Então confira esta cadeia temática bem
construída sobre uma tese doutrinal muito segura e bíblica! Os fundamentos escriturísticos
do batismo de crianças acha-se nos seguintes dados:
(1) A aliança feita com Abrão era primariamente uma
aliança espiritual, embora também tivesse um aspecto nacional, e desta aliança
espiritual a circuncisão era um sinal e selo. É um procedimento infundado dos
batistas partir esta aliança em duas ou três alianças diferentes. A Bíblia se
refere à aliança com Abraão diversas vezes, mas sempre no singular, Ex 2.24; Lv
26.42; 2 Rs 13.23; 1 Cr 16.16; Sl 105.9. Não há sequer uma única exceção a esta
regra. A natureza espiritual desta aliança é comprovada pela maneira segundo a
qual suas promessas são interpretadas no Novo Testamento, Rm 4.16-18; 2 Co
6.16-18; Gl 3.8, 9, 14, 16; Hb 8.10; 11.9, 10, 13. decorre também do fato de
que evidentemente a circuncisão era um rito que tinha significação espiritual,
Dt 10.16; 30.6; Jr. 4.4; 9,25, 26; At 15.1; Rm 2.26-29; 4.11; Fp 3.2, e do fato
de que a promessa da aliança é até denominada “o evangelho”, Gl 3.8.
(2) Esta aliança ainda está em vigência, e é
essencialmente idêntica à “nova aliança” da presente dispensação. A unidade e
continuidade da aliança em ambas as dispensações segue-se do fato de que o
Mediador é o mesmo, At 4.12; 10.43; 15.10, 11; Gl 3.16; 1 Tm 2.5, 6; 1 Pe
1.9-12, a condição é a mesma, a saber, a fé, Gn 15.6 (Rm 4.3); Sl 32.10; Hb
2.4; At 10.43; Hb 11, e as bênçãos são as mesmas, quais sejam, a justificação,
Sl 32.1, 2, 5; Is 1.18; Rm 4.9; Gl 3.6, a regeneração, Dt 30.6; Sl 51.10, dons
espirituais, Jl 2.28, 32; At 2.17-21; Is 40.31, e a vida eterna, Ex 3.6; Hb
4.9; 11.10. Aos que foram levados à convicção no dia de Pentecostes Pedro deu a
certeza de que a promessa era para ele e para os seus filhos, At 2.39. Paulo
argumenta em Rm 4.13-18 e Gl 3.13-18 que a dádiva da lei não anulou a promessa,
de sorte que ela ainda permanece na nova dispensação. E o escritor de Hebreus
assinala que a promessa a Abraão foi confirmada com juramento, de modo que os
crentes neo testamentários podem haurir consolo da sua imutabilidade, Hb
6.13-18.
(3) Pela determinação de Deus, as crianças participavam
dos benefícios da aliança, e, portanto, recebiam a circuncisão como sinal e
selo.
Segundo a Bíblia, a aliança é, evidentemente, um conceito orgânico, e sua
realização segue linhas orgânicas e históricas. Há um povo ou nação de Deus, um
conjunto orgânico tal que só pode constituir-se de famílias. Naturalmente, esta
idéia de nação é muito proeminente no Velho Testamento, mas o notável é que ela
não desapareceu depois da nação de Israel ter servido ao seu propósito. Ela foi
espiritualizada e, assim, passou para o Novo Testamento, de modo que o povo de
Deus, no Novo Testamento, também é apresentado como nação, Mt 21.43; Rm
9.25, 26 (como. Oséias 2.23); 2 Co 6.16; Tt 2.14; 1 Pe 2.9. Durante a antiga
dispensação, as crianças eram consideradas parte integrante de Israel como o
povo de Deus. Estavam presentes quando era renovada a aliança, Dt 29.10-13; Js
8.35; 2 Cr 20.13, tinham um lugar na congregação de Israel e, portanto, estavam
presentes em suas assembléias religiosas, 2 Cr 20.13; Jl 2.16. Em vista de
promessas ricas como as de Is 54.13; Jr 31.34; Jl 2.28, dificilmente
esperaríamos que os privilégios de tais crianças fossem reduzidos na nova
dispensação, e, certamente, não procuraríamos sua exclusão de todo e qualquer
lugar na igreja. Jesus e os apóstolos não as excluíram, Mt 19.14; At 2.39; 1 Co
7.14. A referida exclusão por certo exigiria uma declaração muito explícita a
respeito.
(4) Na nova dispensação o batismo, pela autoridade
divina, substitui a circuncisão como o sinal e selo iniciatório da aliança da
graça.
A Escritura insiste vigorosamente em que a circuncisão não pode mais servir
como tal, At 15.1, 2; 21.21; Gl 2.3-5; 5.2-6; 6.12, 13, 15. Se o batismo não
lhe tomou o lugar, o Novo Testamento não tem nenhum rito iniciatório. Mas
Cristo o estabeleceu como tal substituto, Mt 28.19, 20; Mc 16.15, 16. Seu
sentido espiritual corresponde ao da circuncisão. Como a circuncisão se referia
à eliminação do pecado e à mudança do coração, Dt 10.16; 30.6; Jr 4.4; 9.25,
26; Ez 44.7, 9, assim o batismo se refere ao lavamento purificador do pecado., At
2.38; 1 Pe 3.21; Tt 3.5, e à renovação espiritual, Rm 6.4; Cl 2.11, 12. esta
última passagem claramente liga a circuncisão ao batismo e, ensina que a
circuncisão de Cristo, isto é, a circuncisão do coração, simbolizada pela
circuncisão da carne, é realizada pelo batismo, isto é, por aquilo que o
batismo simboliza. Cf. também Gl 3.27, 29. Mas, se as crianças recebiam o sinal
e selo da aliança na antiga dispensação, a pressuposição é que certamente elas
têm direito de recebe-lo na nova, a qual os fiéis do Velho Testamento eram
ensinados a aguardar como sendo uma dispensação muito mais completa e muito
mais rica. Sua exclusão dela requereria uma declaração clara e inequívoca com
esse fim, mas exatamente o oposto é que se vê, Mt 19.14; At 2.39; 1 Co 7.14. (5)
Como acima foi assinalado, o Novo Testamento não contém nenhuma evidência
direta em favor da prática do pedobatismo nos dias dos apóstolos. Lambert, após
considerar e sopesar todas as evidências à mão, expressa a sua conclusão com as
seguintes palavras: “Então, as evidências do Novo Testamento parecem apontar
para a conclusão de que o batismo de crianças, para dizer o mínimo, não era
costume geral na era apostólica”.
Não há necessidade de ninguém se
surpreender com o fato de não haver menção direta do batismo de crianças, pois
num período missionário como o da era apostólica, naturalmente a ênfase
recairia sobre o batismo de adultos. Além disso, nem sempre as condições eram
favoráveis ao batismo de crianças. Os conversos não teriam de imediato uma adequada
concepção dos seus deveres e responsabilidades pactuais. Às vezes somente um
dos pais se convertia e é perfeitamente concebível que o outro se opusesse ao
batismo dos filhos. Muitas vezes não havia razoável certeza de que os pais
educariam os seus filhos piedosa e religiosamente, e, todavia, era necessária
essa certeza. Ao mesmo tempo, a linguagem do Novo Testamento é perfeitamente
coerente com uma continuação da administração orgânica da aliança, que exigia a
circuncisão das crianças, Mt 19.14; Mc 10.13-16; At 2.39; 1 Co 7.14. Ademais, o
Novo Testamento fala repetidamente do batismo de famílias, e não dá indicação
de que isto seja considerado fora do comum, mas, antes, refere-se a esse fato
como natural, At 16.15, 33; 1 Co 1.16. È, por certo, inteiramente possível, mas
não muito provável, que nenhuma dessas famílias tivesse crianças. E se havia
crianças, é moralmente certo que eram batizadas junto com seus pais. O certo é
que o Novo Testamento não contém nenhuma prova de que pessoas nascidas e criadas
em famílias cristãs não possam ser batizadas antes de chegarem à idade da
discrição e de haverem professado sua fé em Cristo. Não há a mais ligeira
alusão a alguma prática desse tipo. (6) Wall, na introdução da sua História do
pedobatismo (History of Infant Baptism), mostra que no batismo de prosélitos os
filhos dos prosélitos muitas vezes eram batizados junto com seus pais; mas
Edersheim diz que havia uma diferença de opiniões sobre este ponto. Naturalmente,
mesmo que isso acontecesse, nada provaria quanto ao batismo cristão, mas
mostraria que não havia nada de estranho nesse procedimento. A mais antiga
referência histórica ao batismo de crianças acha-se nos escritos da segunda
metade do segundo século. A obra Didaquê fala do batismo de adultos, mas mão do
pedobatismo; e conquanto Justino faça menção de mulheres que eram discípulas de
Cristo desde a infância (ek paidon), esta porção dos seus escritos não menciona
o batismo, e a expressão ek paidon não significa necessariamente infância.
Irineu, falando de Cristo, diz: “Ele veio salvar por meio de Si próprio todos
os que, por meio dele, nascem de novo para Deus, crianças e criancinhas, e
meninos, e jovens e idosos”. Este trecho, embora não mencione explicitamente o
batismo, é considerado como a mais antiga referência ao batismo de crianças,
visto que os chamados “pais primitivos” associavam tão estritamente o batismo à
regeneração, que empregavam o termo ”regeneração” em lugar de “batismo”. Que o
batismo de crianças era praticado mui geralmente, é evidenciado pelos escritos
de Tertuliano, embora ele próprio considerasse mais proveitoso protelar o
batismo.
Orígenes o descreve como uma tradição
dos apóstolos. Diz ele: “Pois isto havia também que a igreja tinha dos
apóstolos uma tradição (ou, ordem) de dar o batismo até mesmo às crianças”.
O Concílio de Cartago (253 A.D.) toma o
batismo de crianças como certo e simplesmente discute a questão sobre se elas
deveriam ser batizadas antes dos oito dias de idade. Do segundo século em
diante, o batismo de crianças é reconhecido normalmente, embora às vezes
negligenciado na prática. Agostinho inferiu do fato de que ele era praticado
pela igreja no mundo inteiro, apesar de não instituído nos concílios, que, com
toda a probabilidade, foi estabelecido pela autoridade dos apóstolos. Sua
legitimidade não foi negada até aos dias da Reforma, quando os anabatistas se
opuseram a ele. (Teologia Sistemática de LOUIS Berkhof 1873-1957) paginas 630 a
634).
Comentários
Postar um comentário