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Mais uma vez Gospel ou as Meras Repetições




Ontem me deparei com essa imagem aí acima no Facebook e ela me fez querer voltar a esse tema sobre o qual já escrevi algumas vezes.

O momento do louvor nas igrejas. E aqui não falo de nenhuma igreja em especial, mesmo porque quase todas de quase todas as denominações apresentam algo do que vou falar aqui.

Sou adepto de uma liturgia bem marcada com momentos claros de Invocação, Adoração, Contrição, Gratidão, Proclamação, Dedicação e Celebração.

Longe disso ser apenas um gosto, vejo como ensinamento bíblico. Essa liturgia pode ser vista em vários textos dos Salmos, no próprio texto onde está a oração do Pai Nosso, e em vários outros textos do velho e do novo testamento quanto tratam da forma do culto e da forma como devemos nos aproximarmos de Deus. Porém desde a década de 80 quando este tipo de louvor com "Grupos de Louvor" e posteriormente com os "ministérios" uma prática recorrente é termos um momento proeminente no culto com o chamado momento de louvor.

Começam a surgir então equívocos em profusão. Primeiramente não existe um momento de louvor, já que todo o culto é em louvor a Deus, ou pelo menos deveria.

Em geral esses chamados momentos se parecem mais com um culto a parte. Temos mais uma vez orações, momentos de contrição, em geral com uma música emotiva e um ministrador fazendo uma ministração apelativa, um ministrador fazendo mini mensagens , algumas vezes nem tão minis assim, e muitos apelos. Apelo a conversão, apelo a consagração.

E de onde vem tudo isso? De modelos importados de igrejas de mercado brasileiras que por sua vez já importaram modelos de igrejas de mercado americanas. Não é a toa que maior parte do cancioneiro gospel vem de igrejas como Hillsong e Vineyard. 

Nem de longe sou contra o uso de músicas contemporâneas. Não existe um modelo formal, nem tampouco um ritmo bíblico. Mas insisto no ponto que a música mesmo em sentido de louvor não é um fim em si mesma, e sim um instrumento que ajuda a congregação a entender o sentido da adoração e da relação com Deus. Mas uma pergunta que faço é porque não distribuir essas músicas ao longo da liturgia ao invés de concentra-las apenas num momento. Isso em igreja que ainda tem cuidado com a liturgia do culto porque alguma sequer tem mais liturgia, usam apenas uma oração e leitura e tome música, e mais música, e por fim a mensagem. Hinos do hinário não são todos de boa qualidade musical e talvez nem de letra mesmo, mas a maioria são músicas elaboradas com letras centradas na Palavra.

Mas o louvor tem se composto quase exclusivamente de músicas repetitivas e com o uso de bordões gospel. Já pensei inclusive em criar o incrível gerador de letra de músicas gospel, assim como tem o gerador de lero-lero e mais recentemente o gerador de desculpas do governo. Basta juntar 4 bordões incluindo derrama, faz chover, tu és Senhor e etc. Desde que tenhamos um coro daquele que gruda na mente e claro que se possa balançar um pouco o esqueleto e bater palmas.

No entanto ainda  não é só isso. Vejam que 11 entre 10 ministradores durante suas ministrações irão exigir que a congregação fique de pé por 20 a 40 minutos. É constrangedor ver pessoas que sequer estão cantando fazendo um movimento fora de ritmo no bater palmas, e loucas para que aquilo acabe para poderem sentar. A justificativa que sempre ouço é que assim fica mais animado. Não encontrei ainda na Bíblia algum lugar dizendo que devemos estar animados  no louvor. Ou ainda alguns tentando dar uma revestida mais técnica dizem que é melhor cantar em pé. De fato o diafragma consegue trabalhar melhor na imposição da voz se não estiver comprimido como fica quando estamos sentado, mas mais uma vez de forma disfarçada o que vem aqui é a ideia da animação. Certa vez fui arguido numa conversa sobre isso com a argumentação: - Mas porque não levantar? Simples, porque não preciso ficar de pé para manifestar minha gratidão a Deus, e obrigar a todos a faze-lo é forçar a congregação a ter um comportamento de manada, cada um fique de pé ou cante sentado de acordo como lhe aprouver. A congregação não é um coral.

Concluindo queria abordar ainda a figura do comportamento de show que se adota. Em que precisamos para louvar a Deus ter aqueles momentos:
- Agora só a igreja.
- Só as mulheres.
- Só os varões.
- Feche seus olhos e levantem as suas mãos.

Coisas que falam apenas ao emocional e não ao racional. Todas coisas incorporadas dos shows gospel que por sua vez foram importados dos shows comuns que vemos em qualquer lugar. A ideia que no culto temos que ter explosões emocionais de alegria e ou choros copiosos para que seja espiritual é submeter o Espírito Santo a um condicionamento meramente humano.

Ministradores que usam e abusam de técnicas de palco para tanger a manada da congregação não estão nem de longe agindo corretamente pois ao invés de fazerem as pessoas entenderem a grandiosidade de Deus, trabalham para entreter a comunidade e dar a elas uma sessão "espiritual" de renovação interior.

Tudo muito antropocêntrico. Não creio que o músico, cantor ou pregador deva ser em qualquer momento e em qualquer situação e por qualquer motivo o centro das atenções pela sua performance, por mais qualificada que ela seja, bom humor e alegria de fato fazem parte da caminhada cristã, assim como o choro compungido, mas nada disso em excesso e forçado em público para despertar o lado emocional da plateia. Pelo menos não no culto a Deus.



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