Leia
João 2:1-12
Pode-se considerar que ministério de Jesus tenha começado efetivamente no seu batismo, principalmente por logo após o chamado de alguns discípulos que eram de João e passaram a segui-lo.[1] E também o texto que narra as bodas de Caná cita que ele foi convidado e compareceu a festa junto com seus discípulos. Os evangelhos não coincidem na sequencia e na cronologia do chamado dos doze. Trataremos desses chamados num artigo específico.
João, que é o único dos evangelistas a citar as bodas em Caná nos informa que este foi o primeiro sinal e “... manifestou a sua glória.” Notemos que João aqui quer claramente enfatizar a divindade e o poder de Jesus em seguida ele nos diz os seus discípulos “... creram nele.” Ou seja está claro igualmente que João aqui esta querendo afastar qualquer dúvida sobre a pessoa de Cristo como sendo de natureza divina, na verdade a própria introdução do Evangelho segundo João efetivamente faz a declaração de Jesus é Deus encarnado. A exata expressão de Deus Pai, mas vamos tratar esse assunto no artigo próprio também sobre Quem é Jesus.
Alguns contextos importantes:
Ao contrário do que alguns estudos insinuam não temos aqui uma estória, ou uma alegoria e sim um fato que realmente aconteceu na vida de Jesus.
Embora João não cite é bem provável que a família de Jesus fosse próxima ou até parentes dos noivos, isso fica bem aceitável pela intimidade com que Maria trata a questão da falta de vinho.
Caná ficava um pouco ao norte de Nazaré na região da Galileia. O nome da cidade é derivado de קָנָה “qanah”, que significa “comprar”. Os casamentos judaicos duravam cerca de sete dias com a consumação do casamento acontecendo ao final dessa semana de festividades.
Na festa ocorreu a falta de vinho, não sabemos se por falta de recursos ou planejamento, mas as Escrituras e os costumes judeus nos apontam que o vinho era um elemento importantíssimo para as festividades e alegria, existe um ditado judeu que diz que “Sem vinho não há alegria”.
Mas vamos fazer uma análise do texto.
Primeiramente o texto nos indica que Maria já estava ali na festa antes da chegada de Jesus, o que era comum que nessas festas pessoas chegassem ao longo da mesma. Simbolicamente o milagre que aconteceria a seguir demonstra a mudança da antiga para a nova ordem. As talhas eram usadas para armazenarem água para os rituais de purificação. Jesus muda seu uso e conteúdo, elas passam a conter vinho que simboliza o sangue de Cristo e promovem a alegria da entrada na vida eterna no Reino de Deus.[2]
O vinho aqui referido era sim bebida fermentada[3]. Não vamos nos ater a esse debate mas não era apenas suco de uva como alguns se sentem constrangidos a dizer. A palavra em grego οἶνος (Oinos) é a mesma usada por Paulo ao alertar os efésios sobre embriaguez.[4]
Como dissemos o vinho estava acabando e Maria, provavelmente pela proximidade com os noivos, se preocupou e se envolveu pessoalmente na solução, ela sabia por razões na relatadas nas escrituras que Jesus poderia resolver miraculosamente o problema. Ela procura Jesus e relata a questão e ouve uma reposta: “Mulher que tenho eu contigo? Ainda não é chegada minha hora.” Certamente não há qualquer reposta mal criada da parte de Jesus aqui, então vamos tentar entender.
Primeiramente, a despeito de não ser comum em nossa cultura, o uso do termo mulher para se referir a uma mulher era bem comum no contexto e o próprio Jesus usou este termo outras vezes.[5] A segunda parte não temos como afirmar com total certeza no entanto podemos inferir que Jesus quis demonstrar claramente duas coisas:
a) Não havia, nem haveria qualquer possibilidade de intervenção de Maria sobre o ministério de Jesus. Maria tinha seu papel especial como bem aventurada no nascimento de Jesus mas não tinha qualquer ascendência sobre ele no seu ministério.
b) Da mesma forma que Jesus é quem decidiria as ações do seu ministério era ele quem decidiria os momentos e a agenda dele.
As ações de Jesus naquele momento já estavam determinadas e decretadas por Deus desde a eternidade, por isso Jesus as fez. Mas Maria usa uma expressão de extrema sabedoria que precisamos considerar integralmente em nossas vidas: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Mais uma vez Maria demonstra intimidade com a casa para dar ordens aos servos.
Os servos encheram as seis talhas com água, a capacidade de cada talha poderia chegar a 100 litros de água, e como dissemos mais acima, a água dessas talhas eram usadas para os rituais de purificação dos judeus que envolviam por exemplo o lavar-se após uma viagem antes de entrar em casa. Após encherem as talhas as levaram ao mestre-sala, que era o responsável pelo provimento dos itens da comemoração. Ao provar o vinho ele se surpreende, um Bom Vinho.
Primeiramente, quem já esteve em festa com bebidas sabe que é comum servirem primeiro as bebidas de melhor qualidade, e quando os convidados já estão meio altinhos, não vamos debater essa questão aqui nesse artigo, mas os convidados ficavam alegrinhos mesmo, é que se servem as bebidas de menor qualidade onde já não se nota muito a diferença. Mas aqui vemos Jesus apresentando algo muito melhor e muito mais especial para alegrar a festa.
Mais uma vez aqui não temos uma alegoria como alguns querem fazer crer, possivelmente incomodados pela questão do vinho. E não conseguimos enxergar este casamento como uma simbologia ainda não entendida para os participantes como as bodas do cordeiro com sua igreja. Temos um evento social, sim Jesus participava de festas e comemorações, na qual ele decidiu manifestar seu primeiro milagre. Teremos um ou mais artigos para tratar de todos os milagres relatados pelos evangelistas. O texto encerra relatando que Jesus depois do casamento se deslocou pra Cafarnaum, uma outra cidade próxima da Galileia, e nos diz que Jesus foi para lá com Maria, seus discípulos e seus irmãos. Conforme já dissemos em outro artigo o termo ἀδελφοὶ (adelphoi) traduzido por irmãos significa mesmo irmão e não parentes ou primos[6] (συγγενίς - Syngenis), o que implica que no início do ministério de Jesus ele já tinha vários irmãos pelo parentesco com Maria que haviam sido gerados humanamente entre ela e José.
Encerramos lembrando algo que já afirmamos mais acima, o milagre da transformação da água em vinho nas bodas de Caná ocorreram para magnificar o nome de Jesus, autenticar seu ministério ante seus discípulos e nos ensina que que as antigas ações de purificação seriam totalmente substituídas pelo seu sangue e pela alegria trazida pelo pertencimento ao reino de seu amor.
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