Estive numa discussão sobre
pastorado feminino e sua correção ante a visão bíblica. No princípio os
argumentos eram todos caucados na ideia de que a submissão da mulher ao marido
apresentada na Bíblia era de cunho sexista e apenas cultural, uma opinião de
Paulo.
Apesar de achar que a questão da
submissão nada tem a ver com a questão do sacerdócio não ser aberto às
mulheres, reafirmo que a orientação bíblica nada tem a ver com cultural. No
mínimo é improvável que as determinações das relações familiars descritas por Paulo
nas suas cartas e mesmo por Pedro sejam apenas repercussões de uma cultura
local. Note-se que a carta de Pedro nem é direcionada a uma única igreja. Ainda
se decidirmos selecionar os textos que são ou não apenas opinião do autor
bíblico estamos na prática derrubando a inerrância e a inspiração da Palavra de
Deus.
Segundo João Calvino[1]: “Se, pois, quisermos firmar a nossa
consciência de modo que não permaneça agitada e em perpétua dúvida, é preciso
que coloquemos a autoridade da Escritura muito acima das razões ou das
circunstâncias ou das conjecturas humanas; quer dizer, é preciso que a estabeleçamos
como base no testemunho do Espírito Santo. Porque, ainda que, por sua própria
majestade, a Escritura nos leve a respeitá-la, não obstante só começa a
tocar-nos quando é selada em nosso coração pelo Espírito Santo. [...] É graças
à certeza dada por uma autoridade superior que concluímos, que, sem dúvida
nenhuma, a Escritura nos foi outorgada diretamente por Deus.”
Reitero ainda que se admitirmos a
hipótese de partes da Bíblia serem apenas contextualização cultural caímos num
terreno perigoso de livre interpretação. Não estou no entanto afirmando aqui
que os ensinamentos bíblicos não devam ser estudados usando inclusive a luz do contexto
histórico, muito pelo contrário, ele é útil ao entendimento, mas cumpre lembrar
que a base principal para o estudo das escrituras é sempre a concordância dela
mesma, e o entendimento que ela é a única e total revelação dada por Deus aos
homens sobre si mesmo, sobre como Ele se relaciona com seu povo e como devemos
entende-lo, mesmo que como Paulo diz ainda de forma parcial.
Mas não faltam textos que falam
muito bem sobre essa questão da submissão feminina:
- Submissão Graciosa. Artigo escrito por uma mulher (aqui).
- A Bíblia é Machista? (aqui).
- Submissão da Mulher. Excelente artigo de Cheung. (aqui).
- Análise exegética do texto de Efésios. (aqui).
Voltando a questão da ordenação
feminina ao pastorado da igreja, olhemos os principais argumentos apresentados
por aqueles que defendem:
I – Deus criou homem e mulheres
iguais
Sim, de fato Deus criou homens e
mulheres, mas nem mesmo a forma de
criação foi igual, e a igualdade se refere a condição espiritual de
ambos em relação a Deus, ambos responsáveis igualmente, conscientes igualmente e
de mesmo valor para Deus. No entanto desde o início o próprio Deus estabeleceu
papéis diferentes entre macho e fêmea.[2]
II - Em Cristo acabam as
distinções étnicas, sociais e sexistas.
Essa afirmação em geral vem
acompanhada da ideia de que a submissão é apenas fruto do pecado e que com a
justificação em Cristo essa chamada “consequência” deveria ser abolida. A
despeito da submissão ter sido agravada com o pecado ela já estava presente nos
papéis definidos por Deus antes do pecado original.[3]
“Quanto à obra de Cristo, lembremos que seus efeitos não são total e
exaustivamente aplicados por Deus aqui e agora. Por exemplo, mesmo que Cristo
já tenha vencido o pecado e a morte, ainda pecamos e morremos. Outros efeitos
da maldição impostos por Deus após a queda ainda continuam, como a morte, o
sofrimento no trabalho e o parto penoso das mulheres. Além do mais, desde que
os diferentes papéis do homem e da mulher já haviam sido determinados na
criação, antes da queda, segue-se que continuam válidos. O que o Cristianismo
faz é reformar esta relação de submissão para que a mesma seja exercida em amor
mútuo e reflita assim mais exatamente a relação entre Cristo e a Igreja.”.[4]
Ora mesmo que afirmemos que a
submissão é apenas fruto do pecado como poderíamos escolher quais consequências
do pecado foram revogadas ou não?
O texto de Gálatas 3:28 retirado
de seu contexto pode até dar alguma margem, porém colocando-o no seu contexto
da carta de Gálatas o que vemos é que Paulo ali trata da discussão da
necessidade de submissão a Lei que era proposta por alguns cristãos de origem
judaica, e que Paulo está afirmando que a Lei era para os Judeus e que no pacto
da graça não existe mais a obrigação de estar debaixo dela independente da
origem.[5]
III - A atividade pastoral é,
antes de tudo, um dom.
Aqui entendo que há um equívoco
enorme confundindo DOM e VOCAÇÃO. Os dons de fato foram distribuídos a todos os
homens, inclusive não convertidos. Óbvio que existem dons distribuídos apenas
pela graça especial dada aos crentes, mas pela graça comum Deus distribui dons
a todos os homens. O exercício do pastorado deve ser entendido com algo próximo
ao apostolado e reproduzido no NT nas atribuições dos bispos, ou presbíteros
como queiram. Notem que em nenhum momento a Igreja Reformada defende a ideia
que as mulheres não estão capacitadas ao ensino o que estamos tratando é de
questões ligadas ao exercício da liderança ministerial.
IV – Existem mulheres exercendo
funções de destaque na Bíblia
Logo de cara afirmamos que
nenhuma como sacerdote. Muitos vão lembrar o texto do sacerdócio universal
citado na carta de Pedro[6]
mas mais uma vez acho que retiram o texto do contexto. Pedro se refere não ao
exercício público do ministério e sim a sacerdócio individual onde cada um pode
dirigir-se diretamente a Deus sem intermediações. Por outro, se admitirmos que
essa sacerdócio se refere ao pastorado podemos então concluir que não apenas
mulheres não podem ser pastoras, como também homens não o podem, simplesmente
porque não existe mais o sacerdócio coletivo, mas apenas o individual, e aí
encontramos um problema sério, já que essa não era a visão e aplicação da
igreja primitiva.
Sobre mulheres de destaque na Bíblia,
citam Débora, Hulda, Priscila e Febe. Nenhuma delas sacerdotisas. E é
importante considerar que em condições especiais Deus usou até mesmo incrédulos
para ensinar o povo dele.[7]
Não existe restrição bíblica ao
exercício da mulher como juíza e profetiza, mas não há qualquer referência bíblica
em qualquer momento a mulheres como sacerdotes.
Por outro lado, a ideia de que em
Cristo todas as regras caíram esbarram em outro fato que é o próprio Cristo ter
escolhido apenas homens para compor seu colégio apostólico. Antecipando afirmar
que Cristo o fez apenas para não chocar as tradições culturais é limitar a
pessoa de Jesus nesse quesito, sobretudo se considerarmos que Jesus quebrou
diversas outras convenções sociais ao longo de sua vida, como pregar para
doutores aos doze anos, falar com a mulher samaritana, deixar-se tocar pela
prostituta que lhe lavou os pés com perfume.
V - Porque está comprovada a
capacidade feminina em exercer qualquer papel antes atribuído somente aos
homens.
Esse nem vou perder muito tempo
posto que é apenas uma afirmação antropocêntrica. Tem inúmeras coisas que
mudaram ao longo tempo na sociedade sem contudo implicarem em mudanças nas
verdades bíblicas.
VI – Não existem textos falando
diretamente contra a ordenação feminina.
Não existe de fato nenhuma passagem
que fale claramente contra a ordenação feminina. No entanto existem textos que
se referem a atribuições exclusivas do presbiterato, note que biblicamente
falando o ofício de pastor e presbítero é o mesmo, que se referem
exclusivamente aos homens.[8] “Já que o governo das igrejas e o ensino
público oficial nas mesmas são funções de presbíteros e pastores infere-se que tais funções não fazem parte do
chamado cristão das mulheres.”[9]
Por outro lado se vamos usar o
argumento da omissão para entender como permitido, lembremos que no entanto não
há um texto sequer que diga que as mulheres devem ser ordenadas ao ministério
da Palavra e ao governo eclesiástico, enquanto existem diversos textos que atribuem
ao homem cristão o exercício da autoridade eclesiástica e na família.[10]
Me baseei principalmente na
refutação do texto a mim apresentado de Hermes Fernandes (aqui),
alguns tópicos nem destaquei por seres redundantes para mim. Existem textos bem
mais exaustivos a disposição na internet como esse aqui
do Ver. Augustus Nicodemus ou ainda esse aqui
do Rev. Renato Vargens.
[1]
CALVINO, João. As Institutas. São Paulo: Volume 1, Editora Cultura Cristã,2006.
[2]
1a Tm 2.13; 1a Co 11.8, 9
[3]
1a Co 11.8,9
[4]
Rev. Augustus Nicodemus Lopes –
www.bereianos.com.br
[5]
“Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea;
porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” Gálatas 3:28
[7]
Balaão em Nm 22.35. Saul em vários momentos, 1 Sm 10.10; 19.23 e seus mensageiros
em 1 Sm 19.20,21
[8]
1a Tm 3.2,4-5; 5.17; Tt 1.9
[9]
Rev. Augustus Nicodemus Lopes,
ib.
[10]
At 6.1-7; 1a Tm 2.11-15; 1a Co 14.34-36; 1a Co
11. 2-16 e Ef. 5.21-33.
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