Leia Mateus 1:1-17 e Lucas 3:23-38
Existem pelo menos duas enormes diferenças entre os relatos de Mateus e Lucas. Em Mateus temos o relato a partir do mais ancestral até Jesus, e iniciando em Abrão. Isso pode ser facilmente entendido porque a o foco do Evangelho de Mateus como já tratamos era a comunidade judaica e Mateus queria exatamente apresentar Jesus como o Rei e Messias prometido desde Abrão aos judeus. Em Lucas temos a genealogia apresentada no sentido inverso, de Jesus para os ancestrais e chegando até Adão. Lucas tinha como público os gentios e seu livro tinha como propósito enfatizar a humanidade e existência real de Jesus. A questão da ordenação nos parece apenas um gênero literário, uma forma de escrever.
Existem algumas discrepâncias também de nomes.
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Mateus |
Lucas |
1. |
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Adão |
2. |
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Sete |
3. |
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Enos |
4. |
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Cainã |
5. |
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Malalei |
6. |
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Jarede |
7. |
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Enoque |
8. |
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Matusalém |
9. |
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Lameque |
10. |
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Noé |
11. |
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Sem |
12. |
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Arfaxade |
13. |
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Cainã |
14. |
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Salá |
15. |
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Eber |
16. |
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Faleque |
17. |
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Ragau |
18. |
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Sarugue |
19. |
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Naor |
20. |
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Terá |
21. |
Abraão |
Abraão |
22. |
Isaque |
Isaque |
23. |
Jacó |
Jacó |
24. |
Judá / Tamar |
Judá |
25. |
Perez |
Perez |
26. |
Esron |
Esron |
27. |
Arão |
Arni |
28. |
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Admin |
29. |
Aminadabe |
Aminadabe |
30. |
Naasson |
Naasson |
31. |
Salmon / Raabe |
Salá |
32. |
Boaz / Rute |
Boaz |
33. |
Obede |
Obede |
34. |
Jessé |
Jessé |
35. |
Davi |
Davi |
A partir daqui temos muitas diferenças
36. |
Salomão / Filho de Bateseba |
Natã |
37. |
Roboão |
Matatá |
38. |
Abias |
Mená |
39. |
Asa |
Meleá |
40. |
Josafá |
Eliaquim |
41. |
Jorão |
Jonã |
42. |
Uzias |
José |
43. |
Jotão |
Judá |
44. |
Acaz |
Simeão |
45. |
Ezequias |
Levi |
46. |
Manassés |
Matate |
47. |
Amom |
Eliezer |
48. |
Amam |
Josué |
49. |
Josias |
Er |
50. |
Jeconias |
Elmadã |
51. |
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Cosã |
52. |
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Adi |
53. |
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Melqui |
54. |
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Neri |
Aqui voltamos a ter coincidências depois do exílio babilônico
55. |
Salatiel |
Salatiel |
56. |
Zorobabel |
Zorobabel |
Voltamos a ter diferenças
57. |
Abiúde |
Resa |
58. |
Eliaquim |
Joanã |
59. |
Azor |
Joodá |
60. |
Sadoque |
José |
61. |
Aquim |
Semei |
62. |
Eliúde |
Matatias |
63. |
Eleazar |
Maate |
64. |
Matã |
Nagai |
65. |
Jacó |
Esli |
66. |
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Naum |
67. |
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Amós |
68. |
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Matatias |
69. |
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José |
70. |
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Janai |
71. |
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Melqui |
72. |
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Levi |
73. |
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Matate |
74. |
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Eli |
75. |
José / Maria |
José |
Mateus segue a genealogia de Jesus a Abraão. Lucas segue a genealogia de Jesus a Adão. No entanto, há motivo para acreditar que Mateus e Lucas estejam seguindo genealogias completamente diferentes. Por exemplo, Mateus diz que o pai de José era Jacó (Mateus 1:16), enquanto Lucas diz que o pai de José era Heli (Lucas 3:23). Mateus segue a linha de genealogia através de Salomão, filho de Davi (Mateus 1:6), enquanto que Lucas segue a linha através de Natã, filho de Davi (Lucas 3:31). Na verdade, entre Davi e Jesus, os únicos nomes que as genealogias têm em comum são Salatiel e Zorobabel (Mateus 1:12; Lucas 3:27). Como se explica essas diferenças? Hipóteses:
1) Os relatos estão incorretos. Essa hipótese vai em sentido contrário ao cuidado como os judeus faziam seus registros. Mesmo as coincidências de Salatiel e Zorobabel podem ser apenas coincidências mesmo. Mas parece uma hipótese não tão forte.
2) Uso de linhagens diferentes. Mateus estaria seguindo a linhagem primária enquanto Lucas estaria considerando a “lei do levirato”. Se um homem morresse sem nenhum filho, era tradição que o irmão desse homem casasse com sua esposa e tivesse um filho que desse continuação ao nome de seu irmão. Isso é possível, mas improvável, já que todas as gerações de Davi a Jesus teriam que ter tido um “casamento levirato” para explicar as diferenças no registro em todas as gerações. Isso é bastante improvável.
3) Um deles estaria usando a linhagem de José e o outro da de Maria. A maioria dos estudiosos bíblicos acredita que Lucas esteja registrando a genealogia de Maria, e Mateus a de José. Usam alguns argumentos para referendar essa hipótese. Não existia uma palavra grega para "genro", e José teria sido considerado um filho de Heli por ter se casado com Maria, filha de Heli. Por ambas as linhagens, Jesus é um descendente de Davi e, portanto, qualificado para ser o Messias. Registrar a genealogia através do lado materno era incomum, assim como o nascimento virgem. A explicação de Lucas é que Jesus era filho de José, “como se cuidava” (Lucas 3:23).
Nenhuma das três hipóteses nos parece uma explicação bem conclusiva e também não entendemos que essa explicação seja algo de extrema importância.
O que queremos trazer de mais importante e que coincide nas duas genealogias é que Jesus é da descendência de Davi conforme predito no Antigo Testamento. E isso é notado no fato de ambos apresentarem Davi e Abrão na linhagem. José foi o mais famoso entre os filhos de Jacó mas é Judá, o que sugeriu que José fosse vendido que é colocado na genealogia de Jesus (“a Judá e a seus irmãos”, v. 2).
As mulheres na Genealogia de Jesus,
É interessante notar que Mateus, e apenas ele, cita cinco mulheres o que já seria bem incomum. Mas chama mais ainda atenção pelas características dessas mulheres. O elemento comum entre as quatro mulheres é visto no fato que ela representam uma ‘irregularidade’ na linhagem de Davi., uma irregularidade que não somente é superado pelo reconhecimento divino delas como mães de descendentes na linhagem real; precisamente pela irregularidade a ação de Deus e seu Espírito é manifesto.[1]
A inclusão destas quatro mulheres na genealogia do Messias, ao em vez de somente os homens (como era costume), ... mostra que Mateus está transmitindo algo mais do que simples fatos genealógicos. Tamar seduziu seu sogro num relacionamento incestuoso (Gen. 38). A prostituta Raab salvou os espiões e se juntou aos Israelitas (Jos 2, 5). Rute, Tamar e Raab foram todas estrangeiras, gentias. Bate-Seba teve uma relação de adultério com Davi que assassinou para encobrir. Rute era moabita, certamente o povo mais odiado pelos judeus na sua época e foi acolhida por Boaz após ser rejeitada e encontrou a generosidade dele salvando a si e Noemi, sua sogra do primeiro casamento. A quinta mulher é Maria, sem que haja qualquer referencia anterior a ela.[2]
Mateus vai começar a contar a história de vida de Jesus. E ele traz mais alguns destaques:
a) “Em Davi a família ascendeu para o poder real … No cativeiro foi perdido. Em Cristo é restaurado.”[3]
b) “A genealogia é divida em três grupos: de Abraão até Davi (1:2-6), de Davi ate o cativeiro na Babilônia (1:6-11), e do cativeiro na Babilônia até o nascimento de Jesus (1:11-16). … durante cada uma desses três períodos uma aliança foi dada: Abraão, Davi, e a Nova Aliança {Gen 12:1-3; 2 Sam 7:4-17; Heb 8:8-13}. Assim Mateus envolve provas da linhagem real de Jesus e antecipação do cumprimento de seu papel como messias na Nova Aliança.”[4]
c) “A questão da veracidade histórica de capítulos 1-2 é freqüentemente posta em termos de história e teologia vistas como opostas, como se o que é teológica não pode ser histórico e vice versa. … Mateus tomou as tradições históricas e os colocou de tal maneira a grifar os pontos de importância teológica fundamental.”[5]
d) “Estudos recentes indicam que apenas raramente genealogias semíticas antigas tentam preservar a linhagem biológica; mas, genealogias servem vários propósitos como: mostrar identidade e dever, para demonstrar credenciais para poder e propriedade, para dar estrutura à história e para indicar caráter. O valor de genealogias no período após o exílio na sociedade Israelita é ilustrada em Esdras 2:62; 8:1 e Neemias 7:5. A omissão de certos nomes numa lista não significa necessariamente um equívoco ou atrapalha seu propósito. A genealogia de Mateus dá estrutura à história Israelita de forma memorável e mostra a linhagem real de Davi levando ao nascimento de Jesus.”[6]
e) “Compreenderemos esta ‘três vezes quatorze’ genealogia melhor se imaginarmos uma letra ‘N’ maiúscula inclinada, uma N em que as primeiras quatorze gerações subam para cima de Pai Abraão até Rei Davi assim (/), as segundas quatorze gerações despencam para baixo de Rei Salomão até o Exílio na Babilônia (\), e finalmente as últimas quatorze gerações movem para cima de novo do exílio para o Cristo (/).”[7]Assim vemos que um dos propósitos em relatar a genealogia de Jesus em três fases foi em mostrar como esta última fase indica a ascensão de uma nova geração, o verdadeiro povo de Deus, encontrando seu ápice na pessoa de Jesus.
Mais alguns detalhes
Havia insinuações pejorativas, tanto da época do Cristo, como depois, a respeito do parentesco de Jesus. Havia uma disposição de aceitá-lo, desde que ele se comportasse como um ser humano conhecido e comum (Lc 4.22). Mas, quando ele começou a dizer que era o Cristo, logo questionavam, como é que ele podia ser o Cristo se conheciam seus pais e seus irmãos (Mt 13.54-58; Mc 6.2; Lc 4.16-30)? Como João notou, seu próprio povo o rejeitava apesar da sua descendência (João 1:11) ao mesmo tempo que, como vimos nos outros evangelhos, ele foi rejeitado de certa forma por causa da sua descendência. Hendriksen observou "Alguns argüiam: ‘Nós conhecemos a procedência deste homem; no entanto, quando o Cristo vier, ninguém saberá donde ele é’ (Jo 7.27). ... Às vezes os seus adversários chegavam a sugerir que sua origem era espúria. Diziam eles: ‘Nós não nascemos de fornicação; temos um pai, que é Deus’ (Jo 8.41), como se dissessem: ‘Nós não nascemos de fornicação como tu nasceste. Com respeito ao nosso pai não existe dúvida justificável, porém quanto a ti o caso é diferente.’ A insinuação sinistra ou indireta às vezes se convertia em insulto franco, deliberado e maligno: ‘Não temos razão em dizer que és samaritano e que tens demônio?’ (Jo 8.48). Essas afirmações hostis, nas quais não só se negava a origem davídica de Jesus, mas também o seu nascimento legítimo, fosse por meio de afirmações diretas ou indiretas, o fato é que elas continuaram entre os judeus.”[8]
“O número quatorze não é por acaso. Ele corresponde ao número de sumos sacerdotes desde Arão até o estabelecimento do templo de Salomão; o número de sumos sacerdotes desde o estabelecimento do templo até Jadua, o último sumo sacerdote mencionado nas Escrituras. É claro que um significado místico é associado ao número, tanto na tradição dos Saduceus como para os Fariseus.”[9]
Era comum que as genealogias da época do Antigo Testamento tivessem como propósito mostrar que uma linha havia sido preservada e mantida pura da contaminação de gentios. Mas, esta primeira genealogia no Novo Testamento tem o oficio surpreendente de mostrar que a linhagem que levou de Abraão até Jesus, o filho de Davi, foi cruzada vez após vez pelo sangue de gentios. O Rei Davi tinha uma bis-bis-bis-avó Canãita, uma bis-bis-avo Jericoita, e uma Moabita bis-avó, e uma mulher hetita. Mateus quer que a igreja saiba que desde o começo, e não só desde o concílio de Jerusalém (Atos 15), a obra de Deus foi para todos.[10]
A preocupação dos evangelistas em relatar a genealogia de Jesus tem claro objetivo de tornar confiável ainda mais seus relatos a respeito daquele que veio para marcar a história da humanidade.
A genealogia de Jesus mostra como Deus age na história humana.
1. DEUS SE MOSTRA NA HISTÓRIA.
2. DEUS CONDUZ A HISTÓRIA
3. DEUS AMA PESSOAS REAIS.
Aprendemos com as menções a estes nomes outras duas verdades.
1. Nós estamos aquém dos estereótipos, mas Deus está além deles.
2. Somos amados por Deus.
3. Para pessoa reais, Ele envia o seu Messias. O oferecimento continua.
A genealogia de Mateus nos mostra que Jesus é o Messias prometido por Deus. Por isto, Ele é apresentado como filho de Abraão e de Davi.
O Messias foi prometido quando disse a Abraão que faria de sua descendência uma bênção; o povo judeu foi uma bênção, porque de saiu o Messias, o Salvador do mundo.
Ps.: Temos um sermão publicado aqui no blog exatamente sobre a genealogia de Jesus conforme o Evangelho segundo Mateus.
http://penso-e-creio.blogspot.com/2013/06/deus-e-o-senhor-da-nossa-historia.html
[1] Stendahl, Krister “Quis et Unde?, An Analysis of Matthew 1-2” em Stanton, Graham N. The Interpretation of Matthew, Edinburgh: T & T Clark, 1983, p. 74.
[2] Carson, D.A. 'Matthew', em F.E. Gaeblein, ed., The Expositor's Bible Commentary Online, Grand Rapids: Zondervan, 1984,
[3] W. C. Allen, A Critical and Exegetical commentary on the Gospel according to S. Matthew (ICC), p.2
[4] Wallace, Daniel B., Matthew: Introduction, Argument, and Outline, Biblical Studies Foundation
[5] Hagner, Donald A. Matthew 1-13, Dallas: Word Books, 1993, p.2.
[6] D. S. Huffman, artigo “Genealogy” em Green, Joel G.; McKnight, Scot; Marshall, I. Howard; editors, Dictionary of Jesus and the Gospels, (Downer’s Grove, IL: InterVarsity Press) 1998, c1992, [Online] Available: Logos Library System.
[7] Bruner, F.D. The Christbook. An Historical / Theological Commentary. Matthew 1-12, Waco: Word Books, 1987, p.4
[8] Hendriksen, William Mateus São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, Vol. 1, pp. 160-161.
[9] L. Finkelstein citado em Davies, W.D. The Setting of the Sermon on the Mount, Cambridge: Cambridge University Press, 1964, pp. 303-4
[10] Bruner, F.D. The Christbook. An Historical / Theological Commentary. Matthew 1-12, Waco: Word Books, 1987 p. 6, 7.
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