (o objeto em grego é anartro, ho phaula prassôn)-, sua contraparte pratica a verdade {ho de poion tên alêtheiari), que sugere aderência à verdade como ela está em Jesus Cristo.
Segundo, e mais importante, enquanto o que ama as trevas evita a luz por medo de exposição, vergonha e condenação, o que ama a luz não se ensoberbece para desfilar suas mercadorias com pretensiosa auto justificação, mas vem para a luz, para que se veja claramente que as suas obras são realizadas por intermédio de Deus. Essa estranha expressão deixa claro que quem ama a luz não é uma pessoa intrinsecamente superior. Se essa pessoa gosta da luz, é porque tudo que se realiza, pelo que não há vergonha nem condenação, é feito ‘por intermédio de Deus’ - ‘em união com ele e, portanto, por seu poder’ (Westcott, 1. 124). Nem é o bastante (com Lattke, pp. 64-85, e outros) sugerir que esses amantes da luz são gnósticos ou algum outro grupo que ama a luz desde o começo, pessoas que nunca pertenceram ao ‘mundo’, que sempre respondem positivamente à revelação divina. “
Um segue seu curso porque suas obras são más; outro segue seu curso não porque suas obras sejam justas, mas porque deseja mostrar que suas obras foram feitas por intermédio de Deus.
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