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Deus escreve certo por ruas tortas


Estação Cavaleiro.



Quem ne conhece de perto sabe que não sou afeito a espiritualizar o que é racional, nem tampouco sou muito fã de testemunhos, principalmente os longos e com forte apelo emotivo.

Certamente esses já me ouviram falar de sentir a mão de Deus cuidando, mesmo que nunca tenha visto anjos, raios, clarões, ou ouvidos vozes tronitoantes muito menos sonhos proféticos. Mas de fato a sinto em muitas coisas, grandes e pequenas.

Dito isso, deixem-me contar minhas peripécias por um Recife onde nunca estive ou sequer imaginei que um dia estaria.

Tudo começa ao me despedir do cliente onde presto serviço, saí de lá por volta de 17:30 como faço habitualmente nos dias em que vou voltar para casa em Maceió. Tinha que estar na Rodoviária antes de 19:30 horário do meu ônibus de retorno.

Quem conhece Recife sabe que sair de Boa Viagem para o Terminal Integrado de Passageiros não é fácil, principalmente nesse horário, por isso em geral, contrariando Angélica, não vou de táxi, prefiro ir de Metrô, mais rápido e mais barato.

Chego então na estação Antonio Falcão para iniciar meu trajeto que deverá durar em torno de 40 minutos a uma hora. Entro no trem da Linha Sul em direção a estação Recife, geralmente desço na penúltima estação, chamada de Joana Bezerra e faço a baldeação pegando trem da Linha Camaragibe que é que passa na Rodoviária. Mas uma senhora muito gorda me atrapalhou e não consegui descer. Tudo bem, desço na seguinte e retorno, acrescentaria mais 15 minutos no meu trajeto, mas sem problema.

Chegando na Estação Recife, tenho que subir a escada rolante caminhando, estava quebrada. Um calor forte ontem em Recife e eu já começando a me irritar, pois bem ao chegar no fim da escada, escuto A VOZ, do alto falante dizendo que os trens para Camaragibe estão parados sem previsão de volta. Legal! E Agora! Se tiver que pegar um taxi não dará tempo, perderei o ônibus, a passagem, e o próximo só a meia-noite.

Pergunto a uma auxiliar do MetroRec e ela me sugere ir até uma estação chamada BARRO onde nunca estive e pegar um ônibus de lá para a Rodoviária. Já andei muito de ônibus, mas já imaginaram entrar num ônibus na hora do Rush, com uma mala, uma bolsa e uma sacola? Mas vamos lá, acho que lá consigo um taxi penso eu.

Entro no trem, e aí alguma surpresas começam a acontecer. Junto a mim param duas garotas, Delma e Gabriele, como soube depois. Pensei até que se conheciam, descobri depois que não. Começaram a conversar reclamando da dificuldade que teriam em chegar em casa, uma morava em Camaragibe, e a outra num bairro depois da Rodoviária chamado Curado. 
Onde pegamos o "taxi"

Todo sem jeito, como sou, para iniciar uma conversa com desconhecidos, pergunto eu, se elas topariam me ajudar a conseguir um taxi e eu daria carona para elas. Claro que primeiro me olharam desconfiadas, mas depois me orientaram a descer junto com elas na estação Cavaleiro, sinceramente, não faço a menor ideia de como chegar lá de carro, só sabia que o Metrô passava por lá.

Mas como disseram que lá era perto do TIP, respondi: - Vamos lá.

Chegando em Cavaleiro, a estação estava às escuras, totalmente sem luz. Foi estranho, e ao mesmo tempo engraçado e confortante, as duas preocupadíssimas comigo, duas jovens senhoras de seus 20 e poucos anos, casadas, ajudando um senhor, meio que perdido num Recife que poucos conhecem. 

Saímos da estação mas quem disse que aparecia taxi, mas minhas duas novas amigas logo disseram, vamos conseguir uma Van, mas nada de Van. Mas conseguiram um taxi clandestino. O primeiro queria cobrar R$ 30, o que eu pagaria tranquilamente pela minha situação, elas prontamente disseram não, que ele estava querendo me roubar. Em seguida conseguiram um por R$ 20, queriam R$ 15, mas topamos os R$ 20 mesmo.

Lá fomos nós. Não apenas conseguiram o "taxi" , como ainda ensinaram para o motorista o caminho mais rápido. Eu só me divertia, com uma caminho para lá de esquisito, um sobe desce em vielas estreitas, para terminarmos num local sem iluminação nenhuma e para minha surpresa tivemos ainda que pegar uma alça da BR 232 pela contra mão para não fazer um retorno de quase 3 km.

Tudo meio surreal, mas cheguei na Rodoviária a tempo, tempo até de fazer um lanche antes de embarcar, Delma encontrou com seu esposo que a aguardava, e Gabriele pegou seu onibus para o Curado III, economizando cerca de 50 minutos em seu trajeto.

Uma das ruas onde passei.
E eu embarquei contente, provavelmente nunca mais verei nenhuma das duas amigas, mas tenho certeza que foi Deus que nos colocou juntos durante aquela hora e meia, para nos ajudarmos mutuamente e podermos terminar rindo de uma noite que começara meio tenebrosa para todos os três.

Alguns certamente me dirão: - Tu és doido de entrar numa dessa. Mas eu sei apenas que naquelas ruas tortas que ligam Cavaleiro ao Curado, vi o Senhor escrevendo certo, nas ruas tortas, o seu cuidado mais uma vez para comigo.

Espero em Deus que ambas também se sintam perto desse Deus maravilhoso.

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