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Tolices que Cantamos X - O Antropocentrismo de Kleber Lucas







Vamos tratar de duas músicas de Kleber Lucas que são bastante cantadas em igrejas.

Te Agradeço

Eu te agradeço, Deus
Por se lembrar de mim, e pelo teu favor
E o que me faz crescer

Eu vivo pela fé, e não vacilo
Eu não paro, eu não desisto
Eu sou de Deus, eu sou de Cristo

Você mudou a minha história
E fez o que ninguém podia imaginar
Você acreditou e isso é tudo
Só vivo pra você
Não sou do mundo, não

A honra, a glória, a força
O louvor a Deus
E o levantar das minhas mãos
É pra dizer que te pertenço, Deus

Eu te agradeço, Deus
Que no deserto não me deixou morrer
E nem desanimar

E como aquela mãe, que não desiste
você não se esqueceu, você insiste


Perdoado

Eu tenho as marcas
De quem tinha tudo para viver
Longe do altar de Deus
Longe da graça
Quem me vê assim cantando
Não sabe o que eu sofri

Mas eu atravessei o rio
E o que passou, passou
Fui resgatado das amarras do pecado
Eu não devo nada pro inimigo
Estou coberto e lavado
Fui justificado pelo Sangue

Eu fui perdoado
Aleluia! Eu sou livre



A primeira é TE AGRADEÇO. A música tem um ritmo apropriado para dar aquela “levantada” na adoração, um certo swing, própria para palmas e coisa e tal. A letra até que é quase toda coerente, afinal agradecer a Deus por ter nos trazido para si é sim muito bom, mas tem afirmações que passam quase desapercebidas. Uma delas é “Você acreditou e isso é tudo”.

O que significa dizer que Deus acreditou? Acreditou em que? Acreditou em quem? Em nós? Em mim? Estaria eu dizendo que Deus apostou na minha capacidade de tornar-me um servo? A “fé” que Deus teve em mim foi o que me fez vencer?

Uma visão além do arminianismo, absolutamente antropocêntrica.

Na mesma música ele diz que Deus não desiste , Ele insiste. Mais uma vez vamos no sentido contrário do princípio reformado de que a Salvação pertence ao Senhor. Passa-se a ideia de que Deus tenta nos trazer para junto dEle e nós resistimos e somos vencidos por uma insistência divina. Será mesmo? Podemos resistir a graça divina?

Ainda nesta música ele faz referencia a um deserto. Seria esse deserto o momento “não salvo”? E aí ele faz referencia a Deus não ter deixado ele morrer nem desanimar. Mais uma vez uma visão antropocêntrica onde o autor assume a ideia de que ele mesmo estava tentando vencer a condenação e Deus deu a ele uma “mãozinha” sustentadora.

Isso nos leva a uma segunda música do mesmo autor, onde ele diz que “não deve nada ao inimigo”. Música que tem por título PERDOADO.

Nessa segunda música “ele atravessou o rio”, podemos ser condescendentes aqui e assumir que o “eu” atravessando o rio por minha conta é licença poética.

Mas quando ele diz que foi liberto das amarras do pecado, vai bem, mas em seguida declara “Eu não devo nada para o inimigo”, demonstra uma falta de compreensão de que a dívida cabalmente paga pelo Nosso Senhor Jesus não era com Satanás e sim com Nosso Deus.

Nós nunca devemos nada ao diabo, a raça humana é devedora a Deus, por ter rejeitado em Adão a Seu amor tornando-nos filhos da desobediência.

Esse tipo de afirmação vem na onda neopentecostal de que todo o mal do mundo é uma imposição do Diabo e que este luta ferozmente num cabo de guerra com Deus, impondo aos homens uma maldição de forma exógena. A maldição do pecado é endógena, ela está dentro da natureza humana decaída e depravada, nós somos responsáveis pelo próprio mal que praticamos, e transgressões da lei de Deus, e por isso somo devedores ao próprio Santo e Justo Deus, não ao Diabo. E o sacrifício de Jesus Cristo foi pagamento total, completo, que quita essa dívida para os Seus escolhidos, eleitos na eternidade.

Portanto apesar do apelo emocional dessas duas músicas e até terem alguns versos bem certinhos, são mais duas bobagens que vez por outra cantamos em nossas igrejas, mas que não deveriam fazer parte do culto a Deus, nem de nossos pensamentos enquanto igreja reformada.



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