Assisti recentemente a um filme chamado A Favorita, produção do ano passado com Olivia Colman, Rachel Weisz e Emma Stone, dirigido por Yórgos Lánthimos.
Não farei nenhuma crítica cinematográfica, primeiro porque não tenho conhecimento para isso e segundo em obras de cinema e TV me ocupam mais a mente a história em si do que a forma como ela é contada e os efeitos de cenário, música, luzes e imagens, embora isso possa ajudar ou atrapalhar a compreensão do foco principal.
Ambientada no século XVIII, a trama, sem entrar em muitos detalhes para não dar spoiler, gira em torno de Sarah Churchill, a Duquesa de Marlborough (Rachel Weisz) que exerce sua influência na corte como confidente, conselheira e amante secreta da Rainha Ana (Olivia Colman) e tem seu posto ameaçado pela chegada da aparentemente gentil, ingênua e atrapalhada Abigail (Emma Stone).
Apesar de toda boa ambientação, cenários e figurinos de época muito bm feitos, esqueça a ideia de que se trata de um filme com foco em mostrar um pouco que seja de história. Elementos críticos ao luxo e a frivolidade estão lá. Um certo aspecto de luxúria também.
Mas o que desejo abordar aqui é o aspecto da ambição, Sarah busca manter seu status, Abigail, aparentemente inocente e grata a sua prima pela oportunidade não deixa passar a primeira oportunidade que tem de trai-la e se tornar a queridinha da rainha, a própria rainha demonstra todas sua frivolidade em usar a ambas, mesmo que possa parecer que ela é quem estaria sendo enganada.
Confesso que comecei a assistir pensando que se tratava de uma comédia datada na Inglaterra feudal do século XVIII pois foi assim que o trailer o vendeu. Fui positivamente surpreendido. Esqueça história no filme, nenhuma importância, tem um quê de comédia sim, mas o assunto principal não é esse, trata de disputa de poder, até onde se vai para alcançar status, o que se vende para ganhar prestígio e tem um final um tanto quanto surpreendente. Os personagens não tem quase nenhum pudor em mentir, chantagear, subornar, prostituir (não necessariamente no aspecto sexual) a si mesmo e aos outros, a fim de alcançarem seus anseios de poder e reconhecimento, sem no entanto enxergarem que estão no lugar do poder, se oferecendo a escravidão da alma e do espírito, por esse suposto poder abrem mão de seus liberdades e convicções. O final não é convencional, mas quem parece perder a disputa, ganha de alguma forma uma liberdade, e quem aparentemente venceu descobre que na verdade se acorrentou a algo grotesco e vilipendiador.
Existe um verso bíblico, como muitos, repetido e mal usado, fora de contexto, mas quem vem ao caso aqui : “... conhecereis a verdade e ela vos libertará.”. É importante sabermos que a verdade aqui é Cristo, o Evangelho, e não a constatação de um fato como aconteceu ou como ele é, e que a liberdade, ao contrário do que dizia aquele comercial da US Top, não é “uma calça velha, azul e desbota que você pode usar do jeito que quiser”, mas sim se despojar de si mesmo. O auto esvaziamento do próprio orgulho, vaidade e desejos egoístas é quem traz de fato a libertação, o nosso apego ao conforto, ao dinheiro, ao poder, e a suposta capacidade de definir nossos destinos, mesmo que para isso precisemos violentar e prostituir nossa mente e ou nosso corpo para alcançar nos leva apenas a uma escravidão de nossos próprios desejos e do desejo de outros.
O Kenosis (ekénose, ekenõsen) de Cristo é o principal exemplo a ser usado pelo Cristão, não o EU é o que importa, mas sim esvaziar-se de si mesmo para atentar para as necessidades dos outro.
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