Há
muito que a compreensão do que é louvar efetivamente se perdeu. Primeiramente
se chegou a conclusão (!?) que louvar é cantar, e apenas cantar. Depois se
chegou a outra conclusão que louvor é a coisa mais importante do culto. Daí até
a pirotecnia efervescente da ministração de louvor atual foi apenas um passinho
a mais.
A
parte principal da música evangélica deixou de ser uma letra inspirativa,
consagratória, para ser um refrão repetitivo e grudento. Quanto mais repetitivo
e animado melhor (afinal é gospell balançar o esqueleto).
Mesmo
que o ritmo da música não se adéqüe a isso, vamos bater palmas, dar pulinhos,
gritinhos e fazer gestinhos (tudo meio ridiculozinho assim mesmo).
Tem até quem cante dizendo que na presença de
Deus dá vontade de pular, correr, saltar, gritar, ou seja, agir como um
perfeito maluco. Mas isso vale, é prá ficar mais animado. Alguém aí me acha na
Bíblia o texto onde Deus pede animação no louvor ao seu povo.
As
vezes podemos até chegar a conclusão que Deus é meio obtuso e surdo,
porque repetimos tanto a mesma coisa e cada vez gritando mais para ele poder
ouvir. Ou será que estamos diante das
muralhas de Jericó.
Considerando
que o alvo do louvor das ovelhas é Deus (será que é mesmo, ou é o
entretenimento dos bodes), ele virou um ser consumista, já que se a música
tiver mais de 4 domingos, já é velha e não irá agradá-lo mais. Vamos a novo
porque ajuda a vender mais disco.
Importamos
para dentro da música da igreja trejeitos espalhafatosos e técnicas do gospell
americano, sem sequer entender realmente o movimento gospell. Aliás Deus não é
gospell.
Por
que entre cada música tem que haver uma oração suplicante e lamuriosa, às vezes
quase orgásmica, onde os instrumentos ficam duelando entre quem faz o solo mais
barulhento e distorcido, e o tal do ministrador (!?) fica aos berros repetindo
frases quase sempre ininteligíveis?
Não
é saudosismo, nem intransigência. O fato de ser tradicional também não garante
a qualidade. Aliás de quem foi a idéia de mudar a letra dos hinos e colocar
versos como “ele ganhou-vos”, ora ovos. Ou ainda “conto esta história” , ta
contestando o que cara pálida? Ou ainda para forçar uma rima tornar pecadores
em criminosos.
Mas
o que é bom, é bom, se é da última semana, ou do século passado, ou mesmo o
hino que os apóstolos cantavam na Santa Ceia, lá em Jerusalém.
Gostaria
muito de EU mesmo ter escrito, mas alguém mais preparado o fez primeiro. Leiam
o artigo abaixo, do presbítero Solano Portela, sobre o uso de cânticos no culto (até
hoje não entendi porque uns são corinhos, outros são cânticos, ora espirituais,
ora só cânticos, e alguns são hinos), é de uma lucidez constrangedora sobre
este assunto. Mas leia-o sem preconceitos. E sobretudo com inteligência e
senso, aliás ter senso é recomendação bíblica, está lá em Provérbios.
Aos
neo-puritanos, tão puristas, de plantão
não se animem muito com o início do artigo e o leiam até o final.
E
mesmo que João Alexandre já tenha percebido que hoje em dia É proibido pensar,
vamos fazer uma forcinha e ter sabedoria e discernimento para entender o que é
louvar, o que é cultuar a Deus.
Pb.
Alexandre Rocha Placido
(Um
neo-conservador-liberal, seja lá o que isso signifique)
Desabafo de Um Presbítero,
não-tão-Velho-Assim, à Beira da Surdez
Pb.
Solano Portela
Alguns
anos atrás um jovem escreveu-me perguntando qual a minha opinião sobre a
utilização de cânticos com ritmos mais acentuados, na liturgia, e sobre o
período normalmente chamado de “louvor”, em nossas igrejas. Na realidade, a
pergunta dele foi: “São todos os ritmos apropriados ao louvor, na igreja?”.
Para
tratar dessa questão, eu poderia ter entrado no chamado “Princípio Regulador”,
que descreve a orientação do culto reformado, no qual somente as coisas
diretamente comandadas por Deus devem fazer parte da liturgia. Ocorre que,
tomado literalmente, não existe uma única igreja nossa que se enquadre na
interpretação mais rígida do “Princípio”, mesmo aquelas pastoreadas ou
freqüentadas por seus mais ávidos proponentes. Até nas mais conservadoras
encontramos o coro da Igreja, devidamente fardado sob o nosso escaldante calor
tropical, entoando belos hinos ao Senhor – alguém pode me indicar onde isso
está prescrito no Novo Testamento? Mesmo em nossas igrejas co-irmãs da Escócia
– supostas praticantes coerentes do “princípio regulador”; aquelas que defendem
que o Antigo Testamento não tem nada a nos dizer sobre a liturgia do Novo
Testamento, que são contra a utilização de instrumentos musicais e onde somente
os Salmos são entoados, não existe coerência. Os Salmos são cantados, porém com
músicas e métricas geradas por mentes de cristãos que viveram milênios após a
escrita dos textos bíblicos e as letras são adaptações, para se enquadrar na
métrica. Isso sem falar que a tentativa é de uma liturgia neo-testamentária,
que, na parte da música é totalmente dependente do Antigo Testamento – pois lá
é que encontramos os Salmos. Nessas igrejas, todas as palavras dos Salmos devem
ser cantadas com fervor, mas se encontramos aqueles trechos que falam dos
instrumentos musicais temos que ignorar tanto o texto como a eles, e
considerando-os parte de uma outra era – dá para perceber alguma incoerência
nisso? Recorrer, portanto a um exame aprofundado, complexo e possivelmente
infrutífero, na definição e aplicabilidade do “princípio regulador”, não
responderia a questão, traria outras à tona e é uma reflexão necessária que tem
que ser levada a cabo em outra arena. Preferi, portanto, responder o assunto
dentro do direcionamento geral que temos nas escrituras e do senso comum que
Deus nos concedeu, em vez de invocar nossas raízes históricas.
Quando
procuramos na Palavra de Deus não encontramos restrição ou classificação
intrínseca de ritmos, como existindo os que são “maus”, e os que são “bons”.
Sei que inúmeros livros têm sido escrito, no campo evangélico, sobre as raízes malévolas
de certos ritmos e é certo que os ritmos estimulam as pessoas a diferentes
estados de espírito, mas permito-me desconfiar das conclusões supostamente
científicas e das conexões traçadas por tais trabalhos. Na maioria das vezes
temos apenas uma coletânea de opiniões pessoais e ilações infundadas. Às vezes,
somos levados à dedução de que o único cântico admissível na igreja seria,
preferencialmente, o gregoriano, de alguns séculos atrás, sem muita variação
musical ou harmonia.
A
realidade é que a Bíblia parece aceitar a utilização de ritmos na adoração. Com
certeza existiam os Salmos “mais agitados” e os “mais lentos’.
Independentemente
de tratarmos de “liturgia do VT” ou “do NT”; do templo, da sinagoga ou da
igreja primitiva, Deus permanece o mesmo e o seu agrado/desagrado não deve ter
sido modificado na Nova Aliança. Assim, qualquer investigação sem idéias
preconcebidas, verificará que instrumentos diversos e variados foram utilizados
pelos fiéis e aceitos por Deus, na adoração de sua pessoa.
Como
já frisamos, entretanto, independentemente da letra, existe uma empatia entre
melodia e ritmo, e o estado de espírito provocado nos cantantes/adoradores. Ou
seja, um ritmo agitado em uma hora de contrição é uma contradição de bom senso
(algo há muito perdido em nossas igrejas). Não deveríamos precisar de uma
profunda exposição teológica para substanciar isso. Um ritmo lento, ou em tom
(clave) menor, numa ocasião de festa, de acampamento, por ocasião de uma
caminhada, é também uma contradição de bom senso. Quando esse julgamento é
quebrado, na igreja, faz-se também violência aos que estão sinceramente
procurando adorar. O Salmo 33.3 nos orienta a cantar “com arte” (qualidade,
propriedade, musicalidade, harmonia) e “com júbilo” (entusiasmo). Isso nos
indica que intensa qualidade musical deve ser objetivada no louvor a Deus e,
por outro lado, que é um erro equacionarmos espiritualidade, com um cântico
“morto” destituído de entusiasmo, sem o envolvimento de todo o nosso ser.
A
maioria dos Salmos possui títulos que grande parte dos eruditos bíblicos
considera como sendo parte do texto original. Essa conclusão ocorre não somente
porque se encontram nos manuscritos mais antigos, como também porque muitos
estão incorporados ou intrinsecamente ligados ao texto, mas também porque
outros livros bíblicos (Exs.: 2 Sm 22 e Habacuque 3) trazem tanto salmos como
os seus títulos em seus textos inspirados. No livro dos Salmos, os títulos,
muitas vezes, classificam aqueles cânticos quanto às diferentes ocasiões nas
quais deveriam ser entoados. A indicação parece ser a de que existiam melodias
e ritmos próprios para cada situação, por exemplo: “cântico de romagem
[marcha]” (Salmo 120); “salmo didático, para cítara” (Salmo 53); “para
instrumento de corda” (Salmo 4); “para flautas” (Salmo 5). Cada dirigente de
música ou líder eclesiástico, em nossas igrejas, deveria levar essa questão em
consideração utilizando a massa cinzenta que Deus lhes deu para discernir os
ritmos apropriados e impedir aberrações na liturgia.
No
que diz respeito à letra, as Escrituras dão considerável ênfase à linguagem dos
cânticos. Em Efésios 5:19, a força da prescrição está na comunicação que os
cânticos devem apresentar: “falando
entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e
cânticos espirituais”.
Ou
seja, é totalmente destituído de valor o cântico no qual não existe
concentração na letra, ou quando esta não reflete os ensinamentos da Palavra,
ou quando é entoado mecanicamente, só pelo ritmo ou melodia. A passagem
paralela, em Colossenses 3:16, também enfatiza o aspecto de comunicação e
exortação através dos cânticos, sempre fundamentados na Palavra de Deus (ou,
como traz o texto, na Palavra de Cristo): “Habite, ricamente, em vós a palavra
de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria,
louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em
vosso coração”. Não resta dúvida, pois,
que as letras, ou as palavras, devem refletir os ensinamentos bíblicos e
comunicar coisas inteligíveis aos participantes. Hinos, corinhos, cânticos que
não comunicam ou que têm palavras antigas, anacrônicas, obsoletas, obscuras ou
hebraismos / helenismos desconhecidos dos que cantam e/ou ouvem -- fogem à
característica bíblica da adoração, na qual a comunicação é parte
importantíssima. Vale a pena, portanto, perguntarmos, será que todos sabem,
mesmo, o que é El-Shadai? E o que deveríamos pensar do “...lá, lá, lá, lá...”
tão freqüente nos cânticos contemporâneos? Estão comunicando o que?
O
grande problema contemporâneo que encontramos, acredito, reside em dois pontos
cruciais: (1) Um anacronismo enrustido de uns – esses acham que algo para ser
bom, cristão e próprio tem que ser velho e maçante; (2) Uma ingenuidade
gratuita de outros, que, se deixada ao bel-prazer, vira arrogância e descaso
pelo bem estar espiritual dos demais irmãos. Esses demonstram desconsideração
para com a sanidade estética, mental e auditiva dos fiéis. Esses ingênuos
arrogantes, aceitam QUALQUER RÍTMO, desde que “cristianizado” ou “biblicizado”
– como sendo legítimo e apropriado a qualquer hora. O mais aberrante é a
mistura indiscriminada de ritmos, um atrás do outro, sem uma direção ou
conceito maior de que o objetivo global é levar os fiéis aos diversos estágios
de adoração com transição suave e racional, entre um momento e o seguinte. É
nesse sentido que o momento de “louvor” torna-se, para muitos, uma verdadeira
“hora da tortura”. É verdade que muitos participam ativamente, mas são
inconseqüentemente liderados por dirigentes que não colocaram o mínimo esforço
na seleção e verificação do que seria cantado, e nem se preocuparam na
adequação dos cânticos com o momento, ou local. Isso sem falar na existência de
verdadeiras “trash gospel songs”, que não passariam no mais brando teste de
qualidade musical, sob qualquer critério, mesmo o secular, não evangélico.
Em
outras palavras, a tônica atual é de espontaneidade, como se espontaneidade
fosse sinônimo de “espiritualidade”. Nem a rigidez estéril e cadavérica é
“espiritual” nem a aleatoriedade desregrada.
A ênfase bíblica nos levará mais para uma liturgia planejada e
estruturada de adoração a Deus, do que um desenvolvimento aberto, definido “na
hora”. Mas, nos dias de hoje, o momento de louvor é levado como se fosse uma
hora independente de “vale tudo” divorciado dos demais aspectos do culto.
Reconhecemos que, às vezes, pastores e líderes criteriosos se preocupam com as
palavras dos cânticos. Isso é bom e necessário, mas não é o suficiente. Quem
está fazendo a seleção e a adequação dos ritmos (não me refiro a banir marcação
rítmica, pura e simplesmente, como já qualifiquei acima)? Quem está preocupado
com a qualidade musical? Quem está selecionando os cantores (normalmente, canta
quem quer ou se auto-impõe, quer tenha voz, quer não)? Quem está orientando os
líderes da “hora do louvor” para que sejam líderes de cânticos (se têm
competência para tal) e não fontes de sermões, puxões de orelha em irmãos de
cabeça branca, ou passíveis de arroubos “espirituais” que, em muitas ocasiões,
contradizem todos os ditames doutrinários da denominação que os abriga? Quem
tem a mão no botão de controle do volume? É necessário que toda a congregação
tenha de ficar refém e à mercê da sub-sensibilidade auditiva de alguns?
Acredito
que podemos ser consideravelmente abrangentes na nossa aceitação de ritmos e
melodias. Creio que podemos louvar a Deus de muitas maneiras e formas,
expressando toda a variedade recebida dele, em nossa formação cultural e
nacional. Mas louvor é coisa séria e essas questões acima não podem
simplesmente ser ignoradas. Muitas igrejas não deixariam um pastor qualquer
subir no seu púlpito e pregar um sermão aos fiéis. Exigem preparo, referência,
anos de seminário, aprovação por um presbitério, tutores, orientadores, testes,
etc. Mas escancaram as portas para o doutrinamento e a palavra de autoridade
advinda de pessoas que podem até estar cheias de sinceridade, mas igualmente
repletas de inexperiência e falta de preparo para orientarem doutrinariamente o
povo de Deus.
Uma
outra questão, que tem que ser aferida, é a utilização de músicas conhecidas
com letras evangélicas. Sabemos que isso ocorre nos hinos, de uma forma geral.
Por exemplo, nosso antigo hino: “Da linda pátria estou, bem longe...” é uma
canção folclórica Norte Americana, bem como o Hino No. 113: “Achei um bom
amigo”. Assim, muitos outros hinos nossos procedem do folclore de outras
nações; a música Italiana “Sole Mio” já serviu para várias versões de hinos.
Entretanto, quando a música utilizada é contemporânea demais, é impossível
divorciar a letra original do que está sendo cantado. Por exemplo, já cantei várias
vezes, em diversas igrejas, a letra de “glória, glória, aleluia...” com a
música de “Asa branca”. “Casa” direitinho – a métrica é idêntica. Só que toda
vez que canto só me lembro de “Asa Branca” e de Luiz Gonzaga. Dita o bom senso
que essa situação não conduz à plena adoração. Só essa constatação bastaria
para mostrar que não é sábio trasladar músicas contemporâneas, de outras
canções, para cânticos eclesiásticos. Mas existe ainda uma falta de gosto
total, de propriedade, de sabedoria e de avaliação do ridículo com
transmutações na qual a associação é com ritmos e músicas que têm uma letra ou
mensagem, às vezes, até imoral, sendo totalmente impossível o cântico sem a
lembrança do original, corrompendo, em vez de edificar. Tal é o caso do “Segura
o Tcham” que recebeu letra “evangélica”, na Bahia, como “Segura o Cão”. Parece
brincadeira mas é verdade, ainda que tenha sido em uma “Igreja Universal”. Da
forma como se encaminham as coisas, qualquer hora dessas essa moda chega no
nosso meio.
Realmente,
a questão de ritmos não é uma questão na qual a Bíblia legisla claramente. Cada
um de nós, portanto, tem que formar a sua própria opinião, sempre procurando os
valores maiores expressos na Palavra de Deus, em nossos relacionamentos
pessoais, sem nunca esquecer a primazia da verdade clara sobre nossas
conclusões pessoais. Por último, existe um outro aspecto de nossa liturgia que
merece ser levantado. Alguém, em algum lugar, decidiu (e não extraiu da
Palavra) que os cânticos não podem estar mesclados com os diversos passos da
liturgia, mas devem ser cantados de uma só vez, na chamada “hora de louvor”.
Mais sério ainda, alguém achou que só se pode louvar a Deus em cânticos se
estivermos em pé. Apesar de já ter dobrado o cabo da boa esperança, não estou
tão velho assim, mas confesso que é difícil e me canso de ficar em pé 20, 30,
às vezes 45 minutos seguidos, entre tentativas de concentração de Louvar a Deus
afastando os pensamentos pouco santos contra o inventor que me obrigou a tal
tortura. Hinos podem ser cantados sentados; mas “cânticos espirituais”, só
podem ser entoados de pé. Alguém sabe quem legislou isso? Mereceria termos uma
palavrinha com ele...
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