Tem
um tempo, não muito grande, atrás que publiquei um post intitulado A
Arte de ser mentiroso falando uma verdade onde eu abordava num
aspecto mais cotidiano e ligado a tons da política nacional o fato que muitos
usam argumentos intrinsecamente verdadeiros mas para defender falsas bandeiras.
Hoje
volto ao tema, mas num enfoque mais afeito a questões da fé e da religiosidade
e da aparente piedade.
Um
dos maiores problemas em debates hoje em dia são as falsas bandeiras, ou como
chamam também, os espantalhos. Junto com a projeção de nossas visões nos
outros, somo limitados em nossos pensamentos e na forma de ver o mundo e
projetamos isso nas outras pessoas para nos facilitar a projeção daquilo que já
decidimos que os outros são.
O
assunto é muito amplo, mas quero me ater mais fortemente a ideia de que podemos
limitar o entendimento do Evangelho, do próprio Cristo a nossa visão acusando os
outros de fazerem exatamente isso, sendo
que nós trabalhamos apenas baseados em nossos próprios conceitos e mais nada, e
acusamos os outros de estarem presos a dogmas, que mesmo na nossa argumentação
são apenas dogmas diferentes dos. Nossos. E claro que este tipo de
posicionamento sempre vem acompanhado de uma visão autoindulgente que enxerga
em nós mesmos um pietismo que lá no fundo depois de uma análise crítica não
resiste ao crivo do orgulho pela própria humildade. Demonstrada sempre ao
apontar o dedo para as falhas de outros ao tempo que relativiza as falhas quando
lhe é interessante. Ou na transmutação da bobagem de dizer que a única falha é
achar que os outros estão falhando.
Um
bordão muito usado é o tal “Jesus é a chave hermenêutica”. O que teria de
errado nessa frase? Quase nada a não ser uso que se dá a ela.
Jesus
como chave hermenêutica significa que nossa leitura das Escrituras deve ter
sempre em mente O EVANGELHO, ou seja cada texto bíblico de alguma forma aponta
para a Revelação Máxima Divina, mesmo que essa revelação seja progressiva ao
longo da Palavra. Cada ensino, cada doutrina e cada livro se relaciona com o
Plano maior de Deus na redenção de Cristo.
Dito
isto, o problema é usa-la para retirar da Bíblia aquilo que não entendemos como
conveniente. A frase “Jesus não pregaria isso” sempre acompanhada de uma
retirada de algo que possamos considerar incomodo. O uso desse tipo de recursos
é herético. Os que o assim fazem não mais são do que os piores ímpios, porque
usam da religiosidade, que em geral tanto renegam, para impingir uma
religiosidade vazia sem compromisso com a verdade.
“Assim,
uma constatação torna-se inegável: praticamente todos que advogam ter Jesus
como chave hermenêutica são ímpios que leem a Escritura desconsiderando tudo
aquilo que suas mentes carnais odeiam”.
(Yago Martins)
Em
geral essas pessoas pregam o amor ao pecador como a única virtude do
cristianismo, sem considerar que a Palavra nunca nos ensina, nem naquelas
palavras em vermelho que dizem ser as palavras literais de Jesus, que Deus ama
irrestritamente a humanidade, Sua criação, sem que haja contraposição ao ódio profundo
que Deus tem pelo pecado.
Um
outro problema é que teríamos que encontrar em Cristo alguma palavra que
indicasse isso. Primeiramente ele disse textualmente que a Lei precisava ser
cumprida (Mateus5:17). Não há em qualquer momento um referência de relativização
da “Lei e dos Profetas”, muito pelo contrário. Não podemos usar o texto de
Lucas 16 para defender essa tese, basta olhar o contexto.
Por
outro lado o próprio Jesus afirmou que os apóstolos teriam toda a autoridade
que ele tinha naquele momento de fundação da igreja.
Aqueles
que dizem que as palavras de Jesus são mais importantes que as de Paulo, não
entenderam as palavras de Jesus.
A não
ser que consideremos os apóstolos e patriarcas da igreja como fraudes ou
enormes tolos será difícil corroborar com tal forma de pensar.
Vejamos.
1) A igreja está
fundamentada na doutrina dos Apóstolos (Ef 2:20).
2) Paulo condena aqueles que, dizendo ser apenas de
Cristo, se recusavam a ouvir o que diziam os apóstolos (1 Co 1:10-17).
3) Cristo prometeu aos seus apóstolos não apenas que o
Espírito Santo os faria “lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo
14:26), mas também que o Espírito Santo “vos ensinará todas as coisas”
(Jo 14:26) e “vos guiará a toda a verdade” (Jo 16:13).
4) Os apóstolos receberam de Cristo, através do Espírito,
mais daquilo que o Senhor desejou que soubéssemos. “Irmãos, quero que saibam
que o evangelho por mim anunciado não é de origem humana. Não o recebi de
pessoa alguma nem me foi ele ensinado; pelo contrário, eu o recebi de Jesus
Cristo por revelação” (Gl 1:11-12).
5) “O mandamento do Senhor e Salvador” foi “ensinado pelos vossos apóstolos” (2 Pe
3:2);
6) Pedro equipara os escritos de Paulo ao Antigo
Testamento, chamando-os de “Escritura” (2 Pe 3:16).
7) “Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça
ser mandamento do Senhor o que vos escrevo” (1 Co 14.37).
8) Paulo agradecia a Deus sem cessar pelos
Tessalonicenses: “ao receberem de nossa parte a palavra de Deus, vocês a
aceitaram não como palavra de homens, mas segundo verdadeiramente é, como
palavra de Deus” (1 Ts 2:13).
9) Paulo ensinava “não com palavras ensinadas pela
sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito” (1 Co 2:13).
10)
Paulo não poderia
ser mais claro: “Cristo fala por meu intermédio” (2 Co 13:3).
Estariam
essas pessoas acusando Paulo de ser uma fraude? Herege? Um louco?
Pode
alguém perguntar se somos seguidores de Cristo ou de homens. Aliás, esses falsos
piedosos, sempre se colocam como autoridades ao afirmar que são seguidores
de Cristo apenas.
A
pergunta que aqui cabe, é a que Cristo eles seguem, Porque todo que conhecemos
de Cristo vem pela voz de outros homens. Mesmo as palavras atribuídas como
diretamente ditas por Jesus, são nos trazidas pela voz de outros. O fato nunca
admitido é que o que eles querem é selecionar o texto que se adequa a sua
definição da prórpia religiosidade.
Não
dá para ignorar que ou aceitamos o Novo
Testamento por completo, ou não tem Jesus, não tem cristianismo, não tem
Bíblia, não tem fé e não tem salvação. Não teremos Testamento nenhum.
“Infelizmente,
ainda há, em pleno século XXI, quem tente opor Jesus aos outros escritores
bíblicos. Como disse Gresham Machen, tem-se a impressão que o liberal substitui
a autoridade da Bíblia pela autoridade de Cristo. Tal homem diz que não pode
aceitar o que ele considera um ensino imoral do Antigo Testamento ou um
argumento sofisticado de Paulo, em oposição os simples e morais ensinos de
Jesus. Assim, ele se considera o mais puro verdadeiro cristão, uma vez que,
rejeitando todo o restante da Bíblia, ele só depende de Cristo.”[1]
“Quem
se recusa a ouvir os apóstolos de Cristo recusa-se a ouvir o próprio Cristo e
atrai sobre si seu descontentamento”[2]
Homens
que tratam o que é revelado após Jesus como contaminado com o machismo,
judaísmo, capitalismo, comunismo, ou qualquer outro ismo que seja simplesmente
negam a Deus, ao Seu poder e a Sua Revelação.
Por
fim em geral ao analisarmos lá no fundo, depois daquela aparente camada de
pietismo o que vemos é a tentativa de engajar e enquadrar, agora sim, O
VERDADEIRO EVANGELHO, em sua visão ideologizada de mundo, e a prontidão de
através de autointitulados bordões se fazer a si mesmo o conhecedor destacado
da verdade, só que não consegue esconder que é a sua verdade em particular escolhida de acordo com suas conveniências.
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