Sobre os atributos de Deus temos muitas referências bíblicas,
porém em nenhum local da Bíblia encontraremos uma lista completa e clara destes
atributos nem um arrazoado sobre como eles se manifestam de forma exata, porém
podemos tecer algumas conclusões com um olhar completo sobre a Palavra.
Não é nosso objetivo aqui fazer um tratado sobre os
atributos, mas apenas declarar alguns princípios que de certa forma ajudem a
nortear o estudo e o entendimento que se faça de cada um deles.
Inicialmente tratemos que é impossível ao homem ter uma
compreensão completa do Ser de Deus, conhecemos apenas o que ele nos revelou,
existe certamente muito mais em Deus do que aprouve a Ele nos revelar nas
Escrituras. Essa é outra questão, apenas na Bíblia podemos encontrar
informações que nos revelam um pouco do Ser de Deus e isso é revelado
exatamente nos Seus atributos.
Ao invés dessa visão parcial causar desconforto devemos ter
em mente que Ele certamente nos revelou tudo o que de fato precisaríamos
saber.
Voce não encontrará uma lista única dos atributos de Deus,
nem na Bíblia, nem em nenhum compêndio de teologia. O que segue abaixo é uma
lista que não se pretende completa. Notem no entanto que os atributos
comunicáveis não os são na sua plenitude aos homens, mas de forma parcial os
exercemos visto que somos embotados pelo pecado.
Os atributos incomunicáveis de Deus
1- Asseidade: significa que Deus é auto-existente, e não necessita de
nada nem ninguém para continuar a existir, ou seja, Ele não depende de ninguém
fora de si mesmo para ser o que é. Obviamente a asseidade de Deus está
diretamente ligada a sua eternidade (Sl 90:1,2).
2- Eternidade: significa que Deus sempre existiu, Ele não foi criado
por ninguém e está acima de qualquer limitação de tempo (Gn 21:33; Sl 90:1,2).
Ele não tem começo nem fim, e existe sem sucessão de momentos, ou seja, para
Ele não existe passado, presente e futuro, pois seu presente é sempre a própria
eternidade.
3- Unidade: significa que Deus é um e que todos os atributos dele
estão inclusos em seu ser o tempo todo. A doutrina da Trindade não contradiz
esse principio, pois as três Pessoas distintas formam um único Deus, ou seja,
sua essência é indivisível (Dt 6:4; Ef 4:6; 1Co 8:6; 1Tm 2:5).
4- Imutabilidade: significa que Deus não muda jamais, ou seja, tanto Seu
ser como Suas perfeições não sofrem qualquer alteração, e Ele não muda, de
forma alguma, os Seus propósitos e promessas (Tg 1:17). Aqui é importante
entender que qualquer tipo de alteração que as Escrituras pareçam sugerir é
apenas figuras de linguagem para que nós, humanos, possamos compreender de
forma mais didática o relacionamento dele conosco.
5- Infinitude: significa que Deus é infinito em seu ser e não sofre
qualquer tipo de limitação. O tempo e o espaço não podem limitá-lo (1Rs 8:27;
At 17:24-28). Talvez a qualidade da infinitude seja um dos atributos de Deus
que apresenta mais dificuldade de compreensão por parte dos homens. Geralmente
os estudiosos entendem que a infinitude de Deus também aparece revelada através
de outros atributos, como a onipresença, onisciência, onipotência e a
eternidade.
6- Onipresença: significa que Deus não é limitado de nenhuma forma pelo
espaço. Sua presença é infinita, de modo que Ele está presente em toda parte
com toda plenitude do Seu ser (Sl 139).
7- Onipotência: significa que Deus possui todo poder, isto é, seu poder
é infinito e ilimitado. Deus é soberano e capaz de cumprir todos os Seus
propósitos (2Co 6:18; Ap 1:8).
8- Onisciência: significa que Deus conhece todas as coisas de modo
completo e absoluto. Seu conhecimento é infinito e não está sujeito a qualquer
limitação. Ele não precisa pedir nenhuma informação, bem como nunca possui
dúvidas (Sl 139; 147:4).
9- Soberania: significa que Deus controla todas as coisas, pois Ele
próprio é soberano e supremo sobre tudo e todos. Ele é quem governa o universo
e conduz a História segundo os seus propósitos eternos. Também é importante
saber que a soberania de Deus não anula a responsabilidade humana, e nem a
responsabilidade humana descaracteriza as ações soberanas de Deus (Fp 2:12,13).
Os atributos comunicáveis de Deus
10- Amor: a Bíblia declara explicitamente que “Deus é amor” (1Jo
4:8). O amor, como um dos atributos de Deus, deve ser entendido, sobretudo,
pelo aspecto do que os escritores do Novo Testamento chamaram de “amor ágape“,
isto é, um amor profundo e incondicional, que ao mesmo tempo em que revela
grande afeição, também revela cuidado, zelo, correção e abnegação.
O apóstolo Paulo escreveu que o amor de Deus é
derramado no coração dos cristãos genuínos (Rm 5:5). Certamente a maior
manifestação do amor de Deus foi enviar Jesus, seu Filho, para morrer por
pecadores. Esse ato imerecido é designado como graça (Ef 2:4-8). Aqui mais uma
vez vale ressaltar que o atributo do amor não anula os atributos da santidade,
justiça e retidão.
A própria obra de Cristo no Calvário deixa isso
muito bem claro, pois se por um lado vemos seu infinito amor ao enviar seu
próprio Filho, por outro vemos que esse ato serviu para satisfazer a sua
justiça e santidade. Se Ele fosse mais amor do que justiça, santidade e
retidão, Ele poderia ter perdoado os pecadores sem precisar sacrificar seu
próprio Filho.
Logo, não existe qualquer base bíblica ou
fundamentação lógica para dizer que os demais atributos de Deus estão
sujeitos e subordinados ao seu atributo do amor, resultando, como já foi dito,
na heresia do universalismo, ou, em alguns casos, no próprio aniquilacionismo.
11- Bondade: esse atributo está diretamente ligado ao atributo do
amor, enfatizando a benevolência de Deus para com suas criaturas. A bondade de
Deus também implica na realidade de que tudo o que Ele faz é essencialmente bom
e legítimo, mesmo que o homem não compreenda (2Cr 30:18; Sl 86:5; 100:5;
119:68; At 14:17).
12- Misericórdia: a misericórdia é outro atributo que também está ligado
ao atributo do amor, e revela a compaixão e piedade Deus para com os miseráveis
e angustiados (Ef 2:4,5). Na verdade, além da misericórdia e bondade (citada
acima), existem várias outras características de Deus que estão relacionadas ao
atributo do amor, como por exemplo, a benevolência, a benignidade e a
longanimidade.
Através do capítulo 5 da Epístola aos Gálatas,
percebemos que muitos dos atributos comunicáveis de Deus são compartilhados com
os cristãos através do fruto gerado pelo Espírito Santo.
13- Sabedoria: significa que Deus é infinitamente sábio, de modo que
Ele próprio é a fonte da sabedoria. O profeta Daniel entendeu isso ao
dizer que “dele são a sabedoria e a força” (Dn 2:20; cf. Jó
12:13; Jó 36:5; Sl 147:5; Is 40:28; Rm 11:33). Além disso, devemos entender que
a sabedoria de Deus é completamente superior à sabedoria dos homens (Is 55:8;
cf. Jó 28:12-28; Jr 51:15-17).
14- Justiça: significa que Deus é plenamente justo e perfeito em sua
retidão. Não há injustiça em Deus, e dele não provém nenhum tipo de
desigualdade. Ele sempre é correto, e seus juízos são perfeitos (Sl 11:7; Dn
9:7; At 17:31). Muitos estudiosos também detalham o atributo da justiça em
outras características específicas, como a retidão e a equidade.
15- Santidade: significa que Deus é completamente separado do pecado,
e totalmente comprometido com sua honra. Ele nunca está relacionado a qualquer
coisa impura ou qualquer comportamento indigno (Is 40:25; Hc 1:12; Jo 17:11; Ap
4:8). O atributo da santidade em Deus exige que os pecadores estejam separados
dele, a menos que estes sejam justificados pelos méritos de Cristo, sendo
feitos nele santo.
16- Veracidade: significa que Deus, e tudo o que provém dele, é
necessariamente verdadeiro, infalível e absolutamente confiável (Hb 10:23), de
modo que Ele é o próprio Deus verdadeiro (Jo 17:3). O atributo da veracidade
também expressa a fidelidade de Deus, ou seja, tudo o que Ele revelou de si
mesmo é genuíno, e por ser fiel, Ele nunca fará nada que afronte a sua própria
natureza ou contradiga sua palavra.
17- Liberdade: significa que Deus não precisa de nada nem ninguém para
fazer o que quer, ou seja, Ele é completamente livre para executar sua vontade
(Mt 11:26; cf. Is 40:13,14) de acordo com a perfeição de sua natureza, ou seja,
apesar de ser completamente independente e livre, isso não significa que Ele
seja livre para pecar, mentir, deixar de ser Deus ou mesmo morrer, pois trais
coisas contrariam seu próprio ser.
18- Paz: esse atributo de Deus nos revela que nele próprio, ou em qualquer
uma de suas ações, não há nenhum tipo confusão ou desordem. Gideão entendeu
essa qualidade de Deus quando declarou “O Senhor é paz” (Jz
6:24).
Erros na interpretação dos atributos de Deus
Muitas pessoas por falta de conhecimento destes atributos
fazem considerações a respeito do caráter de Deus que chegam a afrontar a
perfeição de seu Ser.
Um desses erros está exatamente na tentação de superlativizar
um ou mais atributos em detrimento de outros. Um exemplo muito comum é ênfase
que se dá ao amor de Deus de tal forma que passam a ideia que este atributo se
sobrepõe em importância e ação a outros atributos como a justiça. Apresentam
não como se Deus não fosse totalmente justo, poucos se atrevem a isso, mas
apresentam uma justiça mesmo total, como se possível fosse, subordinada ao Seu
amor.
Essa ênfase em alguns atributos mais do que a outros pode nos
levar a heresias por conta do falso entendimento do Ser de Deus.
A Bíblia nos demonstra que todos os atributos de Deus são
plenos em Seu Ser. Todos são absolutos. A verdadeira doutrina bíblica é a de
que Deus é todo amor e é todo justiça.
Talvez a compreensão sobre isso fosse melhor se usássemos os
atributos de Deus como substantivos e não como adjetivos. Deus é AMOR, não
apenas amoroso, DEUS é JUSTIÇA, e não apenas justo. Com isso queremos dizer que
Deus precede, aliás como em tudo posto que é eterno, aos conceitos. Deus não é amoroso
porque age com amor, Ele é a própria definição de amor. Deus não é justo por
age de forma justa, Ele é a própria definição de justiça. Deus precede as
definições. Tudo que Deus faz é amoroso, é bondade, é justiça, etc,
independente de nossos conceitos humanos sobre isso. Uma questão que causa
incomodo mas que claramente a Palavra nos ensina que é assim, é que o vaso
criado para ira e para perdição não pode reclamar de assim ter sido feito
(Romanos 9).
Os atributos de Deus se complementam ao invés de se excluírem
mutuamente. O homem
continua sendo homem mesmo que não tenha alguns de seus atributos humanos.
Deus, diferente disso, não poderia ser Deus se lhe faltasse um de seus
atributos, pois Ele é perfeitamente expresso em cada um deles.
Um exemplo muito prático sobre essa questão do equidade dos
atributos em Deus é essa aparente paroxismo entre amor e ira. Muitos rebatem o
equilíbrio se apegando ao amor demonstrado por Deus para com os seus. Isso na
verdade diminui o sacrifício de Cristo na cruz, o que o amor de Deus fez não
foi anular a sua santa e justa ira, mas direciona-la para o Deus encarnado,
Jesus, o Cristo, o Cordeiro Perfeito imolado por nós. A ira santa e justa de
Deus não foi retida, mas aplicada cabalmente como Ele mesmo decretou. Esse tipo
de compreensão que devemos ter ao estudar os atributos de Deus.
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