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Chamado para ser pastor, professor, médico, advogado, administrador, ...




Um dia desses, conversando com um amigo que não via há muito tempo e que sabia ter sido ordenado, ao perguntar onde ele estava ele me disse que estava dando apoio a uma congregação, mas que agora estava advogando porque só o pastorado não lhe sustentaria.

Antes de mais nada, não estou escrevendo este post especificamente para ele, nem tampouco exclusivamente pelo que ele me falou, mas de fato suas palavras me trouxeram a mente algo que já incomoda há alguns anos.

Existe algo de muito errado na relação entre pastores e igrejas. Falando mais especificamente na IPB, uma das razões que entendo para manterem o pastorado como um ofício separado do presbiterato, mesmo que eu pessoalmente não concorde que se possa separar, é a dedicação exclusiva, coisa que está ficando cada vez mais escassa.

Inicialmente pastores gastavam parte de seu tempo como professores de seminários, o que pode até ser bem interessante por mantê-los em ambientes de contestação e estudo, um foco de aprimoramento. Mas não se restringiu a seminários nem institutos bíblicos. E nem mesmo nesses atividade se limitou a algum tempo. Cada vez mais se partiu para cargas de 20 e 40 horas de ensino.

Temos ainda pastores funcionários públicos. Diretores de escolas. Advogados. Médicos. Corretores de imóveis. Administradores e Gerentes de empresa. A lista é enorme.

Não consigo enxergar como alguém pode exercer de fato o pastorado na sua plenitude tendo carga acima de 20 horas semanais com outras atividades. E se isso se limitasse a cidades com campos iniciando, onde o trabalho até é uma forma de se chegar na comunidade local, seria compreensível, mas não é. É improvável que qualquer um não deixe de dedicar o tempo necessário a Palavra, a Visitação, ao Consolo dos necessitados, ao Aconselhamento, todas questões tão importantes no pastorado quanto a pregação da Palavra no domingo. E mesmo para essa, como preparar um sermão correto, bem desenvolvido sem o tempo de pesquisa e estudo. E onde encontrar ainda tempo para as suas devocionais? Não creio que esse super-homem tenha nascido sem que precise dormir. E olhe que nem falamos do tempo que ele deve dedicar a sua família.

Neste ponto alguns pastores já devem estar preparando suas justificativas e ou baterias de críticas sobre este autor, mas já adianto que apenas estou relatando um problema que existe e que infelizmente está ficando comum. Não pretendo ditar regra. Cada realidade precisa de uma análise própria. E não, não isentamos nem um pouco as igrejas, os seus membros na geração deste contexto.

Em falando de IPB temos igrejas abastadas que permitem manter 4 ou mais pastores com boas remunerações, o que nem sempre é garantia de que um deles não vá atrás de outras atividades complementares, enquanto existem igrejas que de fato não tem como sustentar um pastor com uma boa condição. Já estive numa igreja onde dos 80 membros, 40 estavam desempregados e 30 recebiam salario mínimo, pode-se imaginar qual era o perrengue dessa igreja para fechar as contas no fim do mês. Mas já estive em igrejas onde membros construíram casas de R$ 200.000 de custo em um ano, com um dízimo de R$ 200,00, ou uma renda a la Ananias e Safira de R$ 2.000 por mês. A conta aqui também não fecha.

De certo que nesta questão existem pastores que precisam ter outras atividades para pagar sua própria comida e de sua família, como há aqueles que não se contentam com uma vida mais simples, assim como há igrejas que contribuem pouco para o pastor por não terem mesmo, e outras não o fazem por mesquinhez dos seu conselho ou dos seus membros.

Como disse, as razões quaisquer que sejam não mudam o fato. E sem dúvida um pastor pensará 10 vezes antes de mudar de igreja se isso lhe afetar os outros laços de trabalho e de remuneração. Não esqueçamos aqui os pastores que precisam ser sustentados pelo trabalho de seus filhos e esposas. O problema permanece. Como crer que o chamado para cada um deles é sempre se segurar na mesma cadeira, na mesma igreja, na mesma cidade?

Falta fé na providência divina? Existe ansiedade por conforto? Existe falta de amor das igrejas? Falta atenção de presbitérios e do próprio SC sobre o assunto? Falta apoio entre as igrejas? Todas as respostas a estas perguntas e a mais algumas será sempre SIM.

Cabe a cada um de nós que conseguirmos enxergar que isso é um problema que consumirá a sublime atividade do SAGRADO MINISTÉRIO tornando-a apenas uma atividade comum como qualquer outra, identificar se estamos atuando de forma a impedir ou a aprofundar essa situação, e redobrarmos ou mudarmos radicalmente nossa forma de agir e pensar.

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