Leia Lucas 1:1 – 2:51 ; Mateus 1:18-2:23
Não vamos discorrer de forma aprofundada sobre as profecias sobre Jesus no Antigo Testamento mas existem um número enorme de citações explícitas.
Nascimento de Jesus |
Isaías 7:14; 9:6; Miquéias 5:2 |
Morte de Jesus |
Zacarias 9:9; Salmo 22:16-18 |
Sacrifícios |
Isaías 53; Zacarias 12:10 |
Éden |
Genesis 3:15 |
Pacto com Abrão |
Gênesis 12:3; 18:18; 22:18 |
Sacrifício de Isaque |
Genesis 22 |
Instituição da Páscoa |
Êxodo 12 |
Príncipe da Paz |
Isaías 7:14; 9:6 |
Linhagem de Davi |
Ageu 2:6-9 |
Filho do Homem |
Daniel 7:13 |
Matança dos Inocentes |
Jeremias 31:15 |
Ida para o Egito |
Oseas 11:1 |
Pregaria na Galiléia |
Isías 8:23 |
Traído |
Salmo 40:10; Zacarias 11:13 |
Essa lista não é exaustiva, mas já demonstra com clareza que Jesus é de fato o Messias prometido no Antigo Testamento.
Lucas inicia seu evangelho tratando da predição do nascimento de João Batista (Tratamos mais especificamente sobre ele no artigo anterior) para em seguida tratar da anunciação e do nascimento de Jesus.
Anunciação
O anjo Gabriel foi enviado por Deus para anunciar o nascimento de Jesus à Maria. Maria já estava desposada por José. É importante entender os costumes judaicos, num mundo como o atual que muitos chamam de namoro viver maritalmente sob o mesmo teto, o costume na época do nascimento de Jesus, era que o marido firmasse um contrato nupcial que consistia efetivamente na declaração que já estavam casados, mas ainda se aguardava a consumação do casamento. Mas a história em si é bem conhecida por todos que de alguma forma já tiveram envolvimento com o cristianismo.
Sobre a anunciação queremos destacar algumas questões além da história. Não há dúvida sobre quem Gabriel estava anunciando: “... Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o "trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim.”
Lucas nos conta que Maria temeu diante de tão grande revelação e se surpreendeu como poderia dar a luz sendo virgem.
E disso queremos tratar com um pouco mais de detalhe, O nascimento virginal de Jesus.
Gabriel respondeu-lhe dizendo: “... Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus.”
Antes de prosseguirmos temos que lembrar que não havia qualquer dúvida na igreja primitiva sobre a aceitação do nascimento virginal de Jesus. Apenas a partir do século XIX com o modernismo surgiram vozes discordantes., certamente como uma forma de questionar a divindade de Cristo. Mas esta verdade relatada por Lucas e Mateus deve ser entendida a luz das definições sobre Jesus que João nos seu primeiro capítulo dá a respeito de Jesus. Não temos como entender como exatamente ocorreu a geração de Jesus num óvulo de Maria, certamente algo miraculoso. A Bíblia não nos declara que não haveria outra forma de nascimento de Jesus, porém nos parece que, tendo em vista que Deus nada faz por acaso, o nascimento virginal era o propósito exigido pela vontade de Deus para que Jesus recebesse as duas naturezas, divina e humana e assim cumprisse sua vocação. Já escrevemos recentemente um artigo sobre o assunto.
Quem foi Maria
Já de cara vamos tocar nesse ponto infelizmente criado ao longo da história e que não encontramos base bíblica, a idolatria e culto a Maria. Na igreja dos tempos apostólicos não se faz qualquer referencia a uma importância maior de Maria, a não ser que ela foi agraciada com o privilégio de gerar e cuidar maternalmente do menino Jesus nos seus primeiros anos. Apenas na idade média começaram a surgir dentro da Igreja Católica Apostólica Romana dogmas que introduziam e atribuíam a Maria dons e poderes especiais. Mas não é nossa intenção aqui discorrer mais detalhadamente sobre esses desvios doutrinários. Talvez façamos um artigo especificamente sobre isso, mas o que precisamos dizer sobre Maria é que segundo as escrituras:
a) Era filha da casa de Davi como profetizado que Jesus seria;
b) Era uma serva de Deus;
c) Foi abençoada por fazer parte dessa história, bem-aventurada;
d) Reconhecia a sua condição de humidade;
e) Esperava em Deus como seu salvador;
Em nenhum momento no contexto dos Evangelhos nos é permitido pensar que Maria teria qualquer ascendência, sequer mesmo influência sobre o ministério de Jesus. Apesar da ginástica feita por católicos para tentar explicar que o termo irmãos encontrado nos evangelhos em relação a Jesus não significaria irmãos consanguíneos e sim um genérico de parentesco não encontramos sentido nisso quando o próprio Lucas usa o mesmo termo de forma bem clara para falar de Isabel como irmã de Maria. E não existe qualquer indicativo no grego para que a palavra irmão seja entendida como parentesco apenas. Com isso derruba-se também o dogma de que Maria teria se conservado virgem por toda a vida.
Quem foi José
Se os Evangelhos pouco falam sobre Maria, menos ainda sobre José, sabemos que era carpinteiro, é bom entender que este ofício naqueles tempos envolvia muito mais do que algo ligado apenas a trabalhos com madeira, envolvia inda ser um artífice com matérias como metais igualmente. É bem provável embora a Bíblia não nos diga nada a respeito que Jesus na sua infância de alguma forma atuava junto ao pai em se ofício, antes de assumir seu ministério. Sabemos que ele ao saber da gravidez de Maria cogitou pedir o divórcio conforme a Lei, porém isso exporia Maria inclusive a possibilidade de pena de morte por adultério. Há quem defenda a ideia de José pensou em despedi-la silenciosamente por divórcio por entender que não seria ele mesmo digno do papel que teria que desempenhar. Não nos parece que tenha sentido essa ideia tendo em vista que após ser comunicado em sonho sobre o ato miraculoso do nascimento de Jesus ele muda de intenção.[1]
Mas o importante mesmo que temos de saber a respeito de José é que a Bíblia testifica que José era um homem bom, justo e temente a Deus.[2]
O Nascimento de Jesus
Primeiramente existe uma diferença em relação ao calendário gregoriano sobre o ano de nascimento. Jesus teria nascido alguns anos antes do que o calendário confeccionado sob determinação do papa Gregório XIII informa como ano do nascimento de Jesus. A data de 25 de dezembro também parece bem improvável, não é incomum nevar no inverno em Israel, e seria pouco provável que a viagem se desse ali nesse período. O censo, era comum o império Romano fazer o recenseamento dos cidadãos nas áreas ocupadas, os impostos em geral eram requeridos em função desse número de habitantes. Dito isso existe muito debate sobre o ano exato do nascimento. Lucas se refere ao imperador Cesar Augusto, há quem polemize sobre isso porque o imperador da época seria Octávio, mas vamos lembrar que tanto o termo Cesar quanto o termo Augusto eram termos honoríficos, Cesar significa imperador ou rei, e Augusto significa majestoso, exaltado, portanto não conseguimos ver qualquer discrepância que possa parecer uma grande incoerência. O censo teria sido determinado por Quirino que era governador da Síria,[3] lembrando que a estrutura hierárquica romana era bem complexa e não igual em todas as regiões.
O fato é que José e Maria se deslocaram de Nazaré para Belém para serem recenseados, o natural era que cada um fosse contado na sua cidade de origem familiar. Era uma viagem de 160 km, envolvia certamente alguns dias de caminhada e não deve ter sido fácil para uma gestante de 9 meses.
Chegando em Belém eles tiveram dificuldade em encontrar uma estalagem. Esqueçam os presépios tradicionais, Maria e José não ficaram num estábulo, na época de Jesus era bem comum que os animais ficassem dentro de casa numa parte reservada para isso e não ao relento mas isso não elimina a precariedade das acomodações para um parto e acomodação de um recém nascido.
Temos alguns eventos diretamente ligados ao nascimento e infância de Jesus que são relatados de forma distinta entre Mateus e Lucas, vamos apresenta-los na ordem que nos parece mais correta:
Apenas os Evangelhos segundo Mateus e Lucas trazem os relatos do nascimento e da infância de Jesus. No entanto existem diferenças entre os relatos, o que alguns trazem como se houvessem incoerências impossíveis de conciliar entre eles. Mas não há qualquer contradição que não possa ser explicada de maneira bem razoável, e é possível harmoniza-los.
Essa sequencia é a que mais nos parece estar correta:
O anjo visita Maria e ela concebe do Espírito Santo |
Mateus 1:18; Lucas 1:27-28 |
Maria imediatamente vai visitar Isabel, sua prima e fica por três meses |
Lucas 1:39-56 |
José em algum momento enquanto Maria estava com Isabel, decide abandonar Maria e é impedido pelo anjo |
Mateus 1:19-24 |
João Batista nasce e é circuncidado |
Lucas 1:57-79 |
José se casa com Maria em depois dela voltar da casa de Isabel |
Mateus 1:24 |
José e Maria saem de Nazaré e vão até Belém para o alistamento |
Lucas 2:1-5 |
Jesus nasce em Belém e é colocado numa manjedoura, não havia acomodação nas estalegens. |
Lucas 2:6-20 |
São visitados pelos pastores |
Lucas 2:8-20 |
Jesus é circuncidado |
Lucas 2:21 |
Saem de Belém e vão a Jerusalém para apresentar Jesus no templo |
Lucas 2:22-38 |
Eles voltam para Nazaré e continuam a morar lá |
Lucas 2:39-40 |
Em algum momento, até dois anos depois, eles voltam para Belém |
Mateus 2:8-11 |
Os magos do Oriente chegam em Jerusalém e se encontram com o rei Herodes para perguntar sobre o seu nascimento |
Mateus 2:1-2 |
O rei Herodes envia os magos até Belém |
Mateus 2:8 |
Os magos, guiados novamente pela estrela, chegam até uma casa onde estava Maria com o bebê Jesus, onde eles prestam culto a Cristo e o presenteiam com “tesouros” de “ouro, incenso e mirra”. |
Mateus 2:9-11 |
Os magos voltam para o Oriente, por conta de uma revelação de Deus sem passarem por Jerusalém |
Mateus 2:12 |
José recebe uma revelação em sonho, para que fuja para o Egito. |
Mateus 2:13-14 |
O rei Herodes manda matar todas as crianças de dois anos para baixo que havia em Belém |
Mateus 2:16 |
Permanecem no Egito, por menos de um ano, até a morte do rei Herodes |
Mateus 2:15,22 |
A família voltou para Nazaré |
Mateus 2:22,23 |
Jesus debate com doutores no templo |
Lucas 2:41-52 |
Aparentes problemas na narrativa sobre os magos
Quando os magos do Oriente chegam para visitar Jesus, ele já tinha nascido. Herodes queria saber exatamente quando a estrela apareceu. Ou seja, os magos receberam a revelação do nascimento de Cristo por meio de uma estrela e o rei Herodes queria saber quando eles tinham visto essa estrela para, com base nisso, calcular há quanto tempo Cristo havia nascido. Foi com base nisso que ele mandou matar as crianças. Se ele mandou matar as crianças de dois anos para baixo, com base no testemunho dos magos, isso indica que Cristo teria nascido dois anos antes e esse havia sido o tempo que eles demoraram para sair do Oriente e chegarem em Jerusalém, desde quando receberam a revelação. Não sabemos de que lugar eles vieram do Oriente, talvez do Império Parta[4], ou possivelmente tenham vindo da Índia, de qualquer forma uma viagem bem longa e demorada.
É importante observar que a aparente contradição entre as duas narrativas. Pode ser facilmente conciliada.
Segundo o Evangelho de Mateus, os magos encontraram com Cristo em uma “casa… com Maria sua mãe”[5] em Belém.[6] Depois disso, a família sagrada foi para o Egito, onde morou por um tempo.[7] No evangelho de Lucas no entanto, depois do nascimento, circuncisão e apresentação de Cristo no templo, a família sagrada “voltou à Galiléia, para a sua cidade de Nazaré”[8]. É dito que a família já morava lá[9] e que eles somente foram até Belém por causa do alistamento. Ou seja, eles moravam em Nazaré, foram até Belém, foram até Jerusalém para apresentar a criança e depois voltaram para Nazaré. Depois disso, não há maiores detalhes sobre outros lugares para onde eles teriam ido, mas, é dito que “todos os anos iam seus pais a Jerusalém à festa da páscoa”[10].
Para os magos tenham encontrado com Jesus em Belém, é preciso que, depois deles terem voltado para Nazaré, onde eles já moravam, eles tenham voltado novamente para Belém, cerca de dois anos depois. Dois anos é tempo suficiente para que, por algum motivo, eles tivessem ido a Belém de novo.
Estando lá, eles se encontraram com os magos e, então, fugiram para o Egito. O período em que permaneceram no Egito tem que necessariamente ter sido menos de um ano, para que houvesse tempo para que fosse possível que estivessem todos os anos em Jerusalém na festa da Páscoa. Sendo assim, eles teriam fugido para o Egito em algum momento logo depois da festa da Páscoa e teriam voltado em algum momento antes da festa da Páscoa do ano seguinte.
Vários testemunhos relatados dão conta da natureza e ministério do menino Jesus.
Os presentes dos Magos
Ouro, incenso e mirra, descreviam os ofícios de Jesus, o ouro devido ao Rei, o incenso, sacerdote e a mirra, Profeta.
O cântico de Ana
Ana era um profetiza que segundo o relato vivia o tempo todo no templo em adoração e ela dá testemunho de Jesus como o cordeiro redentor.
O cântico de Simeão
Simeão é relatado como justo e piedoso e que havia tido uma revelação pelo Espírito Santo que não morreria antes de ver o Cristo. Quando viu Jesus o tomou em seus braços e declarou que poderia podia morrer em paz porque já tinha visto a salvação, surpreendendo Maria e José, ainda complementou que Jesus seria salvação para uma parte de Israel e ruína para outra parte.
Jesus entre os doutores
Temos poucas informações sobre a infância de Jesus, mas uma que temos é marcante, aos doze anos, numa das viagens que José e Maria faziam anualmente a Jerusalém, Jesus terminou sendo deixado para trás, após alguns dias de viagem voltaram e o encontraram no templo debatendo com os doutores da lei. Primeiramente é notável a apresentação do conhecimento que ele tinha das escrituras reconhecido pelos doutores da lei. Jesus aos doze anos declara de forma cabal a sua filiação mas que não é entendida claramente por seus pais terrenos nem pelo demais.[11] Longe de ser uma resposta mal criada, Jesus estava declarando seu ministério, Lucas logo em seguida diz que ele era submisso aos seus pais e crescia em estatura e graça, estava a caminho de se tornar o adulto que cumpriria o seu propósito.
E Maria tudo guardava em seu coração.
[1] Mateus 1:20
[2] Lucas 1:6
[3] Públio Sulpício Quirino foi nomeado governador da Síria após a expulsão de Herodes Arquelau da Tetrarquia da Judeia e da imposição da administração direta romana
[4] Ficava ao leste do atual Irã e era um potencia economica da época sendo rota entre o império romano e o império ham, chinês.
[5] Mateus 2:11
[6] Mateus 2:8
[7] Mateus 2:13-15
[8] Lucas 2:39
[9] Lucas 2:4
[10] Lucas 2:41
[11] Lucas 2:49
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