Esse é um assunto que sempre suscita discussão no seio das igrejas evangélicas. Sobretudo naquelas mais tradicionais que mantém efetivamente uma lista de membros que a frequentam com regularidade.
Recentemente conversando numa Escola Bíblica Dominical, o assunto sobre o dever ou não de disciplinar veio a tona num dos questionamentos.
Nem é preciso um estudo muit profundo para ver que a Bíblia preconiza o uso da disciplina como forma de aprendizado. O livro de Provérbios é pródigo em aconselhamentos nessa linha.
Uma busca rápida nos traz uma lista grande de textos falando sobre disciplina:
Provérbios 1:2; 3:11; 5:12,23; 6:23; 10:17; 22:15;15:10,32; 23:13,23; Salmos 50:17, 94:10; Deuteronômio 8:5; Levítico 26:23; ; Provérbios 23:13; Jó 37:13; Efésios 6:4; Hebreus 12:5-11; 2 Timóteo 2:23
Mas certamente um dos mais contundentes é o texto de Coríntios onde o apóstolo Paulo acusa a igreja de omissão fortemente por não tomar providências sobre um erro notório no meio da igreja. No capítulo 5 Paulo começa falando que ouve que "... há imoralidade ..." dentro da igreja, para no fim do capítulo declarar que não deve haver qualquer tipo de associação com pessoas que a praticam.
Acho que ninguém que leia a Bíblia com honestidade poderá dizer que a disciplina eclesiástica não faz parte dos ensinamentos bíblicos.
A questão, o problema é outro. Está na forma e no porque é feita e aplicada.
Primeiro uma reflexão simples, sem necessidade de grandes aprofundamentos, nos mostra que o caso citado e combatido por Paulo, se refere a um pecado continuado, mesmo depois de repreendido, tolerado pela comunidade, por qualquer razão que seja, e feito de forma debochada diante dos ensinamentos que a igreja de Corinto havia recebido. Sem falar que se tratava de alguma forma de uma volta as práticas idólatras do culto a deusa Afrodite.
Não se encontram no Novo Testamento muitas citações sobre disciplinas eclesiásticas, nem no tempo em que Jesus estava em seu ministério, pelo contrário até, nem tampouco no tempo dos apóstolos. Vemos de fato mais claramente Jesus e posteriormente os apóstolos combatendo a hipocrisia e legalismo das lideranças religiosas da época que estabeleciam regulamentos a fim de subjugar o povo numa culpa interminável.
Vivemos no Brasil um evangelicalismo fortemente influenciado por raízes católico romanas, onde os pecados da sexualidade são sempre exacerbados, fruto de um comportamento herdado de ideias medievais.
Sempre soou meio estranho para mim a explicação de que temos que disciplinar para que a igreja aprenda, mesmo quando a pessoa já demonstrou arrependimento. Essa sanha vingadora de pastores e presbíteros a mim parece, desde sempre, uma veia legalista, onde em pouquíssimos casos vi um membro de conselho de fato chorar e se lamentar por ter que impor uma disciplina a um irmão na fé. O que vi em meus quase 21 anos de presbiterato é uma frieza calculada na aplicação das disciplinas feita por homens que se julgam inatacáveis e revestidos de uma capacidade de nunca pecarem. Muito pouca compaixão, e quase nenhuma preocupação pelo destino daquela pessoa. Já ouvi mais de uma vez frases do tipo, "- se for crente de verdade ele nãos e desviará." , e o irmãozinho e a irmãzinha são largados ao sabor do isolamento, tratados como párias e excluídos de tudo, para que daqui a alguns dias, meses, sei lá, se apresentem de forma a serem um pouco mais humilhados por esses senhores do bem e do mal a fim de serem restaurados.
Defendo a ideia de que cada irmão disciplinado seja acompanhado por um presbitero de perto, como se fosse um discipulado.
Nunca entendi situações em que presbíteros e pastores ao tomarem conhecimento de um erro, ao invés de conversarem com a pessoa sozinhos, e entenderem bem o que acontece, correm a contar a questão para outros, ou correm para o conselho a fim de oferecerem denúncia e propor a disciplina. Tudo feito em nome do exemplo. Será?
Só para citar uma das situações a meu ver mais incoerentes do mundo, é aquela em que a relação sexual fora do casamento gera um filho e aí decide-se que os personagens em questão serão disciplinados até o casamento. Isso me soa como uma hipocrisia sem tamanho baseada naquelas questões de reparar a honra. Imaginem a situação em que por qualquer razão esse casamento não se concretize, o membro ficará disciplinado para o resto da vida?
Mas para concluir, não sou contra a aplicação da disciplina eclesiástica, mesmo porque ela é claramente um ensinamento bíblico e, necessária ao aprendizado, eu já votei em algumas situações a favor, porém nunca fui muito simpático a divulgação, e sempre que o fiz estive com dor no coração por ter de faze-lo.
Por último àqueles que estejam prontos para defender o legalismo, pergunto quantas vezes alguém que voces tenham conhecido foi disciplinado por fraude, corrupção, por mentir, por dar falso testemunho?
Menos legalismo, mais amor e mais graça.
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