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Devocional: O seguir a Jesus como prioridade de vida.






Lucas 9:57-62

Jesus como descrito em Lucas foi um líder que trabalhava o ensino de seus discípulos através de exemplos e sermões práticos. Usava bastante metáforas e situações do cotidiano das pessoas para transmitir seus ensinamentos. Sem fugir a verdade das Escrituras sempre trazia aplicações para seus ensinamentos.

Essa passagem se dá durante sua viagem da Galiléia para a Judéia, mas precisamente uma de suas idas a Jerusalém. E se dá um pouco depois do milagre da multiplicação dos pães, da instrução sobre a missão dos doze e do evento da transfiguração.[1]

Esse texto no qual vamos trabalhar hoje vem logo após os samaritanos terem rejeitado a Jesus por ter sido esse reconhecido como judeu, aquela a passagem onde o discípulo que tanto falava em amor, João, é identificado como filho do trovão. Mas isso é assunto de um sermão que comuniquei ano passado.[2]

O subtítulo posto antes de extrato de Lucas é Jesus põe à prova os que queriam segui-lo. E é sobre isso que vamos tratar aqui.

De antemão devemos ter em mente que o seguir a Jesus, nem lá no início do primeiro século, tampouco hoje, implica necessariamente em largar tudo e sair pelo mundo pregando pelas ruas e praças. Alguns são chamados para isso, outros no entanto são chamados para dentro de suas profissões servirem a Cristo. São vários os personagens citados no Novo Testamento. E se todo mundo saísse pelo mundo não haveriam igrejas, não é mesmo?

Então entendamos as metáforas e exemplos usados por Jesus aqui nesse texto como aludidas a todos os casos de serviço cristão, seja qual for o que você tenha sido chamado para exercer.

A primeira dificuldade que temos ao estudar Lucas é que ele traz vários textos que não tem paralelos nos demais evangelhos, e esse é mais um destes. Alguns versos até são citados, mas não com o mesmo conjunto.

Temos pelo menos tres tipos de seguidores aqui, e não vamos tratar, mesmo porque o texto não nos deixa isso claro, se eram sinceros ou não, mas de detalhes que podem nos trazer aprendizado sobre nossa própria forma de encararmos a missão.

O disposto - “Seguir-te-ei para onde quer que fores.”

Este destemidamente assumiu estar com Jesus em qualquer situação, qual não deve ter sido sua surpresa ao ser confrontado com a realidade do ministério de Jesus: “o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.”. Deve ser essa frase uma referência a ocorrência imediatamente anterior ao ocorrido na aldeia samaritana um pouco antes[3], Ele usa o exemplo das raposas e aves que tem seus ninhos para dormir, e aponta que Ele, o Senhor da Glória, não encontra acomodação facilmente entre os homens.

Aqueles que se dispõem a seguir a Jesus devem ter em mente que suas posições e ações no seguir a Cristo quase nunca encontraram grandes recepções entre os homens.

O com outras prioridades – Permite-me ir primeiro sepultar meu pai”.

Certamente Jesus não estava ensinando que devemos deixar nossos mortos, nossos entes queridos apodrecendo sem uma despedida digna. O foco aqui é outro, Cristo estava ensinando àquele que a vida de serviço exige prioridade[4], e lembrando que no texto imediatamente anterior de Lucas as Escrituras nos dizem sobre o semblante de Jesus era que “... o aspecto dele era de quem, decisivamente, ia para Jerusalém.”[5]

Esse era o início da última viagem de Jesus a Jerusalém, ela não foi rápida, mas Ele tinha a ciência e o foco na Sua missão de morrer sacrificialmente para resgatar os Seus conforme o plano de Deus. E é isso que Jesus ensinava aqui, a urgência da missão, a necessidade de foco e prioridade, “Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus.”.

O apegado ao passado. – “... deixa-me primeiro despedir-me dos de casa”.

Mais uma vez não é um ensino de desprezo a família, muitas das passagens bíblicas nos ensinam o amor a família e que se ela não for convertida ainda deve ser o grupo inicial de nossa pregação. Mas sim tratar do apego as coisas que tínhamos antes de nossa conversão. Todo mundo experimenta o abandonar de várias coisas que tínhamos como caras ao longo de nossas vidas e que passam a não valer nada, ou quase nada. Isso ainda mais é claro em relação a hábitos e gostos que tínhamos antes de nossa conversão e que passamos a desprezar após ela nos apegando a coisas novas que passam a ter mais relevância.

Jesus arremata essa questão com uma das frases mais conhecidas da Bíblia: “Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é i apto para o reino de Deus”. Não é o meu caso mas aqueles que vivenciam a agricultura entendem bem essa metáfora. As linhas dos canteiros devem ser retas com espaçamentos igual entre cada linha,  o que seria catastrófico fazer sem prestar atenção, deixando a vontade do animal o desenho do canteiro. Essa precisão é tão importante que grandes cultivos utilizam hoje monitoramento via satélite com GPS para desenho dessas linhas.

Aquele que é chamado para a missão deve ter como foco prioritário ela, nada pode ser mais importante do que o cumprimento da vocação para a qual você tenha sido chamado.




[1] Jesus geralmente era peripatético, durante a viagem continuamente ensinava nas suas caminhadas usando elementos da natureza e do dia a dia de seus seguidores.
[3] Cf. Lucas 9:51-56
[4] Importante ressaltar que o Shivá, o luto judaico dura 7 dias, e era provavelmente a esse tempo todo que o seguidor se referia sobre enterrar seu pai.
[5] Lucas 9:53

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